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Imobiliário: tecnologia “abre a porta” a investimentos nacionais e estrangeiros

A tecnologia está a transformar de forma profunda a gestão das transações e o fecho das operações deste sector, numa tendência que já se verificava e que se intensificou com a pandemia e o incremento das soluções tecnológicas, exemplifica Ricardo Sousa, CEO da Century 21 Portugal.
4 Dezembro 2021, 15h00

O papel da tecnologia tem-se destacado em diferentes sectores e os processos de digitalização sofreram uma aceleração, devido às contingências impostas pela pandemia de Covid-19, criando e renovando necessidades. O sector do imobiliário não é exceção, com a utilização de diferentes ferramentas a permitirem o desenvolvimento da atividade, mas não só, a fazerem caminho para uma modernização de produtos e serviços que constituirá a base para o crescimento no quadro pós-pandémico.
“A tecnologia tornou-se num parceiro incontornável, que veio acelerar os processos de mudança e estabelecer novas formas de comunicar e de negociar neste segmento”, sintetiza ao Jornal Económico (JE) Gilberto Jordan, CEO do André Jordan Group. “[A tecnologia] veio facilitar vários processos, permitindo que exista, hoje, uma redução de custos e de tempo investido”, afirma Nuno Garcia, diretor-geral da GesConsult, empresa especializada na gestão de obras e prestação de serviços nas áreas de engenharia e imobiliário. Aponta como exemplo as visitas virtuais, que se desenvolveram pela necessidade de responder à imposição da limitação de contactos entre pessoas, mas que prometem continuar, porque proporcionam “uma melhor experiência do cliente” e, pela sua acessibilidade, abrem a porta a mais investimentos, tanto nacionais, como estrangeiros.

“Acredito que a tecnologia está a permitir que o negócio da fileira seja otimizado, facilitando os processos e promovendo a atividade e o progresso do sector, em tempos cada vez mais exigentes”, diz, ainda, referindo-se não só à comercialização, mas às próprias técnicas de construção, que têm sido aperfeiçoadas e “viabilizaram obras em locais onde, antes, era impossível, bem como a reabilitação de edifícios com mais qualidade”.

Esta ideia é partilhada por Carlos Sanz, diretor-geral da Habitissimo, empresa tecnológica espanhola dedicada a obras e remodelações, que assinala o progresso na digitalização. “Sabendo que, entre quem procura casa, mais de 70% das pesquisas de imóveis se inicia online, e que mais de 50% das visitas a imóveis realizadas têm um website como ponto de partida, é evidente que a tecnologia mudou completamente a forma como construímos, renovamos e compramos uma casa”, explica.
Gilberto Jordan considera que a pandemia levou à “criação radical” de novas vivências, através da digitalização de processos, que mudaram a forma como, principalmente, se comercializa.

Sector em mudança acelerada
Carlos Sanz avisa que os movimentos de modernização não ficarão por aqui, prevendo que, com o aprofundamento do processo de digitalização, a tecnologia irá assumir um papel cada vez mais central nos negócios, a partir de plataformas digitais agregadoras de serviços, que centralizam as várias fases da transação imobiliária, de uma remodelação ou até de uma construção, de forma a proporcionarem experiências integradas, eficientes e seguras.

“Estamos prestes a assistir a mudanças significativas no sector imobiliário global, à medida que o mesmo evolui, de forma a corresponder às expectativas dos consumidores modernos e racionalizar as suas operações”, considera João Pita, development director da promotora imobiliária Round Hill Capital Portugal. Estas mudanças são transversais, com impacto declarado em diferentes segmentos. “Nos escritórios, por exemplo, as empresas começam a ponderar alterar o modelo de trabalho para um formato mais híbrido”, o que mudará a forma como se olham para estes edifícios e, também, a função que desempenham nas organizações. Esta mudança no trabalho terá efeitos, também, na habitação. A generalização do teletrabalho foi outra das novidades trazidas pela pandemia para a sociedade, refletindo uma nova forma de cada cidadão olhar para a sua casa, mas João Pita acredita que, no futuro, “a tendência vai ser cada vez mais as pessoas trabalharem a partir das suas casas”, o que cria novas necessidades e uma utilização diferenciada do espaço. Aliás, esta é uma das tendências referenciadas no estudo Top 10 Global CRE Trends, da consultora imobiliária JLL, que acrescenta, no mesmo sentido, que os espaços de trabalho de nova geração serão mais humanizados, que “flexibilidade” será uma palavra-chave nos novos edifícios e que é necessário ter em conta que viveremos com um “imperativo da saúde”.

