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Sheldon Adelson: O dinheiro por trás de Donald Trump

Nasceu pobre e cresceu a fazer dinheiro. De ascendência judia, tem negócios nos mesmos setores que Donald Trump, de quem é o maior financiador em dinheiro vivo.
16 Setembro 2018, 11h00

Nasceu no Dorchester, o Dot, um bairro pobre no sul de Boston, no Massachusetts. Filho de pais de ascendência judia – o pai judeu ucraniano, taxista, e a mãe judia lituana, modista –, começou a trabalhar aos 12 anos, já no final da II Grande Guerra, depois de pedir 200 dólares emprestados a um tio para comprar uma licença de venda de jornais. Muitos anos mais tarde, em 2015, tornou-se o maior financiador registado de uma campanha eleitoral nos Estados Unidos, depois de doar o equivalente a 25 milhões de euros para a campanha eleitoral do candidato Donald Trump, quantia que fazia parte de um ‘bolo’ bem maior, de 65 milhões, com que financiou o próprio Partido Republicano, de que faz parte.

Chama-se Sheldon Adelson, é o 21º homem mais rico do mundo, segundo a lista de bilionários da Forbes, de 2018. Tem uma fortuna avaliada em 38,5 mil milhões de dólares (cerca de 32,9 mil milhões de euros), que vêm, principalmente, do Las Vegas Sands, e tem enorme influência na Casa Branca – que continua a financiar, segundo a imprensa norte-americana – e é a conexão entre Washington e Telavive, capital de Israel.

Adelson é tido por vários comentadores – entre eles Eva Illouz, professora de sociologia na Universidade Hebraica de Jerusalém – como o homem que está por trás dos avatares da política diplomática da Casa Branca em relação a Israel, que tanto brado tem dado e que colocou Donald Trump em conflito com quase todo o mundo depois de decidir unilateralmente (em relação à ONU) aceitar Jerusalém como a capital unicamente de Israel. Mas não só. A longa mão de Adelson também se fez sentir no caso do Irão. Já desde antes do acordo nuclear assinado por Teerão e por seis países ocidentais, entre os quais os Estados Unidos, o magnata judeu insistia que o país devia impor ao Irão a sua vontade de forma determinada e recorrendo a palavras de violência – que deviam ser, dizia, a imagem do que os Estados Unidos seriam capazes de fazer se Teerão não se comportasse dentro de cânones aceitáveis. Por outras palavras: o Irão deveria desfazer-se de todo o arsenal militar e científico que lhe permitia atingir a produção de bombas atómicas, sob pena de se tornar o alvo real de uma ogiva, mas de produção norte-americana. Só que, os tempos não estavam de feição para posições de tanto vigor linguístico, e Barack Obama, o anterior presidente norte-americano, acabou mesmo por impor um acordo – até que o seu sucessor, novamente motivado por Adelson, decidiu rasgar toda aquela papelada que considerou inútil e regressar – contra todos os outros países assinantes do acordo – à virulência do discurso da desordem.

Mas quem é esta personagem que consegue tomar de assalto a Casa Branca? É um empreendedor, um self made man. Aliás, na lista da Forbes dos self made men, Sheldon Adelson aparece na 12ª posição.

Reza a lenda que, depois do primeiro negócio da venda de jornais, Adelson volta a solicitar ao tio um novo empréstimo, desta vez mais avultado, de dez mil dólares, para iniciar um projeto de máquinas de venda de doces. Concretizado este, rapidamente passaria para um negócio de venda de kits de higiene e, depois, lançou-se na venda de um produto chamado De-Ice-It, um spray químico para ajudar a limpar os para-brisas congelados dos automóveis nos invernos rigorosos.

Foram os seus quatro primeiros negócios de mais de 50 que foi lançando ao longo da vida – já longa de 85 anos – que lhe valeram duas bancarrotas e uma mão cheia de parceiros de negócio, a maioria deles suficientemente devota para lhe colocar nas mãos capital de investimento.

Mas todos estes empreendedorismos acabaram por parecer meras brincadeiras (as rampas de lançamento) quando Adelson chegou aos negócios que realmente dão dinheiro que se veja: o imobiliário, a construção e, especialmente, o jogo – afinal, os mesmos setores que igualmente elevaram Donald Trump à condição de multimilionário.

Depois de alguns anos a negociar na área das novas tecnologias, Adelson e os seus parceiros compraram (em 1988) o Sands Hotel and Casino em Las Vegas, onde Frank Sinatra gostava de se hospedar. No ano seguinte, construíram o Sands Expo e o Centro de Convenções. Em 1991, arrasou o Sands e gastou 1,5 mil milhões de dólares (cerca de 1,2 mil milhões de euros) para construir o The Venetian, um hotel, resort e casino que tem como temática Veneza, Itália. Em 2003, ao Venetian acrescentou a torre Venezia, com mais 1.013 quartos. O complexo tem, no total, 4.049 suítes, 18 restaurantes e um shopping center com canais, gôndolas e gondoleiros cantores). Las Vegas no seu melhor.

