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Sines prevê investimento de 1.330 milhões

Ampliação do Terminal XXI será assumida nas próximas semanas, com extensão da concessão à PSA. Com o terminal Vasco da Gama, capacidade em contentores vai chegar aos 7,8 milhões de TEU por ano.
10 Março 2019, 14h45

O porto de Sines voltou a bater recordes na movimentação de contentores em 2018, com uma variação homóloga de 5%, para 1,75 milhões de TEU (medida-padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento). Em temos de carga global, houve um decréscimo de 4%, para 47,9 milhões de toneladas, em resultado das paragens técnicas da refinaria de Sines e do complexo petroquímico da Repsol e, ainda, do decréscimo na produção de carvão.

Em entrevista ao Jornal Económico, José Luís Cacho, presidente da APS – Administração dos Portos de Sines e do Algarve, revela os projetos de desenvolvimento do porto alentejano, que passam pela ampliação do terminal XXI e pelo lançamento do concurso para um novo terminal de contentores, o Vasco da Gama. Está também prevista a duplicação da capacidade do terminal de GNL – Gás Natural Liquefeito, o reforço da capacidade do terminais de granéis líquidos e a construção de um novo terminal multiusos, incluindo a valência ro-ro, que poderá funcionar como uma alternativa ao porto de Setúbal. Um plano ambicioso que prevê um investimento global de cerca de 1.330 milhões de euros, entre público e privado.

Qual o balanço que faz da atividade do porto de Sines em relação ao exercício de 2018?

2018 foi um ano em que o porto de Sines continuou a crescer na carga contentorizada, cerca de 5%, face ao ano precedente. O porto de Sines também cresceu nas cargas de GNL. Estas cargas são duas apostas estratégicas para o crescimento do porto nos próximos anos e ainda bem que cresceram em 2018. Têm sido elas que têm sustando o crescimento do porto de Sines.

Mas houve outras mercadorias que registaram decréscimos no porto de Sines em 2018…

Sim, registámos quebras de cargas nos granéis líquidos e nos granéis sólidos. No caso dos granéis líquidos, como os combustíveis fósseis, ou dos granéis sólidos, como o carvão, isso foi certamente uma má notícia para o porto de Sines, mas uma boa notícia para a economia nacional, porque significa que houve um maior consumo de energias renováveis.

Qual é o ponto da situação do projecto de ampliação do terminal de contentores XXI?

A Ministra do Mar aprovou por despacho a constituição de uma comissão de negociação do contrato com a concessionária PSA. Neste momento, decorre a fase de negociação para responder ao pedido da PSA para fazer um investimento que duplicasse a capacidade do terminal.

A PSA exige mais anos de concessão como contrapartida pelo investimento? Já se sabe a extensão do prazo de concessão?

Ainda não é possível. Mas penso que a comissão de negociação está na fase final de negociações. A_PSA_Sines apresentou uma proposta de investimento para duplicar a capacidade do terminal, passando de 2,1 milhões de TEU para cerca de 4,3 milhões de TEU. A prorrogação do prazo de concessão é uma das contrapartidas exigidas pela PSA. O contrato atual de concessão tem duração até 2029. Atualmente, o terminal  XXI tem mil trabalhadores e pode duplicar os postos de trabalho com esta expansão.

Tem ideia de quando é que poderão estar concluídas essas negociações e arrancar com o investimento no terreno?

Espero que todo este processo de negociações decorra no mais breve espaço de tempo possível. Esperemos que isso seja possível de concretizar até ao final deste mês ou daqui a um mês.

Quais os valores actualizados do investimento previsto para a ampliação do terminal XXI?

Está previsto um investimento de cerca de 300 milhões de euros por parte do concessionário privado.

E qual será a componente de investimento público, a realizar pela APS?

Está previsto um investimento público de cerca de 75 milhões de euros por parte da APS, essencialmente para o prolongamento dos molhes de proteção. A APS irá ainda investir mais 10 milhões de euros para reforço da rede elétrica, mais 8,4 milhões de euros na melhoria do ramal ferroviário e mais 4,8 milhões de euros para agilização das condições de despacho de contentores, apoiados por fundos comunitários e capitais próprios.