O estudo, feito em tempo de pandemia, mas olhando para o futuro pós-pandémico, refere, também, a primazia do digital, sublinhando que “é crucial capitalizar o poder dos ecossistemas digitais para acelerar a transformação do trabalho, dos colaboradores e do espaço de trabalho”.
João Pita acrescenta que o valor gerado pelo investimento na digitalização é uma forte mais-valia para todas as áreas e aspetos do ecossistema imobiliário, apontando, ainda, como beneficiários, além dos referidos, a organização e o planeamento do espaço público.

Já 4, destaca ao JE que a tecnologia está a transformar de forma profunda a gestão das transações e o fecho das operações deste sector, numa tendência que já se verificava e que se intensificou com a pandemia e o incremento das soluções tecnológicas. Dá como exemplo os processos de contratualização: “A utilização de assinaturas digitais permite ao destinatário de uma mensagem com um documento assinado, digitalmente, identificar a entidade que originou a mensagem e, além disso, receber informações sobre onde poderá solicitar e receber a aprovação de um crédito habitação, através do telemóvel, sem ter de entrar em contacto fisicamente com o banco”, explica, defendendo que este processo renovado, ou refeito, permite criar uma melhor experiência para o consumidor, num processo mais rápido e transparente.

Industrialização com impacto nos custos
Não é só a vertente da comercialização que tem mudado na fileira do imobiliário. Ricardo Sousa olha para a necessidade de fábricas e fornecedores especializados para que se concretize uma verdadeira industrialização da construção, um processo que constitui uma clara oportunidade para uma evolução que considera ser inevitável em Portugal. “São vários os países que já estão a realizar esta transição para que o processo offsite da obra seja cada vez maior e mais comum, com benefícios diretos no impacto ambiental, diminuição dos tempos de obra e flexibilização das soluções habitacionais e tipologias”, afirma. “Existem duas tecnologias preparadas para remodelar o cenário físico da indústria: a construção pré-fabricada e a impressão 3D”, aponta.

Estas mudanças podem vir a ter impacto na forma como as empresas trabalham, mas também poderão ter reflexo no consumidor final, porque permitem a redução de custos e de tempo, que, neste último caso, como versa o adágio, também é dinheiro. Carlos Sanz defende que existem impactos positivos para todos os agentes do sector imobiliário. “Para os players da construção, a transformação digital é sinónimo de uma melhor gestão de tempo e recursos. A tecnologia permite baixar custos decorrentes de falhas, reduzir o desperdício de materiais e garantir um controlo mais estruturado das várias etapas dos processos. Não esquecer também aqui a própria comunicação dos projetos, uma vez que empreendimentos com toques de tecnologia ativam clientes dispostos a investir um pouco mais. Para o consumidor, se todo o processo é mais ágil e eficiente, garantindo preços finais mais acessíveis e produtos compatíveis com a evolução das necessidades do dia-a-dia, as mudanças tecnológicas também só têm vantagens a oferecer”, explica.

João Pita recorda que durante a pandemia o sector da construção foi dos poucos que esteve sempre no ativo – como da intermediação imobiliária – e que os dados do Instituto Nacional de Estatística apontam para uma subida acima dos 6% nos custos de construção em habitação nova em Portugal, algo que considera ser provocado pela realidade vivida na economia mundial.
“Apesar da incerteza do atual contexto, será de admitir que estas mudanças poderão também vir a ter, no curto prazo, um impacto nos custos de construção. Porém, sendo este um cenário para o qual devemos olhar a longo prazo, acreditamos que a contribuição da tecnologia para a industrialização e eficiência da construção irá impulsionar economias de escala e, consequentemente, contribuir para a otimização dos custos associados, ao mesmo tempo que irá permitir construir espaços mais adequados às necessidades das famílias e das empresas, juntando o conforto à sustentabilidade”, sublinha ainda.

Ricardo Sousa acredita que a adoção de novas tecnologias de construção permite diversos benefícios para o consumidor, para a sociedade e, sobretudo, para a sustentabilidade ambiental, que é um tema de extrema atualidade, a que o sector do imobiliário não está, nem pode estar, alheiro (ver texto nas páginas deste Especial). “A industrialização da construção permite gerar economias de escala, com tempos de edificação mais curtos, o que resulta também em menores custos associados, que permitem a oferta de preços mais competitivos”, afirma. Este responsável destaca que o sector imobiliário “está a eliminar as suas tarefas rotineiras de processamento de informação, recorrendo às novas tecnologias para automatizar estas tarefas e apostando numa lógica de sustentabilidade ambiental e de valor acrescentando para toda a cadeia de valor, principalmente para os consumidores”, sublinhando que a industrialização da construção devia ser um tema debatido publicamente.

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