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Socalco, o ‘hotel mais madeirense’ da Madeira

O Socalco nasceu, em 2020, de um desejo do chef Octávio Freitas, que anos depois (2024) viu o Desarma ser distinguido com uma estrela Michelin. O Socalco, localizado na Calheta, tem casa cheia, explora o conceito do agroturismo. Os principais mercados são estrangeiros com destaque para os Estados Unidos, Suíça, países nórdicos e o Oriente. Os clientes são envolvidos no dia-a-dia do espaço onde aprendem a fazer vinho e pão, por exemplo. 2025 deve expandir o conceito.
Fotografia: Paulo Santos
Fotografia: Paulo Santos
3 Fevereiro 2025, 07h00

Socalco, porção mais ou menos plana de terreno numa encosta, sustida por parede. É este o nome do projeto nascido em 2020 pelas mãos do chef madeirense Octávio Freitas, distinguido em 2024, com uma estrela Michelin pelo restaurante Desarma. Do Socalco, localizado na Calheta, bem perto do mar, diz ser o “Hotel mais madeirense da Madeira”. Tem ocupação cheia e um mercado virado para o cliente estrangeiro e com preços médios que podem variar entre os 250 e os 300 euros por noite. Quem visita a propriedade envolve-se no quotidiano e pode experienciar e experimentar fazer pão, vinho, etc…

Em 2024, refere Octávio ao “Económico Madeira”, o Socalco tinha planos para expandir esta experiência de agroturismo e defende que a Madeira poderia tirar mais proveito de experiências como a que o Socalco dá aos seus clientes.

“O Socalco nasce de um projeto, de um sonho, de uma casa de fim-de-semana. Quando eu comprei aquele terreno não era para desenvolver aquele projeto. Comprei aquele terreno para ser a minha casa. Muito rapidamente nasce a vontade de juntar a gastronomia com a agricultura, com a parte da sustentabilidade e vi um potencial enorme de criar um produto alternativo, de hotelaria clássica da Madeira. E quis desenvolver um projeto, como já há em algumas partes do mundo que é esta combinação do agro, do farming, das hortas, desta proximidade e do acreditar que o verdadeiro luxo é este tipo de projetos. É eu estar ao pequeno-almoço onde não tenho 400 pessoas e onde estou calmamente a tomar o pequeno-almoço com 20, 30, 40 pessoas no máximo”, conta Octávio Freitas ao “Económico Madeira”, sobre as origens do Socalco.

Octávio Freitas afirma que quem faz uma reserva no Socalco é porque quer o Socalco.

“Ninguém escolhe o Socalco para dormir. Escolhe-se o Socalco pela experiência do Socalco. Pelo conjunto que foi desenvolvido ali, por esta combinação e simbiose de várias coisas que o Socalco tem. O Socalco conta aos clientes uma verdadeira história da Madeira. E eu, já disse isso várias vezes, e afirmo sem qualquer tipo de problema, o Socalco é o hotel mais madeirense da Madeira. É o que replica melhor a nossa história de agricultura”, considera Octávio Freitas.

“O Socalco cria e conta como é que a agricultura da Madeira se forma. Conta muito a parte do paisagismo. A arquitetura, a forma como se projetou em termos da arquitetura foi respeitando a envolvência natural dos poios, ou seja, nós não destruímos, mantivemos todo aquele enquadramento arquitetónico daquilo que lá estava. Todas aquelas unidades, que são 20 unidades, crescem naqueles socalcos, a meio da vegetação das vinhas, das hortas, das couves, das batatas. E aquilo ali conta a história de um sítio, um sítio madeirense. Aqueles sítios em que se aglomeravam algumas casinhas e viviam os vizinhos de porta com porta. Saíam e encontravam a vizinha à frente e a vizinha à esquerda”, continua a descrever Octávio Freitas.

Octávio Freitas sublinha que quando desenvolveu o conceito do Socalco acreditava que poderia ser um sucesso, e desde muito cedo foi tendo prova de que de facto o conceito funcionava.

“Nós abrimos em 2020, apesar de ser um ano complicado [ano da Covid-19], nós, em 2021, estávamos a ganhar imensos prémios a nível internacional”, diz Octávio Freitas.

Octávio Freitas defende que a Madeira já deveria ter começado com este tipo de conceito, do Socalco, há 30 anos.

“A Madeira deveria ser isto. A Madeira tem um enquadramento de proximidade ao mar para se ter feito mais projetos tipo o Socalco. E depois é uma hotelaria que não é muito ameaçada. Não é muito ameaçada porque tem uma segmentação muito própria onde existe uma procura cada vez maior”, afirma Octávio Freitas.

Octávio Freitas sublinha que países como a Grécia e a Croácia têm tirado proveito das características do território para implementar este tipo de experiências e que projetos em terras lusas como por exemplo o São Lourenço de Barrocal e Herdade da Malhadinha foram matéria-prima para o Socalco.

“Eu andava a acompanhar alguns projetos e percebi que aquele conceito era um conceito que precisava de acontecer aqui na Madeira onde havia uma lacuna de todo o tamanho”, diz Octávio Freitas.

Octávio Freitas considera que projetos como o do Socalco têm espaço para crescer na Madeira.

