O Kremlin denunciou ataques do exército ucraniano contra instalações de energia na região de Kuban (um centro de armazenamento de petróleo) como sabotagem dos acordos firmados no dia anterior entre os presidentes Vladimir Putin e Donald Trump, considerando, segundo o secretário de imprensa do presidente russo, Dmitry Peskov, que está posta em causa a suspensão ‘contratada’ por um período de 30 dias.
“Certamente”, disse Peskov, respondendo a uma pergunta sobre se os ataques contra a infraestrutura de energia russa são vistos como sabotagem e uma tentativa de interromper os acordos firmados entre os dois presidentes. “As informações já estavam amplamente disponíveis no comando do presidente russo, [sobre o término dos ataques contra instalações de energia ucranianas pelo período de 30 dias] no momento do lançamento desses ataques. O regime de Kiev não fez nada para cancelá-los. Portanto, tais ações definitivamente vão contra os esforços comuns” da Rússia e dos Estados Unidos, enfatizou Peskov, citado pela imprensa do seu país.
Autoridades na região de Krasnodar, no sul da Rússia, disseram que um ataque de drone ucraniano causou um incêndio num depósito de petróleo perto da vila de Kavkazskaya. O depósito é um terminal ferroviário para fornecimento de petróleo russo aos oleodutos que ligam o Cazaquistão ao Mar Negro.
Mas a Ucrânia também denunciou novos ataques da Rússia. Zelensky disse que os ataques contínuos mostram que as palavras de Moscovo não condizem com as suas ações no terreno e que a Rússia não está pronta para a paz, afirmando que os Estados Unidos deveriam ser encarregados de monitorizar qualquer cessar-fogo acordado. O Kremlin disse que cancelou ataques planeados à infraestrutura energética da Ucrânia, incluindo o abate de sete drones da própria Rússia que se dirigiam à Ucrânia. De qualquer modo, foi realizada uma troca de prisioneiros (175 de cada lado) entre os dois beligerantes, promovida como uma medida de construção de confiança.
Sem serem explícitos sobre se a chamada teve ou não a ver com a alegada ‘sabotagem’ do acordo do dia anterior, os jornais ucranianos e norte-americanos deram conta de que Trump e o presidente do país, Volodymyr Zelensky, mantiveram uma conversa telefónica de uma hora para discutirem o alinhamento das “solicitações e necessidades” da Rússia e da Ucrânia. “Acabei de concluir uma ótima ligação telefónica com o presidente Zelensky da Ucrânia. Durou aproximadamente uma hora. Grande parte da discussão foi baseada na ligação feita ontem com o presidente Putin para alinhar a Rússia e a Ucrânia em termos de suas solicitações e necessidades”, disse Trump, após a conversa.
Europa renitente
Alguns líderes europeus disseram que a rejeição de Putin à trégua total proposta por Trump é prova de que Moscovo não quer a paz. A oferta de parar temporariamente os ataques a instalações de energia vale pouco e Trump teria que conseguir maiores concessões, disse o ministro da Defesa da Alemanha. “Ataques à infraestrutura civil na primeira noite após esse suposto telefonema crucial e grandioso não diminuíram”, disse Boris Pistorius.
Mas outros aliados estavam mais esperançosos. O telefonema foi “um primeiro passo, veremos quando as negociações começarem”, disse o ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, observando que os lados concordaram em discutir propostas de trégua em reuniões na Arábia Saudita.
Uma fratura transatlântica “tornaria a Rússia mais forte. Não lhes vamos dar isso”, afirmou por seu turno a chefe da diplomacia da União Europeia em entrevista à agência Euronews. “A Rússia quer ver os Estados Unidos e a Europa divididos. Não vamos dar-lhes isso”, disse Kaja Kallas. E enfatizou que não existe “nenhuma separação” entre Bruxelas e a administração Trump, apelando a que ambas as partes se mantenham unidas face à agressão russa na Ucrânia.
Kallas afirmou ainda que as conversações atuais são “diplomacia de vaivém” e que a Europa terá um lugar à mesa quando se iniciarem as negociações formais para um acordo de paz. “Neste momento, trata-se de diplomacia de vaivém. Ainda não existe uma mesa de negociações. Mas estamos a tentar perceber em que ponto se encontram as partes”, afirmou, um dia depois da suspensão temporária de 30 dias dos ataques às infraestruturas energéticas da Ucrânia.
Questionada sobre a sua resposta ao telefonema entre Putin e Trump, Kallas respondeu: “É muito bom ver como estas coisas estão a correr. Trump foi claro ao afirmar que a ajuda à Ucrânia não foi discutida. Putin disse que foi discutida. Prefiro confiar em Trump do que no presidente Putin”, explicou Kallas. De acordo com relatos da conversa oriundos do Kremlin, Putin exigiu que o ocidente suspendesse o fornecimento de ajuda militar à Ucrânia como condição prévia para o cessar-fogo limitado de 30 dias. Trump afirmou mais tarde, numa entrevista à Fox News, que a ajuda militar “não foi discutida”.
Conselho volta a debater a Ucrânia
O Conselho Europeu, que reúne esta quinta e sexta-feira, regressa ao tema da Ucrânia – ao mesmo tempo que colocou a economia na agenda. “Os dirigentes da UE reunir-se-ão em Bruxelas para debater a competitividade e dar seguimento à reunião extraordinária do Conselho Europeu de 6 de março para analisar os acontecimentos mais recentes na Ucrânia e as próximas etapas em matéria de defesa. A continuação do nosso apoio à Ucrânia, a necessidade de investir na nossa defesa e a nossa competitividade estão estreitamente interligados”, refere nota oficial assinada por António Costa.
O próximo quadro financeiro plurianual (QFP), a migração, os acontecimentos mais recentes no Médio Oriente, o multilateralismo e outras questões mundiais estão também na ordem do dia. À margem da reunião, realizar-se-á uma Cimeira do Euro “em formato inclusivo”.
Face a conclusões anteriores, nomeadamente as de abril de 2024, da Declaração de Budapeste sobre o novo pacto para a competitividade e das recentes propostas da Comissão sobre a Bússola para a Competitividade, o Pacto da Indústria Limpa e os pacotes de simplificação, “o debate dos dirigentes acerca da competitividade centrar-se-á em três domínios prioritários: a simplificação, a energia e a União da Poupança e dos Investimentos. Neste contexto, debaterão igualmente: a inovação, a renovação e a descarbonização do setor industrial; a aquisição, o reconhecimento e a retenção de competências; os setores automóvel e do aço e metais”, diz ainda a mesma nota.
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