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Quais os principais desafios da RAM para 2019?

Prevejo para a Região Autónoma da Madeira (RAM), não apenas para 2019, como para os anos mais próximos, dois grandes desafios: i) consolidação de um modelo de desenvolvimento económico baseado na informação e no conhecimento; ii) transposição e implementação prática de programas de sustentabilidade.
16 Janeiro 2019, 07h15

Em resposta a este repto lançado pelo Económico, prevejo para a Região Autónoma da Madeira (RAM), não apenas para 2019, como para os anos mais próximos, dois grandes desafios: i) consolidação de um modelo de desenvolvimento económico baseado na informação e no conhecimento; ii) transposição e implementação prática de programas de sustentabilidade.

Primeiro, a consolidação de uma economia baseada na informação e no conhecimento é uma realidade à qual não nos podemos alhear. Com efeito, a partir de 1970 e pela primeira vez na história económica e social da humanidade, mais de metade da população americana, referência para o mundo ocidental, passou a viver da criação, manipulação ou venda de informação. Este facto evidencia, claramente, que o modo de produção económica deixou de basear-se na tradicional fabricação (como acontecia anteriormente na sociedade industrial) ou, ainda, mais atrás na história, a produção baseada na extração de recursos (como sucedia na economia agrícola), para passar a assentar na criação e no processamento de informação. Logo, atualmente o trabalho é realizado a partir da informação, sendo esta também a principal fonte de criação de valor e riqueza da Nações.

Na prática, a informação está a ser encarada e tratada como uma commodity, sendo atualmente transacionada e bem paga. Nada mais é como anteriormente, onde a informação era vista como um recurso público, acessível, ou mesmo grátis, disponível para consulta em qualquer universidade, biblioteca ou organismo do Estado.

Este modelo económico assente na informação e no conhecimento carateriza-se por algumas mudanças, designadamente: a) a alteração do determinismo económico – onde uns fenómenos económicos determinavam os outros – para o determinismo cultural, na medida em que as mensagens amplamente disseminadas com recurso às novas tecnologias de informação e comunicação, impõem novos significados, diferentes, ou mesmo opostos, à intenção original. b) a relutância das pessoas em aceitarem as leis e verdades, alegadamente, universais, uma vez que os entendimentos locais, particulares e subjetivos, são importantes ou subjetivamente válidos. Ou seja, constata-se não existirem verdades absolutas, sendo que o que pensamos e dizemos depende muito das nossas experiências. Por sua vez, estas estão relacionadas com os grupos a que pertencemos, com a comunicação social que lemos, assim como com a família que nos educou, ou, ainda, com a escola que frequentamos e assim sucessivamente.

Neste contexto, evoluímos para um aprofundamento significativo da sociedade de informação, que está a impor um modelo de fragmentação cultural, através da qual grupos, ou mesmo indivíduos, muito diferentes personalizam a sua própria informação e a sua experiência cultural. Desta forma, as pessoas compartilham cada vez menos, fragmentando por completo as culturas. Por outras palavras, os vários tipos de grupos expressam as suas ideias próprias através dos mais diversos canais de tecnologia de informação e comunicação, tornando a sociedade cada vez mais concentrada em grupos e pontos de vista específicos, procurando afirmar uma identidade própria. Destarte, uma sociedade menos massificada e adepta das tendências gerais.

Segundo, a questão da sustentabilidade é particularmente evidente em ilhas turísticas, como é o caso da RAM. Na realidade, há uma necessidade premente de conciliar a proteção dos ecossistemas com o desenvolvimento socioeconómico, por forma a garantir a qualidade de vida, tanto das comunidades locais, como dos visitantes.

Embora reconheça que existe na RAM a consciência da necessidade do desenvolvimento sustentável e haja boas intenções por parte das Autoridades Regionais, não significa que a sustentabilidade esteja a ser transportada e implementada na prática. Na realidade, a implementação depende de uma estratégia de turismo social e ecologicamente responsável a todos os níveis, público e privado, envolvendo produtores/prestadores e consumidores. Quer isto dizer que a sustentabilidade não depende apenas das Autoridades Regionais, mas antes de um conjunto alargado de stakeholders, os quais devem subscrever e comprometerem-se com a estratégia da sustentabilidade Regional. Em particular nos territórios insulares, existem condições ideais para se tornarem em laboratórios de estudos holísticos, onde a biodiversidade e os ecossistemas únicos podem promover um alto grau de inovação e empreendedorismo em várias domínios, muito especialmente no turismo, o setor mais competitivo e relevante para a Região.

Tudo isto, faz ressaltar a importância das instituições de ensino superior, particularmente da Universidade da Madeira (UMa) no futuro da RAM. De facto, a UMa reúne um conjunto alargado de professores, investigadores e autores, entre outros produtores primários de informação e conhecimento, o que torna a instituição potencialmente num dos principais propulsores do desenvolvimento económico e social, por conseguinte na maior fonte de criação de valor e riqueza para a RAM.

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