O problema das alterações climáticas provocadas pelo uso generalizado de combustíveis fósseis pode levar, nos próximos 30 anos, a uma corrida pelo desenvolvimento de tecnologias e equipamentos que permitam a chamada transição energética. Esta é a designação dada a um complexo processo de mudança para novos tipos de produção de energia, mais sustentáveis e que não incluam a queima de combustíveis fósseis.
Com estas transformações, a economia mundial vai ser muito diferente da atual, sendo contudo difícil de prever se esta transição será total. A questão é também estratégica, pois os países ricos que vão desenvolver estas novas tecnologias precisam de ter acesso a recursos minerais imprescindíveis, e quem garantir esses mesmos recursos terá uma vantagem competitiva. Ora, sem as matérias-primas africanas, é pouco provável que a transição energética seja concretizada, pois as indústrias de energia têm de construir baterias, redes elétricas e turbinas com resistência a altas temperaturas, usando componentes difíceis de encontrar na natureza.
Muitas tecnologias necessárias para produzir energia de fontes renováveis requerem minerais que só se encontram em alguns locais do planeta. O melhor exemplo é o cobalto, sem o qual as baterias podem explodir. Este metal, extraído de minas de cobre e ferro, também serve para turbinas a gás e motores de avião, mas é caro e pouco abundante. A República Democrática do Congo produz dois terços do cobalto mundial. O restante encontra-se sobretudo na Zâmbia, Rússia, China e Canadá, mas em menor quantidade.
São produzidas anualmente mais de 100 mil toneladas de cobalto, mas as necessidades devem aumentar de forma dramática ao longo do tempo, sobretudo por causa das baterias de automóvel. Neste momento, o preço é inferior ao de 2016, devido à queda generalizada das matérias-primas (consequência do arrefecimento da economia mundial), mas as minas são remotas, estão num país instável e a dependência de um único fornecedor pode tornar-se a maior limitação. Mesmo que as baterias tenham um rácio menor de cobalto, esta matéria-prima ameaça tornar-se numa grande dor de cabeça para algumas indústrias, sobretudo na Europa e Estados Unidos, onde as empresas têm tentado criar stocks.
A África do Sul é o maior produtor mundial de platina (70%) e o segundo maior de paládio, dois elementos cruciais para a emergente indústria energética. A platina é utilizada em redes e veículos elétricos; o paládio é crucial nas células de hidrogénio, onde reações entre hidrogénio e oxigénio criam eletricidade, calor e água. Há outros nomes a que nos vamos habituar, como manganês ou as chamadas terras raras, um grupo de 17 elementos químicos usados em ligas metálicas resistentes a altas temperaturas, com um nome algo enganador, pois alguns destes metais não são assim tão raros.
O consumo mundial de terras raras cresceu sete vezes nos últimos 50 anos. A relativa escassez de alguns destes metais, como lantânio e térbio, tem sido um problema para a produção, por exemplo, de telefones móveis e ecrãs de televisão, mas há também numerosas aplicações militares. A China é o maior produtor mundial de terras raras e os EUA, que compram 78% das suas necessidades aos chineses, têm tentado encontrar outras fontes, nomeadamente em África, onde foram feitas descobertas, por exemplo na Zâmbia, Moçambique e Malawi. Conciliar o ambiente com a economia terá, provavelmente, esta dificuldade adicional.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com