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Senhora IB em Portugal defende uma educação para a paz

Maria do Rosário Empis, neta do homem que edificou o Estoril e tinha uma paixão pela educação, é uma das fundadoras da Oeiras International School, a primeira escola em Portugal a lecionar os quatro programas do International Baccalaureate em contínuo. Que também ensina a retribuir à comunidade.
26 Maio 2019, 19h00

“É sonho atrás de sonho que se torna realidade”, diz-me Maria do Rosário Empis, Chari, como carinhosamente a tratam alunos, pais e professores, alma mater da OIS, instituição que ajudou a criar e dirige na freguesia de Barcarena, concelho de Oeiras. Maria do Rosário, licenciada em Matemática Pura, é a mentora do projeto pioneiro do ensino conjunto do inglês e da matemática para o IB – Primary Years Programme (IB-PYP), em conjunto com o matemático André Lopes, que trocou outras opções pela OIS.

A partir de setembro, a OIS será a primeira escola em Portugal a ter certificação nos quatro programas do International Baccalaureate Organization (IBO), com o lançamento da seção do PYP, o único que ainda não oferecia (tinha apenas o PYP 5 então chamado IB – Middle Years Programme (IB-MYP) Zero. “Temos os professores, temos o projeto, temos tudo”, acrescenta. Sobretudo têm os alunos. Com o PYP, o próximo ano letivo terá mais uma centena de alunos, elevando assim o total da OIS para 440. Este crescimento vai fazer com que o projeto educativo passe a funcionar em dois polos: Quinta da Nossa Senhora da Conceição e antiga escola Manuel Vaz, em Barcarena, requalificada para o efeito.

O PYP já está “cheio”. As inscrições abriram e fecharam num ápice. Porquê? “Na nossa escola, a capacidade máxima é de 16 alunos por sala de aula, porque o desenvolvimento do aluno a isso obriga. Acreditamos que cada aluno é um génio numa determinada área e se não o ajudarmos a descobrir qual é, isso quer dizer que falhámos”, explica. Sapere Aude, a alegria de aprender, é o mote da OIS.

Permitir essa descoberta e ensinar a “dar de volta à comunidade” constituem os 10 princípios fundamentais do IB (IB learner profile). Como exemplo aponta o atual melhor aluno a Matemática, que também se revelou ótimo ator na peça de teatro do Natal. A seguir sublinha: “Os alunos, por terem a sorte de estar nos programas IB, têm de aprender a retribuir à comunidade. Este é um princípio basilar. Aliás, “chumbam” por muito boas notas que tenham se não o fizerem”, explica.

Há apenas um senão, e Maria do Rosário admite-o. É um sistema de ensino caro. Embora o IBO – Madrid esteja a promover com a ajuda dos municípios de Cascais e Oeiras, o IB-PYP para escolas públicas.

A serviço do IB

Há cerca de 30 anos, quando os filhos mais velhos frequentavam o St. Julian’s, a primeira escola IB em Portugal, Maria do Rosário Empis integrou o grupo de pais que aí impulsionou o início do ID Diploma. Pouco depois foi chamada pelas Irmãs Dominicanas Irlandesas para restruturar o St. Dominic’s, onde introduziu os três programas de IB existentes à data: PYP, MYP (Middle Years Programme) e DP (Diploma Programme). No final da primeira década do novo século saiu e criou com três dezenas de fundadores a OIS – Oeiras International School, ASFL em março de 2010.

Começaram na Fundição de Oeiras, com o MYP Programme e o IB Diploma, e 50 alunos. O então presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, revelou-se um interlocutor disponível, propondo que tomassem conta das ruínas em Barcarena da fábrica de um belga ligado à prospeção de petróleo em África, onde, no século XVII, Filipe II de Espanha – Filipe I de Portugal – construíra um palácio. Aí nasceu o campus atual da OIS, que é o que de mais parecido há com uma escola inglesa: um belo edifício totalmente restaurado, que mantém a traça original, com jardim e piscina, pomares e terrenos onde pachorrentos póneis pontuam a paisagem.

O espaço ocupado pela escola é, apesar de tudo, pequeno para acomodar o sonho de aí integrar todo o projeto educativo IB idealizado pelos 30 fundadores. “Não começámos o PYP por falta de instalações, mas começámos o IBCP (International Baccalaureate Career-related Programme) em 2013, graças a uma parceria com a Escola Profissional Val do Rio”, explica. Esta parceria permitiu o lançamento do programa IB de vertente vocacional, que forma para as profissões, mas que também dá acesso às universidades do mundo inteiro e permite obter o nível IV europeu.

“Muitas vezes, os alunos estão indecisos ou não sabem o que estudar quando acabam o ensino secundário, mas se tiverem feito o IBCP podem tirar um gap year e até trabalhar um ou dois anos até se definirem e depois irem para a universidade”, observa.

O IBCP nasceu no seio da organização do International Baccalaureate na sequência de um relatório da consultora McKinsey, segundo o qual a educação se tornara demasiado académica e desfazada das necessidades das empresas. “Estávamos a formar pessoas na área ‘x’ e as empresas precisavam de profissionais na área ‘y’”, diz, justificando a explosão que atualmente se vive nos EUA e no resto do mundo, em geral, em torno deste programa. Encontrar equilíbrios e saídas profissionais tem de ser uma prioridade num mundo cada vez mais complexo e com profissões que se extinguem a grande velocidade.

O sonho de Piaget

Maria do Rosário Empis tem também raízes em Espanha. Ao seu avô materno Fausto de Figueiredo, grande industrial nascido em 1880, se deve a edificação do Estoril e as suas principais joias turísticas: os hotéis Palácio e Parque, o Tamariz e o Casino. Chari cresceu na Suíça, país onde nasceu o International Baccalaureate. “Em 1946, o sonho de Jean Piaget e dos seus discípulos, era criar um programa educativo para uma geração que colaborasse num contexto de paz”, conta. Naquela altura, estavam a nascer as Nações Unidas, a Organização Internacional do Trabalho e o CERN, e eram necessárias pessoas para estas instituições e escolas para os seus filhos No entanto, só 20 anos depois é que o sonho se tornou realidade. “Sabe como foi…? – pergunta-me – foi a Fundação Gulbenkian que atribuiu uma bolsa ao Alex Petterson (na altura apenas o DP), que era investigador em Oxford, para que fizesse os conteúdos deste programa, que veio a nascer em 1968”.

Em Portugal, duas décadas mais tarde, Roberto Carneiro liderou a reforma educativa que levou à criação das escolas das escolas profissionais. “Pedro da Cunha, o seu secretário de Estado, também tinha um sonho”, revela. “Era fazer a reforma educativa com o sistema IB. Ainda tentou, mas sem êxito porque na altura os programas de IB só podiam ser lecionados em inglês, francês ou espanhol” (as 3 línguas oficiais)”. Atualmente para o IB-PYP e IB-MYP já pode ser usada a língua do país, desde que o coordenador/a seja fluente num dos três idiomas do IBO.

Chari congratula-se com o facto de haver duas escolas públicas que vão lançar o programa IB-PYP, uma na vizinha Abóbada, concelho de Cascais, e outra em Carnaxide, no concelho de Oeiras. Quanto mais escolas IB, melhor. Nunca gostei de ser a única”, diz, com a determinação e a alegria de quem defende, hoje e sempre, que a educação é a ferramenta mais importante para a construção de uma cultura mais humana e universalista.

Artigo publicado no “Educação Internacional” do Jornal Económico a 10-05-2019

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