[weglot_switcher]

SingularityU: “Quando falam em data analytics, as empresas sabem mesmo o que é?”

Esta comunidade educativa voou para Portugal para formar executivos, após uma união de esforços entre a Nova SBE, a Câmara de Cascais e a Beta-i. Em entrevista ao Jornal Económico, o diretor executivo, João Mil Homens, refere que os empresários estão sobretudo preocupados com o desconhecimento e a incerteza adjacente às novas tecnologias.
9 Maio 2019, 11h15

A organização educativa internacional Singularity University (SU) considera que existe um “desconhecimento enorme” das novas tecnologias por parte dos empresários portugueses, que continuam a centrar o investimento no digital apenas na área de marketing, redes sociais e armazenamento na ‘nuvem’.

“Quando se fala de data analytics, o que é que isso quer dizer na realidade? As empresas sabem verdadeiramente? A inteligência artificial pressupõe ter dados mas também capacidade de os processar, com hardware e software. Há que saber definir o que se quer fazer com essa informação e como é que vai rentabilizar as atividades com base nessa tecnologia”, afirma ao Jornal Económico João Mil Homens, diretor executivo em SU Portugal.

Fundada em 2008 por Ray Kurzweil e Peter Diamandis, a Singularity University chegou a Portugal – quarto país parceiro –  por via de uma joint venture entre a Nova SBE, a Câmara Municipal de Cascais e a incubadora Beta-i. É composta por membros destas três instituições, sendo que a sua criação surgiu de um interesse comum em governance e em novos modelos de educação vocacionados para as tecnologias disruptivas. A apresentação oficial no país aconteceu em outubro de 2018, depois de uma cimeira em Carcavelos.

“Enquanto as startups portuguesas estão já a aplicar tecnologias de ponta em certas áreas de negócio para competirem a uma escala global, as empresas mais tradicionais dos setores da indústria e serviços estão agora a enfrentar vários desafios para conseguirem acompanhar o rápido ritmo de crescimento da tecnologia e inovação”, disse o então CEO da SingularityU Portugal, Ricardo Marvão, na altura.

No último semestre, a SingularityU Portugal tem estado a preparar a sua oferta formativa, quer em programas customizados – organizados à medida dos interesses de cada cliente/organização – quer na formação de executivos – com a duração de três dias e unidades curriculares fixas (não personalizáveis, como as anteriores). Neste momento conta com 15 programas customizados agendados até ao final de 2019 com empresas portuguesas de grande dimensão sobretudo nos setores da Energia, dos Seguros e da Indústria.

O responsável pelo braço português da SU refere que se trata essencialmente de empresas que estão “muito atentas à transformação tecnológica que está em curso e que se querem preparar para ela”. Assim, os programas feitos à medida. “Por exemplo, se uma empresa estiver muito preocupada com a mobilidade e os veículos autónomos serão esses os temas que vamos explorar com eles e escolhemos as pessoas [que irão lecionar] em função disso”, explica João Mil Homens, em declarações ao semanário.

O plano dos cursos de formação de executivos, abertos a qualquer participante a nível individual, será apresentado depois do verão: “O objetivo é dar-lhes uma ideia muito transversal do impacto das tecnologias exponenciais em diversas áreas. Vamos ter peritos em inteligência artificial, em robótico, em nanotech… Depois, vamos avaliar o seu efeito na área agroalimentar, da saúde, na segurança, nos transportes… A ideia é que os líderes das empresas possam estar três dias imersos num ambiente onde se vai estar a discutir o impacto da tecnologia nas diferentes áreas da sociedade”, diz.

“O que estamos a verificar é que as pessoas entram preocupadas e curiosas sobre o potencial impacto da tecnologia e saem incrivelmente otimistas e com vontade de mudar, de imaginar soluções. Preocupadas face à incerteza, ao desconhecido. Daí o nosso objetivo de tentar expor um pouco daquilo que pode ser a sociedade face a esta evolução tão rápida”

Segundo o estudo “Maturidade Digital das Empresas em Portugal”, elaborado pela Ernst & Young (EY), os empresários nacionais reconhecem que os impactos da transformação digital são fortes e imediatos e poucos são aqueles que implementaram uma estratégia abrangente neste sentido. A análise da consultora concluiu que a generalidade avalia de forma pouco positiva o seu nível de desenvolvimento de digitalização. Na área da saúde, 72% das empresas assumiram mesmo estar atrasadas ou a par dos concorrentes (ainda que mais 80% se mostre confiante de que vai recuperar esse atraso). Os resultados mais favoráveis registaram-se nos segmentos da Energia e Financeiro, com 27% e 22% de autoavaliações máximas.

“Por um lado, as empresas estão a adotar tecnologias e vêm esse processo com muito otimismo, mas, na verdade, essa transformação digital está focada em coisas que eu considero ainda um pouco superficiais: marketing digital, redes sociais, cloud computing. Não estamos a fazer propriamente de grandes alterações nos processos produtivos nem na criação de novos modelos de negócios. Temos aversão à mudança”, defende João Mil Homens.

Para medir essa mesma maturidade digital de uma empresa, o IAPMEI – Agência para a Competitividade e Inovação instalou uma plataforma online, acessível a todas as indústrias (independentemente do setor, da dimensão e da localização), que permite quantificar o nível de desenvolvimento digital em que se encontram. O «SHIFT to 4.0» é uma “ferramenta de autodiagnóstico [digital]”. “Basta preencher um inquérito, obtendo no final um documento de reflexão, com linhas orientadoras para melhorar o caminho a seguir rumo à Indústria 4.0”, de acordo com esta entidade.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.