Apontado como ameaça à democracia, o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, tem tentado distanciar-se do Projeto 2025, um plano conservador e radical elaborado por pessoas próximas ao empresário. Não que algumas das suas propostas deixem de ser megalomaníacas ou ambiciosas, para dizer o mínimo.
Trump diz que vai acabar com a Guerra da Ucrânia, em curso desde fevereiro de 2022, em apenas 24 horas. Também promete o “maior esforço de deportação da história americana”, associa os migrantes em situação irregular ao aumento da criminalidade e a taxas de desemprego – algo sem base factual. Veja abaixo as suas principais propostas em seis áreas diferentes.
Desde o início da sua campanha, Donald Trump tem criticado o presidente Joe Biden e sua vice, Kamala Harris, pela subida do custo de vida no país, prometendo acabar com o que chama de “caos e a miséria” na economia.
No seu plano, chamado de “maganomics” (termo que funde economia com o acrónimo Maga, que significa “Make America Great Again”, slogan de Trump), o republicano propõe tarifas mais agressivas sobre importações de todo o mundo, especialmente da China, além de repressão à imigração —este acusa os estrangeiros em situação irregular de roubar empregos dos cidadãos americanos.
A retórica da campanha também defende maior influência política sobre a política monetária e o dólar. Defensor de agenda econômica populista, Trump ainda prometeu uma série de cortes de impostos direcionados a grupos que o empresário vem tentando conquistar. A medida incluiria o fim de tarifas sobre gorjetas, algo que a campanha de Kamala posteriormente incorporou.
Crítico de gastos americanos em conflitos que envolvem outros países, Trump diz que irá acabar com a Guerra da Ucrânia em apenas 24 horas, algo que implicaria concessões à Rússia, segundo críticos. Embora uma solução tão rápida seja improvável, a promessa sinaliza que o republicano tentará restabelecer os canais de diálogo com Moscovo, pelo menos num primeiro momento.
Trump também disse que pressionaria Israel a encerrar o conflito no Médio Oriente — culpa o presidente Joe Biden pela crise na região e diz que o democrata não é respeitado por líderes extremistas. Por outro lado, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, poderá sentir-se mais capacitado para manter os ataques na Faixa de Gaza e no Líbano em caso de vitória do republicano.
John Bolton, que foi conselheiro de Segurança Nacional na gestão Trump, acredita que o empresário tentará retirar os EUA da NATO, a aliança militar ocidental, caso eleito. Este ano, o republicano disse que não protegeria os aliados da organização numa possível invasão da Rússia.
Donald Trump deve ainda manter uma abordagem linha-dura em relação à China. Este candidato prometeu impor uma tarifa de pelo menos 60% sobre produtos do país asiático para estimular a indústria interna, uma estratégia cuja eficácia é questionada por especialistas.
Trump já se gabou de ter nomeado três juízes para a Supremo Tribunal que ajudaram a anular a decisão conhecida como Roe vs. Wade, o que suspendeu o direito constitucional ao aborto nos EUA após 49 anos. O tema, porém, é apontado como calcanhar de Aquiles do republicano e um dos motivos para sua rejeição na parcela feminina da população. Não à toa, Trump tem assumido um posicionamento mais moderado na atual disputa e defendido que o acesso ao procedimento deve ser decidido por cada governo estadual.
O republicano sempre deixou claro que pretende deportar o máximo possível de imigrantes em situação irregular, algo que Trump diz ser necessário após travessias recordes no governo Joe Biden. Não está claro, porém, como Donald Trump poderia executar o plano. Sem apoio do Congresso, o republicano não teria recursos para aumentar as detenções de forma significativa. Também pode ter dificuldades nos estados governados por democratas, críticos à proposta e que se recusam a cooperar com as autoridades federais de imigração.
Para colocar em prática o “maior esforço de deportação da história americana”, como tem prometido, o empresário diz que irá retomar políticas do seu primeiro mandato, incluindo a Título 42, que permitia expulsões automáticas de imigrantes sob justificativa sanitária durante a pandemia. Em comícios, ao mencionar organizações criminosas estrangeiras, já disse que vai ressuscitar uma lei implementada há 226 anos e que permite a expulsão de imigrantes em períodos de guerra declarada contra outras nações.
Sem apresentar dados, Trump afirma que há aumento da violência nos centros urbanos do país e diz que a crise é resultado da entrada de imigrantes em situação irregular. Em discurso, prometeu impor pena de morte para estrangeiros que assassinarem americanos. Trump não explicou, porém, como isso poderia ser feito, uma vez que cada estado tem sua própria política sobre execução de condenados da Justiça.
Segundo a ACLU (American Civil Liberties Union), a maior organização de direitos humanos dos EUA, um eventual segundo mandato de Donald Trump ameaça acelerar o encarceramento em massa e, ao encorajar práticas policiais agressivas, incluindo técnicas de estrangulamentos, pode reverter décadas de progresso no setor.
Trump diz que a crise climática é uma farsa. Depois que o furacão Helene provocou mortes e destruição nos EUA, em setembro, o republicano voltou a dizer que o aquecimento global é “uma das maiores fraudes” da atualidade. Não causa surpresas, portanto, que o empresário insista no avanço dos combustíveis fósseis e na rejeição de acordos internacionais para diminuir os gases de efeito estufa.
O empresário promete retirar de novo os EUA do Acordo de Paris, compromisso firmado pela comunidade internacional para limitar o aquecimento global. Ele já o fez em 2017, durante o seu mandato presidencial —o país foi reintegrado em 2021, após a posse de Joe Biden. Também defende a liberação rápida de todos os projetos de geração de energia, incluindo os combustíveis fósseis, como forma de baixar rapidamente os preços ao consumidor. “Nós vamos perfurar, baby, perfurar”, disse na campanha.
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