Este domingo foi de enorme frenesim na política britânica: depois de o jornal Sunday Times ter revelado a existência uma espécie de ‘complot’ de vários ministros do reino contra a própria primeira-ministra – na tentativa de a substituírem por um ‘interino’ – todos os que estavam envolvidos nessa alegada conspiração asseguraram que nada disso é verdade.
O conselho de ministro desta segunda-feira será, neste quadro de caos que se instalou há muitas semanas – e que cresceu de tom quando May não conseguiu convencer os países da União Europeia a aceitarem a sua proposta de adiamento do artigo 50º até 30 de junho – decisivo para que os britânicos (e o resto dos europeus) percebam até que ponto a primeira-ministra tem ou não condições para continuar.
Os analistas comentam que não estão reunidas condições para que quem quer que seja do Partido Conservador queira de facto substituir May neste ambiente de absoluta balbúrdia que tomou conta da situação política interna – até porque não há nenhuma evidência de que o projeto de acordo que deverá esta semana regressar à Câmara dos Comuns para ser votado venha a passar nesse crivo que se tem revelado fatal.
Ou seja, dizem os analistas que substituir May enquanto o Brexit não estiver fechado seria puro suicídio político e só alguém sem aspirações a médio e longo prazo poderia, a curto prazo, pretender herdar o caos. Se fosse assim, a notícia do ‘golpe’ podia inclusivamente ter saído dos círculos próximos de May – para, como costuma dizer-se, ‘levantar a caça’: teria sido uma forma de May expor os que têm reticências face à sua forma de conduzir o Brexit, obrigando-os a avançar ou, como aconteceu, a jurar fidelidade.
Mas há quem veja neste avatar do fim-de-semana algo mais que uma contagem de espingardas: o caso do pretenso golpe palaciano no interior do governo de May pode ter sido uma ‘invenção’ para dar mais força política à primeira-ministra, que está acossada por todos os lados.
À margem desta política palaciana de contornos cada vez mais bizantinos, May foi também acossada pelo renovar da força dos britânicos que não querem sair da União Europeia. Para além da petição que continua a somar assinaturas – já passou a barreira dos cinco milhões, segundo a última contagem conhecida – a primeira-ministra viu-se confrontada com manifestações que pediam a suspensão do artigo 50º e a repetição do referendo, ao mesmo tempo que os manifestantes se queixavam do caos político que se vive no Reino Unido e de ninguém saber como vai acabar o Brexit, o que transforma em mentirosos muitos dos políticos que andaram a fazer campanha pelo ‘sim’ à saída.
Se esta semana o Theresa May não conseguir fazer passar na Câmara dos Comuns um qualquer documento que lhe permita sinalizar em Bruxelas que o Reino Unido conseguiu mover-se para o Brexit, o caos poderá ser ainda maior que o que é neste momento.
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