Apesar do impacto direto reduzido para o sector nacional de bebidas espirituosas, as tarifas ‘anti-dumping’ da China sobre o brandy europeu são mais um entrave aos exportadores num mercado que vinha a crescer a um ritmo interessante e que conferia alguma proteção a perdas noutras geografias. Numa altura em que a incerteza em torno da relação comercial com os EUA continua em alta, esta é uma preocupação acrescida para os produtores europeus deste produto, sobretudo em França.
A China concluiu a sua investigação sobre possíveis práticas de ‘dumping’ pelos produtores europeus de brandy e irá avançar com tarifas neste produto, criando mais dificuldades para o sector das espirituosas europeias e agravando as tensões comerciais internacionais. Os exportadores europeus irão enfrentar assim taxas entre 27,3% e 34,9%, de acordo com o Ministério do Comércio chinês, depois de Pequim determinar, numa conclusão preliminar, que os produtores europeus estavam a vender brandy na China a um preço abaixo do custo.
No entanto, e apesar da importância do sector das bebidas alcoólicas em Portugal, a produção de brandy é bastante reduzida e a exportação ainda mais, começa por afirmar João Vargas, secretário-geral da Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas (ANEBE), ao JE. Os impactos não são evitáveis, admite, mas o cenário é bastante menos preocupante do que noutros países, sobretudo França.
Além de ter produções incomparáveis à francesa, Portugal beneficia da relação histórica com Macau. “A maior parte dos produtos portugueses entra na China pelos distribuidores macaenses”, ou seja, não vêm diretamente de Portugal.
“Pelo menos para já, a indicação que tenho é que não tem havido problemas com os importadores macaenses”, conclui.
Um dos principais efeitos negativos para todo o sector europeu, explica João Vargas, é o menor acesso a um mercado de grande crescimento e que podia servir de compensação aos EUA, isto numa altura em que se aproxima do fim a suspensão das tarifas impostas por Trump sobre produtos europeus, a 9 de julho. Depois disso, a ameaça passava por 50% de tarifa para a UE.
“Os distribuidores americanos dos nossos produtos pediram para aguardar negócios enquanto as tarifas não ficassem esclarecidas e o que se tem verificado são adiamentos sucessivos. […] Então houve negócios que pararam, ficaram suspensos”, afirma, ilustrando a incerteza em torno do mercado norte-americano.
Num cenário limite, as tarifas podem ser confirmadas pela Casa Branca enquanto bebidas portuguesas estão em trânsito para os EUA, o que dificulta ainda mais a operação dos produtores nacionais e a definição do preço no mercado americano, continua.
No caso francês, marcas como a Pernod Ricard, Remy Martin ou a LVMH estão bastante expostas a esta guerra tarifária, sendo que o mercado do gigante asiático era o que mais crescia no mundo. No entanto, estes nomes deverão estar isentos de taxas, dado o compromisso de que irão aplicar preços de venda considerados justos.
As tarifas de Pequim entraram em vigor a partir de dia 5 de julho, sábado, e aplicar-se-ão até cinco anos. Haverá exceções para os produtores que venderem as suas bebidas em linha com o compromisso assumido pelas associações industriais de ambas as economias, que define um preço justo mínimo a partir do qual estes bens podem ser comercializados.
À Reuters, representantes da SpiritsEUROPE, a associação que representa as bebidas espirituosas, da qual a ANEBE faz parte, bem como alguns dos maiores produtores do sector, falam numa opção menos punitiva e que permite continuar a pensar em expandir no mercado da segunda maior economia do mundo.
Esta medida do governo chinês aparenta servir de retaliação pelo apoio francês às barreiras impostas pela Comissão aos veículos elétricos chineses, agravando assim a tensão antes da cimeira que juntará delegação de ambos os gigantes económicos em Pequim a 24 e 25 deste mês para celebrar o 50º aniversário das relações sino-europeias. Com assuntos como os controlos de exportação chineses para terras raras ou esta guerra tarifária em destaque, a Bloomberg reportou esta sexta-feira que o governo chinês está a equacionar cancelar a segunda parte do encontro.
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