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“Tudo vai mudar com a IA, mas ainda há um gap de confiança”, diz CEO da Salesforce

Marc Benioff não duvida da “oportunidade fenomenal para o futuro” que o adequado uso dos algoritmos traz, embora tenha consciência de que podem ser “mentirosos muito convincentes”. A pensar nesses problemas, e na informação que está dispersa dentro das empresas, a empresa apresentou esta terça-feira a nova solução Einstein.
13 Setembro 2023, 08h15

O CEO da Salesforce está convicto da “oportunidade fenomenal para o futuro” que é o investimento na Inteligência Artificial (IA), a prioridade número um para os CEO, porém reconhece que ainda há trabalho a fazer para que os algoritmos ganhem a confiança da maioria dos gestores e consumidores.

No discurso de abertura do Dreamforce, esta terça-feira, Marc Benioff citou um estudo no qual se concluiu que 52% dos consumidores não acreditam que a IA seja segura e afirmou: “Tudo vai mudar. Ao mesmo tempo, tal como muitas novas tecnologias na nossa indústria, parece que existe um gap de confiança”.

Reconhecendo que existem sistemas de LLM (Large Language Models) que podem ser “mentirosos muito convincentes” e tornarem-se “tóxicos muito rapidamente”, Marc Benioff antevê mais-valias num correto e regulado aproveitamento destas tecnologias – até porque se há espaço para erros, como alucinações ou toxicidade, não é nada bom para os clientes, alertou o empresário.

“Queremos construir novas empresas, queremos inovar. Queremos criar novas e excelentes aplicações. Iremos conseguir alguma confiança de alguma forma. Queremos construir uma plataforma de IA confiável para as empresas dedicadas aos clientes, para que todos sejam Einstein e mais produtivos”, realçou o CEO da Salesforce.

De alguma forma, pode não ter havido tanta confiança nestas tecnologias quanto esperávamos. Não é incomum na nossa indústria. Mas percebemos que temos ilhas de informação por aí. Para onde vão esses dados? O que está a acontecer? (…) Vamos tentar tornar todos os sistemas mais inteligentes – Marc Benioff

Nesse âmbito, a Salesforce anunciou ontem a plataforma “Einstein 1”, com traz novos avanços à cloud da empresa e ao Einstein AI, o seu sistema de tecnologia preditiva. A nova solução da marca, também baseada em algoritmos, pretende disponibilizar às empresas a capacidade de conectar com segurança quaisquer dados para gerar experiências diferentes de CRM (Customer Relationship Management) e criar aplicações baseadas em IA através de low-code.

Porque é que este tema importa aos gestores? De acordo com o “2023 Connectivity Benchmark Report” da Mulesoft, em média, as empresas utilizam 1.061 aplicações diferentes, mas menos de um terço (29%) delas estão integradas. Logo, os dados dos clientes estão altamente fragmentados dentro das organizações. No fundo, a ideia é que todas essas apps estejam a falar o mesmo idioma.

Atualmente, a data cloud da Salesforce processa 30 biliões de transações por mês e conecta e unifica 100 mil milhões de registos todos os dias. “Com a nova data cloud, agora integrada de forma nativa à Plataforma Einstein 1, as empresas podem desbloquear dados isolados de maneiras totalmente novas, criar perfis ricos e unificados dos clientes e oferecer experiências de CRM totalmente novas”, explica fonte oficial da empresa.

A edição de 2023 do Dreamforce, que marca os 21 anos da conferência, é considerada pelo CEO como “o maior evento de IA” do ano, porque conta com a presença de 75 investigadores e empreendedores desta área, bem como especialistas em ética e personalidades como Dario Amodei, CEO da Anthropic, as cientistas Fei-Fei Li e Ayanna Howard.

“Temos especialistas incríveis e oradores visionários como Sam Altman, que está a liderar a revolução da IA. Também temos [Matthew] McConaughey aqui, Ray Wilson e outros novos visionários incríveis que nunca conheceram antes. Também líderes políticos aqui. Muitos líderes políticos não têm certeza do que fazer em relação à IA e como ela os pode impactar. Então, vamos ter três dias para perceber tudo isso, para nos focarmos em inovação, confiança, em fazer o bem e nos programas que temos”, resumiu o filantropo norte-americano.

O Dreamforce realiza-se entre 12 e 14 de setembro, no Moscone Center em São Francisco. Ao longo dos três dias, este centro de congressos recebe cerca de 1.500 sessões e mais de 40 mil pessoas de 100 países, o que resultará num benefício de 89,3 milhões de dólares (aproximadamente 83 milhões de euros) para esta da Califórnia.

Mantendo a tradição solidária, o Dreamforce elevou para 100 milhões de dólares o valor doado a hospitais públicos na zona São Francisco e para 187 milhões de dólares (na ordem dos 174 milhões de euros) os apoios às escolas da região, que abrange através de um novo subsídio de 20 milhões.

Na questão da sustentabilidade ambiental, o CEO não tem dúvidas: “É o Dreamforce mais sustentável de todos os tempos? É”. “Estamos a fazer tudo o que é preciso para que esta conferência seja neutra em carbono, para tornar a nossa empresa neutra em carbono. E muitos dos nossos clientes perguntam o que podem fazer para melhorar a sua pegada ambiental. Nós construímos este excelente produto, Net Zero Cloud, no ano passado e muitos já estão agora a utilizá-lo”, disse Marc Benioff.

De facto, a tecnológica conseguiu manter longe do recinto aproximadamente mais de 100 mil garrafas de plástico através do uso de embalagens amigas do ambiente e alega que conservou dez milhões de garrafões de água ao disponibilizar menus com opções de refeições sustentáveis sem carne bovina ou suína.

*A jornalista viajou para os Estados Unidos a convite da Salesforce

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