O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, confirmou hoje que mandou embora a missão da CEDEAO e afirmou que esta “não voltará nunca mais ao país”.
Uma delegação de alto nível da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental esteve em Bissau de 21 a 28 de fevereiro a ouvir partidos políticos e organizações da sociedade para mediar o diálogo e propor uma saída para a crise.
A delegação deu conta num comunicado que, na madrugada de 01 de março, deixou Bissau sob ameaças de expulsão do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló.
“Eu é que corri (com a missão da CEDEAO) daqui. Sim fui eu”, disse aos jornalistas à chegada ao aeroporto Osvaldo Vieira, em Bissau, depois de uma viagem de uma semana, que o levou à Rússia, Azerbaijão, Hungria e França.
O chefe de Estado guineense entende que a delegação extravasou a missão para que estava incumbida.
O roteiro inicial da missão foi alvo de críticas da oposição por não incluir nas auscultações contestatários do regime, como a coligação API Cabas Garandi ou a comissão permanente da Assembleia Nacional Popular eleita e substituída depois da dissolução do parlamento em dezembro de 2023.
A missão acabou por chamar todas as partes e o Presidente diz que não voltará à Guiné-Bissau “nunca mais”.
“Não voltarão cá nunca mais”, afirmou, acrescentando que não aceita que a missão chegue ao país e “comece a inventar”.
“Este país tem regras. Não é uma república das bananas”, continuou, afiançando “não vão ouvir nada”, numa referência a eventuais sanções por parte da CEDEAO.
A missão teve como propósito ouvir os intervenientes locais para mediar uma solução para a crise em torno das eleições presidenciais e legislativas.
A Assembleia foi dissolvida há mais de um ano e o Presidente completou cinco anos de mandato a 27 de fevereiro, mas entende que este só termina em setembro, data da decisão judicial sobre os resultados eleitorais das presidenciais de 2019.
A Missão da CEDEAO já estava em Bissau e o chefe de Estado anunciou que vai marcar eleições gerais para 30 de novembro, o que reiterou hoje para dizer que não será a missão a impor uma solução.
Sissoco Embaló vincou que as decisões da CEDEAO são tomadas ao nível dos chefes de Estado e que a missão não tem poder de decisão, nem pode “tomar decisão contra Umaro Sissoco Embaló”.
“Eu falo com Putin, Macron, estamos à procura de soluções para os problemas do mundo”, disse.
Sissoco Embaló disse ainda que “nem Trump (Presidente dos Estados Unidos da América) o pode obrigar a fazer um Governo de unidade nacional, que tem sido pedido pela oposição até à realização de eleições.
O chefe de Estado guineense virou-se depois para o primeiro-ministro do Governo de iniciativa presidencial, Rui Duarte Barros, que se encontrava ao lado dele, para lhe dizer que se prepare para organizar as eleições dia 30 (de novembro).
Sissoco Embaló adiantou que esta semana vai convocar todos os partidos políticos e que vai fazer o decreto para convocar as eleições gerais para 30 de novembro.
Embaló referiu-se ainda aos que o passaram a tratar por ex-presidente depois de 27 de fevereiro, escusando-se a fazer comentários à coligação PAI-Terra Ranka, liderada pelo adversário Domingos Simões Pereira, que foi deposta do Governo com a dissolução da Assembleia.
“Não vou dizer isso em relação à PAI -Terra Ranka porque esses sempre falham na estratégia, mas a API (Cabas Garandi) não podia entrar nisso porque são pessoas do meu campo”, declarou.
A API reúne a ala do MADEM-G15, partido fundado por Sissoco Embaló, desavinda com o Presidente.
O chefe de Estado acabou por referir-se a Domingos Simões Pereira, também presidente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), afirmando que “sempre fez teatro”.
“Sequestrou o parlamento durante quatro anos, assaltou a sede do Governo um mês, sequestrou o Supremo, sem que nada acontecesse. Eu não faço isso. Perdeu as eleições (presidenciais) e chamaram-me Presidente autoproclamado até se cansarem. Vão-me chamar mais isso (ex-Presidente)”, afirmou.
O Presidente guineense disse ainda que “há muita gente que nem vai às eleições, uns porque roubaram o dinheiro do Estado e vão pagar esse dinheiro, outros não pagaram impostos e vão ter de pagar”.
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