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Respostas Rápidas. Entre os lucros de 2022 e o plano de reestruturação, qual o futuro da TAP?

Companhia aérea voltou a apresentar lucros após cinco anos de prejuízos avultados e dois anos antes do previsto no plano de reestruturação. No entanto, a aterragem ainda não é segura e a TAP tem pela frente vários desafios.
21 Março 2023, 15h42

Depois de cinco anos a voar sobre uma ‘nuvem negra’ a TAP voltou a apresentar resultados positivos em 2022 e dois anos antes do previsto no plano de reestruturação da companhia aérea portuguesa. No entanto, são vários os desafios que a empresa tem pela frente.

Quais foram os lucros apresentados pela TAP?

A TAP apresentou lucros de 65,6 milhões de euros em 2022, uma melhoria evidente face ao prejuízo recorde de 1,6 mil milhões de euros atingidos no ano anterior. O lucro líquido apresentado esta terça-feira pela companhia aérea representa um aumento de 1.664,7 milhões de euros em relação ao ano anterior.

Já as receitas da companhia atingiram 3.485 milhões de euros, 151% acima do ano fiscal de 2021, juntamente com um nível de atividade mais elevado (ASK aumento 94,2% neste período).

O lucro antes de juros e impostos (EBIT) da TAP em 2022 foi positivo, tendo atingido 268,2 milhões de euros, sendo que os itens não recorrentes chegaram aos 19,4 milhões de euros. Em 2017, o último ano em que a TAP conseguiu dar lucro, a companhia aérea teve um resultado líquido positivo de 23 milhões de euros.

Em quanto aumentaram as despesas com o pessoal?

No último trimestre do ano, os gastos com o pessoal fixaram-se em 122,4 milhões de euros, enquanto no trimestre homólogo esse valor tinha sido 78,4 milhões de euros. Assim, trata-se de um crescimento de 56,2% ou seja, cerca de 44 milhões de euros.

Já no total do ano, o custo com os trabalhadores aumentou 11,6%, numa diferença de 43,3 milhões de euros em relação a 2021. No total do ano passado, a TAP gastou 416,7 milhões de euros, quando tinha gasto 373,4 milhões no ano anterior.

Quais foram os gastos com o combustível?

Os custos operacionais da companhia aérea registam um aumento de 73,4% em 2022 face ao ano anterior, para um valor total de 3.236,2 milhões de euros.

Revela a empresa detida pelo Estado que este indicador resulta num lucro antes de juros e impostos (EBIT) positivo de 248,8 milhões de euros, um aumento de 726,7 milhões de euros, ou seja, 4,7 vezes o montante no ano fiscal de 2019.

Quantos passageiros foram transportados pela TAP em 2022?

A TAP transportou 13,8 milhões de passageiros em 2022. Este valor representa um aumento de 136,1% face a 2021 e uma evolução de 81% em relação a 2019, ou seja, antes da pandemia.

Quanto ao número de voos operados em 2022, o número também aumentou de forma significativa face a 2021: aumento de 74,9% face a essa período e atingiu 79% dos níveis pré-crise.

O que disse Christine Ourmières-Widener sobre os resultados?

A CEO da TAP, considera que os resultados de 2022 apresentados manhã pela companhia aérea foram “históricos”, tendo em conta os “contínuos desafios operacionais”. “Durante o quarto trimestre de 2022, a TAP foi capaz de gerar as receitas trimestrais mais elevadas da sua história e uma rentabilidade recorde, apesar dos contínuos desafios operacionais”, afirmou Christine Ourmières-Widener.

A CEO destaca que durante o primeiro ano completo do Plano de Reestruturação, a TAP gerou um lucro operacional que é um recorde histórico para a empresa. “A TAP gerou também um lucro líquido positivo muito forte, tendo em conta o seu nível de alavancagem”, salientou.

O que dizem os economistas?

O economista João Duque espera que estes números possam representar uma mudança de paradigma na gestão da companhia aérea.

“O que se espera é que estes resultados sejam o início de uma forma diferente de gerir a empresa”, afirmou em declarações à SIC Notícias, que não é este volume de resultados que permite remunerar convenientemente o capital que está sob a gestão da TAP, nem para recuperar dos prejuízos anteriores.

“Se este ano conseguiram 65 milhões de euros de resultado, só pensando no anterior em que tiveram mais de 1,5 mil milhões de prejuízo, é preciso quase 20 anos para recuperar os acumulados. Não é este o volume de resultados que permite dar uma sustentabilidade a uma companhia que se pretende até privatizar. Não consigo vender uma companhia com um investimento da natureza que tem, para remunerar com resultados desta grandeza”, explicou o economista.

Quais os desafios que a TAP tem pela frente?

A companhia aérea abordou em comunicado um desafio que tem sido transversal a todas as companhias que operam em Lisboa: o crónico congestionamento do Aeroporto Humberto Delgado.

Outro desafio é “uma concorrência com capacidade para investir”. As companhias low-cost Ryanair e EasyJet têm sido os principais concorrentes diretos da companhia aérea de bandeira, significando que a TAP tem vindo a perder lugar de importância.

Com a inflação a reduzir nos primeiros meses do ano, a TAP espera agora que os custos inerentes às operações comecem a cair.

A companhia aérea pede ainda novos Acordos de Empresa por classe de trabalhador (Colective Labour Agreement – CLA) mais competitivos e insiste que estes acordos são “críticos” para o futuro. Por exemplo, só no caso dos tripulantes, o atual acordo vigora até 2026.

A empresa quer renegociar estes Acordos de Empresa e ontem chegou mesmo a pré-acordo com os pilotos, entregando-lhes melhores condições de trabalho.

A TAP quer ainda que a cash-flow seja seguida atentamente, sendo que esta é uma forma de melhorar as operações e que a empresa continue a apresentar lucro nos próximos anos. Outro desafio é reduzir a dívida e equilibrar o saldo contabilístico, pagamento todos os endividamentos e obrigações pendentes.

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