[weglot_switcher]

‘Tiering’: nem a nova ‘buzzword’ do BCE deverá forçar Draghi a revelar novidades

Devido à Páscoa, a reunião do Conselho de Governadores vai ter lugar na quarta-feira e não na quinta. Segundo os analistas, essa poderá mesmo ser a única novidade, já que Mario Draghi vai querer manter o silêncio e as opções em aberto.
  • Yves Herman/Reuters
10 Abril 2019, 07h45

Na última reunião de política monetária, em março, o Banco Central Europeu (BCE) ofereceu duas mini-surpresas, ao antecipar o anúncio de uma nova ronda de liquidez para os bancos (TLTRO-III) e ao atirar a previsão de uma subida nas taxas de juro para além do final do ano. Em contraste, a reunião do Conselho de Governadores desta quarta-feira deverá ser mais parca em novidades, segundo os analistas.

“Após a viragem dovish de março, prevemos que o BCE deixe a política monetária inalterada e também não esperamos que revele mais detalhes sobre a TLTRO-III, deixando esse anúncio para junho”, referiu a equipa de research do BBVA.

Franck Dixmier, Global Head of Fixed Income da Allianz Global Investors (GI) recordou que mesmo após a última reunião, Mario Draghi, presidente do BCE, foi ainda mais longe numa conferência a 27 de março, onde afirmou que estava a refletir sobre formas de preservar o benefício dos juros negativos para a economia da zona euro, reduzindo, ao mesmo tempo, os seus efeitos colaterais sobre os bancos.

“Isso sugere que o horizonte para um aumento dos juros está a ficar cada vez mais distante – ou mesmo que os juros dos depósitos de -0,40% podem cair ainda mais no caso de uma crise”, salientou. “A rentabilidade dos bancos da zona euro está a ser erodida pelo que é efetivamente um imposto de 40 pontos-base nas suas reservas excedentes, e o BCE está a empenhar-se em preservar a capacidade dos bancos de fazerem empréstimos à economia.

Além de Draghi, também comentários recentes do economista-chefe do BCE, Peter Praet, e as minutas da última reunião, divulgadas na semana passada, sugerem que o banco central está a analisar se e como poderá oferecer algum alívio aos bancos num período prolongado de taxas ultra-baixas.

“Até agora, a visão oficial ‘dominante’ no BCE tem sido sempre que as taxas de juro negativas têm sido boas para a economia, com escassos efeitos negativos nos bancos”, referiu Carsten Brzeski, economista-chefe da ING Germany. “A última parte desta visão começou agora a mudar, embora não devemos esquecer que todos os  TLTRO até agora foram instrumentos para mitigar efeitos adversos para os bancos”.

“Next big thing”

Uma eventual medida que tem sido muito discutida nas últimas semanas, Brzeski até a classifica com “the next big thing”, é o tiering. Neste cenário, uma taxa de depósito ‘escalada’ permitiria a alguns bancos ficarem parcialmente isentos de pagarem ao BCE uma taxa de 0,40% por ano sobre as reservas excessiva, impulsionando os lucros dos bamcos  numa altura de travagem económica inesperada.

Segundo o economista-chefe do ING Germany, existem pelo menos quatro fatores que o BCE irá ter de analisar antes de anunciar essa medida. Primeiro, se poderá vista como sinal que o BCE está a preparar manter “[taxas] baixas por muito mais tempo” ou mesmo abrir a porta para mais cortes. Segundo, terá de avaliar se a medida poderá complicar o impacto da política monetária na economia real e, em terceiro, se não será vista como mais um “almoço grátis” para a banca. Por fim, se com a possibilidade de novos cortes nas taxas de juro estes poderem ser vistos principalmente como manipulação de taxas de câmbio ao invés de apoio para canal de empréstimos via os bancos.

“A introdução de um sistema de tiering será analisada, mas provavelmente só será anunciada se a economia não tiver começado a recuperar até junho”, explicou.

Na ausência de novas medidas, o foco durante a conferência de imprensa de Draghi deverá estar nas palavras do italiano sobre o outlook económico. Segundo Franck Dixmier, da Allianz GI, é provável que o BCE “enfatize as suas perspetivas incertas para o crescimento e as preocupações com as fracas expectativas para a inflação, como justificação para a sua política ultra-acomodatícia”.

O analista espera ainda que o BCE “realce que ainda tem espaço para mais flexibilização monetária, embora isso possa alimentar as incertezas do mercado”.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.