No final da década de 2000, Adelson decidiu construir um resort e casino em Bethlehem, Pensilvânia. É um dos cinco casinos independentes que receberam uma licença do Conselho de Controlo de Jogos da Pensilvânia em 2006. O casino foi inaugurado em 22 de maio de 2009.

 

A aventura asiática

A meio da década, chegou a aventura internacional. Em Macau, como dificilmente poderia deixar de ser. O Sands Macau, com um milhão de metros quadrados, tornou-se o primeiro ao estilo de Las Vegas da República Popular da China, quando abriu em maio de 2004. Segundo a revista Forbes, a fortuna pessoal de Adelson multiplicou-se 14 vezes depois do investimento em Macau.

Em agosto de 2007, Adelson abriu o Venetian Macao Resort Hotel – um investimento de 2,4 mil milhões de dólares (cerca de dois mil milhões de euros) –, ainda no antigo território português, a que acrescentaria o Cotai Strip, tendo ainda em vista explorar na região as marcas Four Seasons, Sheraton e St. Regis – num total de 12 mil milhões de dólares (cerca de 10,2 mil milhões de euros) de investimento, para uns impressionantes 20 mil quartos.

Em maio de 2006, mais uma aventura oriental: o Las Vegas Sands recebeu uma licença para construir um resort e casino na Marina Bay, em Singapura. O casino foi inaugurado em 2010 e teve um custo de 5,5 mil milhões de dólares (cerca de 4,7 mil milhões de euros) e inclui lojas, um centro de convenções, várias piscinas, discotecas e 2.500 quartos de luxo.

O Marina Bay diz-lhe alguma coisa? Claro: foi aí que decorreu a cimeira entre Donald Trump e Kim Jong-un, em junho passado.

 

A aventura israelita

Em 2007, Adelson fez uma tentativa frustrada de comprar o jornal israelita “Maariv”. Não o conseguiu, mas não desistiu: passou a publicar um jornal diário gratuito para competir com o “Israel”, um jornal que ele próprio havia fundado em 2006, mas que já deixara para trás. A primeira edição do novo jornal, o “Israel Hayom”, foi publicada em 30 de julho de 2007.

Os fracassos não costumam afetar o magnata: muitos anos depois, em março de 2014, Adelson recebeu o aval de um tribunal de Jerusalém para finalmente comprar o “Maariv” e, já agora, também o jornal conservador “Makor Rishon”.

As suspeitas, as acusações, os desmentidos e a posterior confirmação de que, através dos jornais, Adelson tem “metido a mão” na política israelita vieram rapidamente a terreiro. Os jornais do magnata são acusados de “levarem ao colo” o atual primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e de contribuírem de forma concertada para a criação de uma envolvente que torne as políticas do governo – comummente consideradas de direita radical, quando não mesmo extremistas – aceitáveis por um número cada vez maior de israelitas. Só que o primeiro-ministro não se livrou de ver o seu nome manchado por causa das suas ligações aos jornais de Adelson: enfrenta vários processos em tribunal, respondendo a acusações de corrupção passiva e de ajuda económica em negócios privados.

A política de Adelson em Israel teve as suas ‘pontes’ para os Estados Unidos. A partir de novembro de 2017, o magnata tomou posse do Conselho Israelo-Americano, tendo declarado que a organização deveria tornar-se basicamente um grupo político de lóbi em questões relacionadas com Israel.

Criado em 2007, o Conselho é uma organização norte-americana sem fins lucrativos, que representa mais de 250 mil israelitas-norte-americanos em todo o país e a sua missão é, ou era inicialmente, preservar e fortalecer as identidades israelitas e judaicas junto das gerações futuras, fortalecer a comunidade judaica norte-americana e fortalecer o relacionamento entre os cidadãos dos Estados Unidos e do Estado de Israel.

Repetidamente acusada de não ser mais que um poderoso lóbi de interesses israelitas nos Estados Unidos e de contribuir, por um lado, para a causa de Israel e, por outro, para denegrir até ao limite do possível a causa palestiniana, o Conselho passou, a partir de 2017, a ser a organização judaica que mais cresce no mundo e, pela mão de Adelson, a ser de facto um poderoso lóbi com definitivas intenções de fortalecer a política de Netanyahu. Alguma dúvida de que a “mão” do Conselho esteve por trás da decisão da Casa Branca em aceitar Jerusalém como a capital apenas de Israel? Nenhuma.

Pai de três filhos adotados, aos 85 anos Sheldon Adelson ainda tem em mãos projetos importantes: não só quer continuar a “governar a Casa Branca”, como quer acabar com o seu grande concorrente nos negócios: o jogo online. Possivelmente, a segunda tarefa será bem mais difícil que a primeira.

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