É preciso recuar até ao sueco Olof Palme – morto em 28 de fevereiro de 1986 por razões que ficarão para sempre obscuras – para se encontrar um primeiro-ministro de um país europeu que tenha sido alvo de uma tentativa de assassínio (no caso, bem-sucedida). O mundo ficou, por isso, estarrecido com a tentativa de assassínio, com cinco tiros disparados à queima-roupa, do primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, que ganhou as eleições no final do ano passado.
O governo, pela voz do ministro do Interior, apressou-se a alegar motivações políticas. Matús Sutaj-Estok disse que as informações iniciais “apontam claramente para uma motivação política”. E acusou “jornalistas e políticos de “espalharem o ódio nas redes sociais”. O ministro disse ainda que a Eslováquia sempre foi conhecida como “um país de pessoas que são tolerantes e que aceitam outras opiniões. O que aconteceu é um estigma que nos assombrará por muitos anos. E acrescentou: “é o momento mais triste nos 31 anos de história da Eslováquia. Um ataque ao primeiro-ministro é um ataque à democracia. É um ataque ao próprio Estado”.
Mas, segundo avança a imprensa do país, não é claro que as motivações sejam políticas. Até porque o perfil do previsível autor dos disparos não encaixa no quadro tradicional dos autores de tentativas políticas de assassínio. O suspeito é descrito como sendo um homem de 71 anos, ex-segurança de um shopping, autor de três coleções de poesia e membro da Sociedade Eslovaca de Escritores. É detentor de uma licença de porte de arma, disse a agência de notícias Atkuality.sk, que citou o seu filho: “não tenho absolutamente nenhuma ideia do que o meu pai pretendia, o que ele planeou, o que aconteceu”, disse.
Os analistas que optaram pelas teorias da conspiração chamam a atenção para o facto de Robert Fico ser um político pró-russo – que vê com muitas reservas a forma como a União Europeia – e o seu país antes da sua chegada à chefia do governo – apoia sem contraditório a Ucrânia. A vitória de Fico nas eleições de outubro do ano passado dá conta de que, para todos os efeitos, as suas motivações pró-russas são do agrado de um grande número de eslovacos – ou não teria ganhos as eleições, dado que nunca escondeu as suas preferências.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, já elogiou o primeiro-ministro eslovaco, tendo-o descrito como “um homem corajoso e de mente forte” e desejou-lhe uma “recuperação rápida e completa”. Em telegrama à presidente cessante da Eslováquia, Zuzana Caputova, Putin disse que “não há justificação para esse crime monstruoso. Conheço Robert Fico como um homem corajoso e de mente forte. Espero sinceramente que estas qualidades o ajudem a sobreviver a esta situação difícil”.
Mas Putin foi um dos muitos que reagiu aos acontecimentos – em o seu homólogo norte-americano foi mesmo mais lesto. O gabinete de Joe Biden divulgou um comunicado no qual o presidente diz estar “alarmado” ao ouvir os relatos do ataque a Robert Fico. E acrescentou: “condenamos este horrível ato de violência. A nossa embaixada está em contato próximo com o governo da Eslováquia e pronta para ajudar”.
De qualquer modo, segundo os jornais do país, a haver uma motivação política, ela resultaria do facto de há pouco mais de um mês o candidato apoiado pelo governo de Robert Fico ter ganhou as eleições presidenciais na Eslováquia. Considerado um candidato pró-russo, Peter Pellegrini, venceu as eleições com 54% dos votos à segunda volta. Aliado próximo de Robert Fico, Pellegrini prometeu proporcionar ao povo eslovaco uma “melhor, mais segura e melhor qualidade de vida”. Pellegrini sublinhou a intenção de “permanecer do lado da paz”, referindo-se a um dos temas-chave da campanha eleitoral: o apoio à Ucrânia. Pellegrini, tal como Fico, é muito cético em relação a esse respeito.
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