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Ramalho: Haverá redução de pessoas e uma alteração de perfis na banca com IA

“Dentro do sistema financeiro vai haver redução de pessoas e alteração profunda dos perfis e ainda bem que assim é, porque isso vai satisfazer acionistas, mas sobretudo vai colocar essas pessoas no mercado e é preciso que pessoas da banca vão para as empresas”, defendeu o gestor.
20 Março 2024, 15h06

António Ramalho defendeu hoje em Lisboa no pequeno-almoço de debate no âmbito da publicação de um “Special Report” estará nas bancas com o Jornal Económico a 22 de março, que a estratégia está acima do talento no “road map” da introdução da Inteligência Artificial na banca.

A prestação de serviços da banca vai assistir à substituição direta de muitas funções por aplicação imediata de inteligência artificial, referiu António Ramalho.

“Dentro do sistema financeiro vai haver redução de pessoas e alteração profunda dos perfis e ainda bem que assim é, porque isso vai satisfazer acionistas, mas sobretudo vai colocar essas pessoas no mercado e é preciso que pessoas da banca vão para as empresas”, defendeu o gestor.

O potencial da Inteligência Artificial (IA) no Sector Bancário foi o tema do debate.   A alteração nas profissões bancárias, é uma das consequências da IA.

“Desde Basileia II que os modelos de determinação analítica do nível do risco e do capital a ele alocado, aquilo que é o core da atividade bancária, foram evoluindo para processos cada vez mais preditivos e cada vez mais determinantes do sistema de capitalização, o que determinava o principio de que quanto mais capacidade analítica mais eficazmente identificariamos a solução provável. Com o embaratecimento da tecnologia assocociada a uma capacidade infinita de leitura de dados era normal que esta experiência progressiva e analitíca fosse determinando maior capacidade preditiva, parte dela transferida para os clientes, e parte dela transformando a atividade bancária numa actividade mais próxima da atividade seguradora, passando a afectar “upfront” montantes de capital adstritos ao risco de cada modelo. Ora isto levaria a uma progressiva intervenção do regulador, que com a Inteligencia Artificial resultaria numa uniformização acelerada. Então a partir de 2025 teriamos os bancos a fazerem todos o mesmo. Mas este cenário central não vai acontecer porque o mundo não é perfeito”, disse António Ramalho.

As áreas centrais onde a IA vai ser uma componente absolutamente decisiva, são o retalho, o corporate, processos, risk management e relação com o regulador, defendeu o chairman da Touro Capital Partners e ex-CEO do Novobanco.

“Estamos a viver o momento do investimento”, disse Ramalho que acrescentou também que com a análise preditiva do Machine Learning qualquer banco hoje consegue saber o risco de crédito à habitação nos próximos 20 anos. “A Europa será líder, porque na banca de retalho os Estados Unidos são um fraco player”, referiu o gestor.

“A função da banca é comprar é vender risco”, sublinhou António Ramalho que rejeita a tese que a banca tenha a função da transferência de poupança para investimento.

Com o Machine Learning e com a IA Generativa a banca vai perder a vantagem da visão global do sistema.

O sucesso da indústria bancária está na redução do custo, defendeu o ex-CEO do Novobanco.

Ramalho acrescentou que “os operadores da oferta estão condenados porque o mercado está todo na procura, até ao nível da política”, do ponto de vista da percepção antecipada da procura e da resposta adequada.

O chairman da Touro Capital Partners acrescentou que “somos fracos ao nível da Internet da Coisas do ponto de vista de serviços bancários”, que lembrou o obstáculo da proteção de dados.

António Ramalho na sua intervenção acrescentou que depois da pandemia, com a aceleração do digital na banca, “quem mais perdeu foram os ATM, não foram os balcões”.

No painel composto por António Ramalho, chairman da Touro Capital Partners e ex-CEO do Novobanco, Maria António Saldanha, Country Manager da Mastercard, Ricardo Chaves, diretor do Centro de Excelência em Inteligência Artificial do BPI, Ruben Germano, diretor geral da Revolut em Portugal, Rui Gonçalves, sócio responsável de ‘Technology Consulting’ da consultora KPMG Portugal discutiu-se a IA no Sector Bancário.

Uma das conclusões que atravessou todos os participantes no painel que debateu a IA no sector bancário, é que a estratégia vem primeiro, como disse Ricardo Chaves, Diretor do Centro de Excelência em Inteligência Artificial do BPI. Tem de haver uma estratégia do banco de como quer adoptar a IA. Outra coisa importante é que nisto da IA não acontece tudo em todo lado e ao mesmo tempo.  É um caminho, não acontece de um dia para o outro.

Na fase das perguntas e respostas Mário Trinca, Head of Alvarez & Marsal Portugal, levantou o tema de como fazer os reguladores conseguirem adoptar tempestivamente toda a transformação que está a correr? Como exemplo deu o deep learning que é uma black-box, e “os supervisores não aceitam black boxes”, disse.

Os modelos de machine-learning podem ser de vários tipos, alguns dos quais são denominados de “black-box”, porque têm camadas em que não se consegue explicar como a entrada de dados, resulta em um determinado output. Exemplos destes tipos de modelos são: modelos de deep learning, modelos random forests, máquinas de vetores de suporte.

Esse termo (black box) refere-se a modelos complexos que, mesmo sendo muito eficazes, não oferecem uma explicação clara ou transparente sobre como chegaram a um determinado resultado.

Já António Ramalho, levantou o tema regulatório da alteração dos “fit & proper” (avaliação de gestores) que passam a ser determinantes.

O gestor lembrou ainda que todo o modelo de supervisão assenta na responsabilização individual e por isso “vamos ter desafios enormes em relação ao arquétipo jurídico da responsabilidade”. António Ramalho disse mesmo que “corremos o risco de a Inteligência Artificial se adaptar mais depressa ao regulador do que o regulador à IA”.

Qual o valor que a IA está a criar para o acionista? Foi uma das questões deixadas no debate, e resposta foi o impacto na redução de custos e na rentabilidade.

António Ramalho foi peremptório, “há uma grande vantagem para shareholders e stakeholders, que é o time-to-market, que vai acelerar, ou seja, ser mais rápido no mercado”.

 

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