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“Setor da habitação precisa de uma revolução e de coragem política”, diz managing director da CBRE

Francisco Horta e Costa considera que é necessária uma mobilização transversal de todos os partidos para resolver os problemas que subsistem ano após ano na construção de casas em Portugal.
28 Janeiro 2025, 07h00

Licenciamentos, preços das casas ou custos de construção. Três temas e problemas que os players ligados ao setor da habitação em Portugal pretendem ver solucionados e que, no entender de Francisco Horta e Costa, passam por uma resposta eficaz e conjunta do Estado.

“O setor da habitação precisa de uma revolução e de coragem política para resolver os problemas que subsistem ano após ano”, refere o managing director da consultora CBRE em entrevista ao Jornal Económico (JE).

Sobre os licenciamentos de que todos se queixam “amargamente”, o responsável destaca que em Portugal há câmaras de facto que conseguem ser muito mais ágeis do que outras, mas que “infelizmente” esse não é o caso de Lisboa, onde a demora nos processos começa a ser um problema grave,

“Há investidores que não repetem o investimento em Lisboa e querem sair para outros municípios”, afirma, salientado que tal facto não é necessariamente um problema e que vê como positiva a descentralização de investimento, mas de um modo geral é um problema que precisa de ser resolvido de uma vez por todas.

Um passo importante que Francisco Horta e Costa considera ter sido dado é o Simplex. “Não se pode voltar atrás. Tem que se fortalecer tudo o que sejam medidas de simplificação e de agilização no licenciamento, porque em qualquer promoção imobiliária, quanto mais tempo passa, mais se reduz a rentabilidade desse investimento”, sublinha.

Outra solução, que se for bem aplicada pode ser ajudar a resolver o problema da habitação, é a lei dos solos, no sentido em que pode trazer mais casas para as classes que mais precisam  no curto prazo.

“Mas o curto prazo no imobiliário é sempre longo porque não é estalar os dedos e construir um edifício. Demora tempo a licenciar, a construir e não vamos conseguir resolver esse problema em dois dias”, afirma o responsável da CBRE, realçando que é preciso uma mobilização política transversal a todos os partidos para que se consiga resolver este problema.

“Não é o Estado que tem que construir habitação”

A falta de oferta face à elevada procura é outro dos problemas que mais preocupa o setor imobiliário. Francisco Horta e Costa defende que também aqui o Estado tem uma palavra a dizer, dado o património que tem na sua posse e pode ser transformado em habitação.

“Há muitos terrenos nas mãos das câmaras, nas mãos de entidades estatais. Há muito património militar que hoje em dia é relativamente obsoleto naquilo que possam ser as necessidades militares no século XXI”, refere.

A deslocação destas infraestruturas pode também ajudar outras zonas mais periféricas dos grandes centros urbanos do ponto de vista económico. Para que o modelo funcione, Francisco Horta e Costa considera importante a participação do setor privado.

“Não é o Estado que tem que construir habitação. O Estado tem que saber trabalhar com os privados, que têm capital e vontade para construir essa habitação. Vemos que isso é possível porque acontece noutros países com muito maior celeridade”, sublinha, enfatizando que em Portugal somos muito hábeis em complicar, e a criar burocracia. “Temos que, de uma vez por todas, aprender a simplificar e a ser mais objetivos”, afirma.

“Seguramente que o Governo seria capaz de descer o IVA”

A descida do IVA de 23% para 6% na construção tem sido um dos principais cavalos de batalha do setor imobiliário, mas que o Estado tarda em conseguir resolver.

Nesse sentido, Francisco Horta e Costa recorda que o Executivo desceu o IVA nos supermercados quando foi preciso e que “seguramente o Governo seria capaz de descer o IVA na habitação”.

Também neste aspeto o responsável defende que é preciso vontade política, realçando que era preciso garantir que essa descida do IVA era efetivamente refletida nos preços.

“O setor teria seguramente muito a beneficiar e mais tarde ou mais cedo iríamos ver o resultado do tão apregoado aumento da oferta que é essencial para as pessoas terem uma habitação”, sublinha.

O diretor da CBRE considera ser muito importante que a oferta aumente, mas também é importante haver foco no lado da procura no sentido do poder de compra.

“Portugal está a viver um momento económico favorável e positivo. Temos que fazer também com que a economia cresça para as pessoas terem mais poder de compra, para ir de encontro a esses preços da habitação que podem vir a descer nalgumas zonas, podem vir a ser mais competitivos se houver mais terrenos disponibilizados para construir habitação”, salienta.

A tudo isto junta-se a importância do aumento salarial e da progressão nas carreiras dos portugueses, para que através dessa via possam comprar uma habitação que avisa Francisco Horta e Costa, “não vai voltar nunca aos preços de há dez anos, sejamos realistas”.

Questionado sobre o impacto que o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) pode ter no mercado imobiliário, o responsável acredita que as verbas vão ser muito canalizadas para habitação pública, produzida e construída por entidades estatais.

“Quando digo que o Estado tem que trabalhar com os privados para construir habitação, estamos a falar para construir habitação em grande escala e de uma forma absolutamente transversal no país. A penetração de habitação pública ou de habitação social em Portugal é muitíssimo baixa comparada com outros países e também tem que crescer, e aí os fundos do PRR podem desempenhar um papel importante”, conclui.

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