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Spamflix: o prefixo do ‘streaming’ de culto

“Acreditamos que os nossos filmes são todos equivalentes e só no caso de filmes inéditos é que podemos aumentar o preço por um breve período”, afirmou Markus Duffner, um dos fundadores da Spamflix, em entrevista ao Jornal Económico.
27 Maio 2020, 08h05

Markus Duffner e Julia Duarte, uma dupla que conjuga mentalidades alemã e brasileira, criaram uma plataforma de streaming com filmes de culto que muitas vezes não têm oportunidade de se exibir nos cinemas.

A Spamflix teve origem em Portugal em 2018 e pode ser subscrito em todo o mundo, com exceção da China. Em 2019, a plataforma foi apelidada como “a Netflix dos fãs de filmes de culto” pelo conhecido ‘Geek Spin’, por reunir filmes que parecem ter-se perdido no circuito audiovisual mas também por incluir no catálogo os filmes de autor aclamados nos festivais internacionais.

O catálogo cinematográfico é composto por curtas e longas metragens, oferecendo comédia negra, crime, absurdo e cinema fantástico. Para perceber a aposta numa plataforma de filmes de culto, cujo sufixo é ‘flix’, o Jornal Económico falou com Markus Duffner, um dos fundadores da Spamflix.

Decidiram apostar no culto. Porquê criar uma plataforma que se afasta do que atualmente é mais visionado? 
Acreditamos que há um público para os filmes curados pela Spamflix e que estes não atingiram todo o público potencialmente interessado devido à falta de distribuição comercial, ou de apenas terem passado em festivais de cinema ou em cinemas independentes.

Como surgiu a ideia da Spamflix? 

A Spamflix surgiu de uma frustração que os sócios-gerentes e profissionais da indústria do cinema, de não poderem partilhar os filmes que viam durante festivais e mercados de cinemas.

Como chegaram a este nome?
A Spamflix é uma homenagem ao “Spam” sketch dos Monty Python. No sketch que apareceu no Flying Circus (programa da BBC (1969-1974) a palavra “Spam” é repetida muitas vezes sem sentido e torna-se incómoda (até que foi por causa deste sketch que a palavra começou a ser usada para definir o correio indesejado).

É esta filosofia do nonsense [absurdo e sem nexo], às vezes um bocado incómoda, que subverte o nosso quotidiano, gera um novo ponto de vista. É este o pensamento por detrás da linha editorial da Spamflix. A filosofia do nonsense, como resumida no Spam sketch.

Porque escolheram Portugal para lançar este projeto?

Apenas por ser o lugar onde vivemos.

Na Spamflix não existe mensalidade. Como decidiram apostar só no pagamento do conteúdo que o consumidor pretende ver?

Apostamos num modelo transacional (ou de videoclube), principalmente pela natureza do nosso catálogo que oferece menos de 100 filmes e apenas uma novidade cada semana. Também ao olharmos para as ofertas das plataformas por assinatura, achámos que faz mais sentido não propor uma subscrição, mas sim, dar a liberdade ao utilizador de escolher o pagamento por filme ou então os Film Packs, através dos quais podem adquirir múltiplos códigos/filmes a preços mais vantajosos (uma forma de mini-subscrição sem fidelização).

Como funciona a plataforma? 
Como um videoclube, o registo é gratuito e os filmes são alugados individualmente. O aluguer dura 72 horas, com visionamentos ilimitados durante esse período, e é pago com cartão de crédito ou Paypal. Alternativamente, podem comprar um Film Pack. Na versão browser é também possível participar em jogos, como quizzes e outros concursos, realizadores/distribuidores podem submeter o seu filme para análise da equipa da Spamflix ou ler as nossas notícias.

Quando custa aceder a um conteúdo na Spamflix? Porquê criar um custo fixo? 
Em Portugal, os filmes custam três euros. Acreditamos que os nossos filmes são todos equivalentes e só no caso de filmes inéditos é que podemos aumentar o preço por um breve período. Já internacionalmente, os preços variam de país para país.

Como está dividido o catálogo ? 
O catálogo está dividido por secções que representam os géneros dos filmes, mas também por autores e festivais de cinema onde estrearam os nossos filmes. Por exemplo: Locarno Film Festival (os filmes estreados no festival de Locarno), Cult, Supernatural, Nonsense, What the f*** did I just Watch?, New Entries (Novas estreias na Spamflix) e #staythef***home, o qual criámos para realçar filmes para ver o durante os períodos do confinamento e pós-confinamento.

Quais os filmes mais aplaudidos pela crítica que constam nesta plataforma? 
Em Portugal, contamos com filmes de autores aclamados como Sion Sono (The Whispering Star), Quentin Dupieux (Wrong, Wrong Cops apresentado em Locarno e Reality apresentado em Veneza), Juliana Rojas e Marco Dutra (As Boas Maneiras coprodução com Portugal, vencedor do Pardo de Prata em Locarno e também apresentado no IndieLisboa), Shahram Mokri (vencedor da seção Orizzonti de Veneza com Fish & Cat) ou ainda The Wild Boys, apresentado na semana da crítica de Veneza. Fora de Portugal, estreamos também o Diamantino vencedor da semana da crítica em Cannes em 2018 entre outros.

São os parceiros oficiais do Fantastic Fest e Brooklyn Horror. Como se chega até aqui? 
A nossa estratégia em 2019 foi de desenvolver relações com festivais cuja linha editorial fosse similar à nossa, sendo assim a oportunidade ideal para a Spamflix se apresentar a este público. Adicionalmente, as nossas parcerias também expandem a vida dos festivais e a exposição dos realizadores de curtas. Com estas parcerias, a Spamflix oferece uma janela de distribuição comercial para os realizadores de curtas-metragens (através de programas de curtas online que replicam a seleção de curtas do festival).

Em quantos países está presente a Spamflix? 
Todos, excepto na China.

Em média, quantos utilizadores atraiu a plataforma? 
Estamos em rápido crescimento, sobretudo após o lançamento das aplicações digitais. Temos 30 mil visitantes únicos mensais e o nosso objetivo é ultrapassar os 20 mil utilizadores até o final de 2020.

Porquê apostar numa versão para smartphones?
A Spamflix só funcionava em web browsers e desde o início que houve pressão do público de quererem mais alternativas de como viam os filmes.  Com a prevalência de smart tvs, desde logo implementámos compatibilidade com Chromecast e AirPlay para que o nosso público tivesse formas mais fáceis de ver filmes na televisão em vez de terem que usar um computador e um cabo. Em breve, no mês de junho, a app da Spamflix também será lançada na AndroidTV.

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