O Fórum para a Competitividade alerta para o recurso dos portugueses à poupança de forma a contrariar a perda de rendimento que estão a viver, uma situação que tem sustentado o consumo interno, mas que não se afigura como sustentável. Ao mesmo tempo, o desemprego tem vindo a flutuar, deixando antever um aumento do indicador até ao final do ano, um fenómeno que a Agenda do Trabalho Digno não contribui em nada para diminuir.
A nota de perspectivas empresariais referente ao segundo trimestre salienta o crescimento esperado para a economia nacional este ano, que representará uma desaceleração clara em relação aos 6,7% do ano passado. O Fórum projeta entre 2% a 3% este ano, sublinhando que, ao contrário da generalidade das economias da zona euro, Portugal irá desacelerar este ano.
Ainda assim, o consumo tem aguentado melhor a redução do rendimento disponível do que era previsto, em grande parte devido ao recurso às poupanças acumuladas durante a pandemia. A taxa de poupança no segundo trimestre deste ano recuou para mínimos de 2017, valor “que já era o segundo menor dos últimos 23 anos”, realça Pedro Braz Teixeira, diretor do gabinete de estudos do Fórum e autor da nota.
“Ou seja, as famílias estão a tentar contrariar a queda de rendimento disponível com a diminuição da poupança, um movimento que não é sustentável”, explica a nota. Para este ano, e com o rendimento das famílias pressionado pela subida de custos em várias vertentes e sem perspectivas de recuperação, não é expectável que o consumo apresente uma dinâmica forte.
Por outro lado, e apesar da resistência do sector produtivo à subida dos juros, o desemprego tem flutuado nos últimos meses, crescendo inicialmente a um ritmo muito superior ao esperado e lançando algumas dúvidas sobre a rigidez historicamente elevada do mercado de trabalho nacional. Seguiu-se uma ligeira recuperação, deixando Pedro Braz Teixeira questionando se “podemos estar em presença de uma resposta desfasada ao bom momento da economia no primeiro trimestre, que deverá abrandar em breve”.
“Em 2022, a taxa de desemprego chegou a descer abaixo das estimativas da taxa natural de desemprego (entre 6% e 7%), tendo registado uma média de 6,0%, o limite inferior daquele intervalo, pelo que seria quase inevitável haver uma ligeira subida daquele indicador. Com o crescimento do PIB esperado para 2023 e 2024, deverá registar-se uma ligeira subida da taxa de desemprego como, aliás, já se verificou”, projeta.
Esta é uma dimensão na qual a recém aprovada Agenda para o Trabalho Digno não ajuda, ao apenas adicionar burocracia e rigidez no mercado de trabalho sem contrapartidas positivas em troca, nomeadamente mais proteção dos trabalhadores ou competitividade da economia, considera o Fórum.
“Infelizmente, com esta Agenda, o emprego e as empresas não vão ficar melhor, a precariedade não diminuirá, os salários não vão crescer visivelmente, os jovens não vão deixar de emigrar e a competitividade da nossa economia continuará estagnada. Fica tudo mais ou menos na mesma, com um pouco mais de rigidez e burocracia”, remata a nota, apontando ao acréscimo de custos para as empresas e a inflexibilidade de algumas normas (que podem até ser inconstitucionais, como no caso da proibição imposta ao empregador de recorrer a outsourcing depois de um despedimento coletivo ou por extinção do posto de trabalho).
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