E em relação ao projeto de investimento no novo terminal de contentores Vasco da Gama?

É um projeto em que estamos a preparar o processo de concurso, que será apresentado em breve ao Governo, para depois prosseguir o respectivo processo legislativo. Só depois disso é que se poderá proceder à abertura de um concurso público internacional.

Qual o investimento previsto para o terminal Vasco da Gama?

Está previsto um investimento de cerca de 600 milhões de euros por parte do futuro concessionário privado.

E qual a parte de investimento público que terá de ser suportado pela APS?

A APS terá de investir cerca de 220 milhões de euros, essencialmente para construção e prolongamento dos molhes. Deste montante, cerca de 75 milhões de euros serão para o projeto do terminal XXI e os restantes, cerca de 150 milhões de euros, para o terminal Vasco da Gama, para investimento nos molhes de proteção e nas acessibilidades rodoferroviárias terrestres.

Qual o prazo para este projeto arrancar?

A documentação sobre o projeto será apresentada ao Governo nos próximos dias. Depois, o processo legislativo irá durar um ou dois meses, mas é impossível adiantar previsões mais certas.

Existem muitos interessados no terminal Vasco da Gama?

Há vários interessados, nomeadamente entidades americanas, chinesas, asiáticas e até europeias.

Qual será a capacidade deste terminal?

O objetivo é ter uma capacidade de movimentação anual de 3,5 milhões de TEU.

Quer dizer que com estes dois projetos, o porto de Sines vai passar de uma capacidade atual de 2,1 milhões de TEU para 7,8 milhões de TEU?

Exato. Isso é mais que triplicar a nossa capacidade atual de movimentação de contentores.

Além destes dois terminais, que outros projetos estão delineados para o desenvolvimento do porto de Sines?

Dentro da estratégia de desenvolvimento do porto de Sines temos previstos investimentos noutros terminais. Em primeiro lugar, está prevista construção de um outro terminal multiusos em Sines, para captação novas tipologias de mercadorias.

Que tipo de novas mercadorias?

Não só novas mercadorias na carga convencional, carga geral, mas também de granéis sólidos, em particular de produtos do setor agroalimentar. Mas também está prevista a realização de obras para criar condições para cargas ro-ro, que até agora só se poderia desenvolver no porto de Sines com grandes condicionantes.

Sines passaria a ser uma alternativa a Setúbal para escoamento de carros da Autoeuropa?

Não sei nem quero comentar esse assunto para esse cliente específico. O objetivo do porto de Sines é, no futuro, passar a dispor de um terminal com capacidade para movimentar carga ro-ro.

Quanto e que tipo de investimento vai exigir este novo terminal multiusos em Sines?

Este será um investimento público e privado. Cerca de 40 milhões de euros por parte da APS para dar condições a este terminal novo, que está candidatado ao programa comunitário 2030. Depois, terá de se abrir um concurso público internacional, onde será selecionado um concessionário. Esse concessionário privado deverá nessa altura ser responsável por um investimento em cerca de 48 milhões de euros para a restante infraestruturação do terminal.

Qual o prazo temporal previsto para avançar com este investimento?

Penso que daqui a quatro ou cinco anos, será possível concretizar este projecto.

Que outros projetos tem vista para o plano de desenvolvimento do porto de Sines?

Pretendemos duplicar o investimento privado no terminal de GNL. Pode ser pelo mesmo concessionário ou por outros concessionários. Também aqui teremos de abrir os procedimentos exigidos por lei para se realizarem os respetivos concursos públicos internacionais. O atual terminal, que teve uma excelente performance em 2018, registando uma variação homóloga de 5,5%, com um total de 2,8 milhões de toneladas movimentadas, ainda não atingiu a sua capacidade instalada. De qualquer modo, o plano de desenvolvimento prevê um novo terminal de GNL quando este estiver esgotado.

Qual o investimento previsto para esta duplicação do terminal de GNL?

Cerca de 45 milhões de euros, de origem integralmente privada.

Já recebeu manifestações de interesse por parte de futuros concessionários, além do atual, a REN?

Recebemos manifestações de interesse por parte de diversos grupos, incluindo de grupos norte-americanos.

