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Alexandre Abrantes, Hospital da Cruz Vermelha: “Sem o setor privado, a ADSE não existe”

Num dia conturbado na relação entre a ADSE e os privados, o Jornal Económico falou com Alexandre Abrantes, presidente do Conselho de Administração do Hospital da Cruz Vermelha.
13 Fevereiro 2019, 07h30

A Luz Saúde vai deixar de prestar serviços ao abrigo da ADSE a partir de 15 de abril, apurou o Jornal Económico esta terça-feira. Depois da José de Mello Saúde, a dona dos hospitais CUF, ter anunciado o cancelamento com a ADSE, também a empresa dona do Hospital da Luz, em Lisboa, vai cancelar os contratos.

Em causa estão 38 milhões de euros que a ADSE considera terem sido cobrados a mais pelos privados (e que a ADSE exigiu de volta no final de 2018). O número de beneficiários da ADSE é de cerca de 1,2 milhões de pessoas. Todos os atos que venham a ser marcados, a partir de hoje [segunda-feira], para data posterior [a 12 de abril], deixarão de poder ser realizados ao abrigo do regime convencionado.

Num dia conturbado na relação entre a ADSE e os privados, o Jornal Económico falou com Alexandre Abrantes, presidente do Conselho de Administração do Hospital da Cruz Vermelha.

Como é a relação do Hospital da Cruz Vermelha com a ADSE?

O Hospital da Cruz Vermelha é um parceiro privilegiado por duas razões: porque os beneficiários da ADSE representam 15% dos nossos doentes e por outro lado porque o Hospital da Cruz Vermelha tem uma grande tradição com os governantes, os presidentes, os militares, os funcionários públicos. Por outro lado, a ADSE tem interesse em ter alguns prestadores com a reputação que tem o Hospital da Cruz Vermelha para oferecer aos seus beneficiários e portanto, creio que existe aqui um interesse mútuo em estabelecer uma parceria mais estreita do que aquela que temos tido até hoje. Apesar de ser um número importante, consideramos que 15% de doentes provenientes da ADSE é um número relativamente baixo.

Já houve negociações da Cruz Vermelha com a ADSE no sentido de se tornarem prestador preferencial.

Já tentámos fazer um contrato com a ADSE no sentido de nos tornarmos ‘first provider’, ou seja, de prestador preferencial, sendo que até chegámos a entrar em negociações. Estávamos a pensar em duplicar a proporção de doentes da ADSE, em criar canais especiais para doentes com este convénio mas essas negociações fracassaram umas vez que as tabelas de reembolso que a ADSE nos paga, neste momento, até são negativas para grande parte das prestações que damos. Portanto, nós não somos um hospital para dar muito lucro mas temos de ser sustentáveis e de ter margens positivas e as margens que nos dão neste momento são negativas. Até lhe digo, se nos dessem as tabelas que nos dá o IASFA  – Instituto de Acção Social das Forças Armadas ou até as tabelas que pagam ao setor privado, nós já conseguíamos fechar negócio com eles. A ADSE tem uma vantagem sobre outros seguros uma vez que pagam atempadamente, pouco, é verdade, mas pagam na hora. Gostaríamos de ter um acordo preferencial com eles.

Com esta quebra do convénio, como encara o futuro da relação entre privados e ADSE?

Esperemos que a ADSE ganhe ‘jogo de cintura’ para fazer os acordos necessários com o setor privado porque sem o setor privado, a ADSE não existe. Os beneficiários da ADSE, para ir ao Serviço Nacional de Saúde, não precisam de pagar 3,5% do seu salário. A ADSE precisa dos bons prestadores de saúde privados e estes precisam de mais de um milhão de beneficiários da ADSE. Há espaço para que todos ganhem com o negócio mas neste momento existe uma grande crispação nas negociações à volta do setor da saúde, que não são específicas da ADSE mas a ADSE também tem mostrado alguma dificuldade de encontrar os pontos comuns e que beneficiariam as duas partes.

 

 

 

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