“Acredito que se houvesse mais dois, três, quatro Socalcos, não teriam qualquer tipo de problema de ocupação porque eu estou completamente esgotado há quatro anos”, defende Octávio Freitas.

Meter as mãos na massa

Octávio Freitas sublinha que a Madeira tem uma “procura cada vez maior” neste tipo de segmentação.

“O cliente procura identidade. O cliente procura experiência. Este tipo de projetos vendem experiências internas, ou seja, o cliente praticamente quase não precisa de sair do hotel para ter experiências. Temos aulas de cozinha. Experiências, provas de vinhos, com as uvas do Socalco. Nós fazemos produção de vinho dentro do Socalco, formação sobre padaria, com técnicas ancestrais que usávamos aqui na Madeira. O Socalco é um sítio em que se conta histórias dos madeirenses, sobre os madeirenses. Mas são histórias que se sentem. Em que se mete as mãos na massa. O cliente envolve-se nas experiências do dia-a-dia do espaço. Seja a fazer pão, a fazer compotas, a ajudar na poda da vinha, a ajudar nas regas. E isto é um bocadinho um recriar, um reviver daquilo que era a vida de um madeirense e as pessoas procuram isto”, descreve Octávio Freitas sobre o tipo de experiência que o cliente pode ter no Socalco.

Octávio Freitas refere que o feedback que tem tido por quem procura o Socalco é ótimo, acrescentando que quem procura o Socalco acaba por ter experiências que “são difíceis” de replicar.

“Já não são fáceis de replicar, porque nem toda a gente tem esse conhecimento. Nem toda a gente viveu aquelas experiências de uma forma genuína. O Socalco tem contexto. O Socalco não podia estar no Funchal, como é óbvio. Ou seja, a costa, o litoral, toda a costa perto do mar, principalmente na Zona Sul, foi completamente tomada pela parte imobiliária. As pessoas adoram o Socalco, por esta questão de natura, de proximidade ao mar. O Socalco está a 50 metros ou 60 metros da cota do mar. Estamos a falar de uma experiência natural, verde, de agroturismo. E depois a Calheta tem temperatura. Não é à toa que o mercado imobiliário disparou e não é à toa que toda a gente queira aquele concelho. Ou seja o Socalco na altura certa, na hora certa, cria ali um produto de topo”, diz Octávio Freitas.

Octávio Freitas refere que para além do Socalco começar a ter notoriedade ao nível internacional também está a ter “uma taxa muito interessante” de clientes repetentes, para além de taxas de ocupação elevadas.

“Nós estamos praticamente a dois meses à data atual, estamos sempre cheios, com ocupação na ordem dos 90% a 100%”, refere Octávio Freitas.

Clientes procuram experiência gastronómica

Octávio Freitas sublinha que quem procura o Socalco tem também uma expetativa de ter uma “experiência muito forte” na área da gastronomia.

“O meu cliente é um cliente gastronómico. A maior parte dos clientes são estrangeiros”, diz Octávio Freitas.

Entre os principais mercados estão o americano, suíço, nórdico, e também o oriente, com os preços médios a se situarem entre os 250 a 300 euros por noite.

“As pessoas às vezes estão mais interessadas na história do pescador do que no peixe. Uma boa história é que vende. As pessoas vão à procura de histórias. O indivíduo que chega está mais interessado em perceber de onde é que veio o tomate do que propriamente o sabor do tomate. O Socalco é um projeto que valoriza muito a permacultura, a agricultura de sobrevivência e proximidade, ciclos naturais dos produtos, o mercado, produção regional, interação com os pescadores, uma componente social muito ativa, muito presente, ligação às pessoas, às instituições”, diz Octávio Freitas.

“O Socalco não é um sítio para dormir. O Socalco é um sítio para viver. É tudo ali uma zona de histórias, como eu costumo dizer”, considera Octávio Freitas.

Chef quer aumentar capacidade

E o futuro? O futuro aponta para expansão da capacidade.

“Dentro daquela área não vai levar nem mais um quarto. Há um estudo para se avançar já este ano [2024], na aquisição de terrenos à volta para aumentar o projeto em termos de alojamento, fora da capacidade do que está lá. Eu tenho espaço para construir casas e tenho espaço para construir quartos. Mas aquele conceito tem que haver distância e tem que haver áreas de circulação [entre as unidades]”, explica Octávio Freitas.

“E ali há um detalhe, que as pessoas às vezes não sabem, que 80% da propriedade do Socalco eu devolvi à natureza. Ou seja, a regra daquele projeto foram 20% de ocupação. Nós só ocupamos 20% e os outros 80% foram devolvidos à natureza. E esta regra não é uma regra que eu criei. Chama-se agroturismo. O agroturismo não é o turismo rural nem casas de campo. A classificação do Socalco é um agro. Os agro, os empreendimentos dentro do agro, têm uma regra que é a regra dos 80/20, ou seja, ocupam 20% e devolvem 80% à natureza. Obrigatoriamente tem de ter atividade. É ali por exemplo que eu faço os vinhos e em que se tem a parte do cultivo das vinhas”, acrescenta Octávio Freitas.

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