Existem infraestruturas suficientes para esta duplicação do terminal de GNL?

Temos espaço, infraestruturas e capacidade suficientes para os postos de acostagem, para a tancagem e para a docagem. Está previsto fazermos mais um posto de acostagem para navios de GNL. Mas além da duplicação do terminal de GNL, pretendemos também expandir a capacidade do terminal de granéis líquidos.

Qual é o objetivo?

Prevemos construir mais um ou dois postos de acostagem para navios do setor de produtos resinados, gasolinas e gasóleos, e /ou para produtos petroquímicos.

Qual será o investimento previsto para esse terminal?

Está previsto um investimento de cerca de 35 milhões de euros, exclusivamente privado, desde que exista interesse de privados.

E esse interesse existe?

Penso que sim.

No caso dos terminais de GNL e dos granéis líquidos, qual o horizonte temporal que prevê para eles se concretizarem?

Penso que também será possível concretizá-los no espaço de quatro a cinco anos.

Como está o projeto de  construção de um posto de abastecimento em Sines para navios movidos a GNL?

Está a ser avaliado com o Ministério do Mar e a DGPM – Direção Geral de Política do Mar o desenvolvimento de um projeto para abastecimento de navios a GNL, que será divulgado a seu tempo.

E quais são os projectos de investimento no segmento logístico?

Na ZAL – Zona de Atividades Logísticas do porto de Sines, gerida pela APS, com 13 hectares, mais 18 hectares de expansão,  temos vindo a receber alguns projetos e manifestações de interesse de alguns investidores para projetos logísticos.

Tendo em conta a futura aposta nas mercadorias do sector agroalimentar, está previsto algum investimento numa estrutura de frio com dimensão?

Temos tido alguns projetos logísticos da área do frio, mas nenhum de grandes dimensões.

E sobre os restantes projetos logísticos?

NA ZILS – Zona de Infraestruturas e Logística de Sines, gerido pela Aicep Global Parques, sei que existem alguns projetos logísticos e industriais de alguns investidores com alguma dimensão.

Investimentos de que setores?

Investimentos do sector da indústria, também alguns da indústria petroquímica. Mas não lhe posso adiantar mais pormenores porque esses processos são geridos pela Aicep.  Posso dizer que existe na ZILS uma capacidade de expansão até 4.200 hectares.

Como tem evoluído a ligação ferroviária ao porto de Sines enquanto não está construída a ligação até ao Caia?

Neste momento, o porto de Sines está a fazer cinco a seis comboios por semana para Espanha, principalmente com as plataformas logísticas de Sevilha, Mérida, Badajoz e, pontualmente, para Madrid. Existem constrangimento na ferrovia, decorrente até da fase de obras para a sua melhoria, mas apesar disso são operados mais de seis mil comboios por ano entre Sines e os diversos portos secos.

Como evoluiu a atividade dos portos do Algarve em 2018?

O terminal de cruzeiros de Portimão continuou a crescer em 2018, ano em que recebeu 36.786 passageiros, o que correspondeu a um crescimento homólogo de 23%. Embora tenha havido um ligeiro decréscimo no que diz respeito ao número de escalas face ao período homólogo, ou seja, menos cinco escalas, os 66 navios que escalaram em Portimão em 2018 foram, em média, de maiores dimensões, já que o GT [gross tonnage ou arqueação bruta] registou uma variação homóloga de 14,7%. Em Portimão, está a ser preparada a melhoria da acessibilidade marítima para criar melhores condições de segurança e de operacionalidade para a receção de navios. Está a ser preparado o processo para obter a Avaliação de Impacto Ambiental e submeter à APA [Agência Portuguesa do Ambiente] no primeiro semestre de 2019. Será um investimento de 17 milhões de euros que irá permitir receber navios de maiores dimensões no porto de Portimão. Já no que respeita ao tráfego de pessoas em ferry, destacou-se o retomar da ligação entre o Continente e a Região Autónoma da Madeira, com 12 escalas recebidas de navios vindos do porto do Funchal, que  transportaram um total de 10.607 passageiros.

Artigo publicado na edição nº 1977, de 22 de fevereiro, do Jornal Económico

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