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Turcos do grupo Yilport querem Leixões perto da capacidade de Sines

Robert Yildirim, patrão do operador portuário Yilport – o segundo maior europeu -, vai aumentar a capacidade do terminal sul de Leixões para 670 mil TEU e quer ter um milhão de TEU no terminal norte.
23 Fevereiro 2019, 19h00

Os terminais de contentores de Leixões terão condições para crescer 153% nos próximos dois anos, atendendo a que o grupo turco que controla estas infraestruturas tem o objetivo de aumentar a capacidade instalada dos atuais 660 mil TEU (medida padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento) para 1,67 milhões de TEU em 2021. Eis a estratégia do grupo Yilport, anunciada esta sexta-feira em Leixões, na presença da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino. Mas vamos por partes.

É verdade que a ambição e o dinheiro não faltam ao operador portuário turco Yilport, que já é o 12º maior a nível mundial e ascendeu ao segundo lugar entre os europeus, dono dos terminais de contentores do porto de Leixões. Depois de ter comprado a operação portuária da Tertir, em setembro de 2015 – adquirida à construtora Mota-Engil, com 63% do capital, e ao Novo Banco -, o grupo turco presidido por Robert Yuksel Yildirim apostou forte no desenvolvimento das operações a nível ibérico, para recuperarem o atraso tecnológico que diziam afetar os terminais portuários recém-adquiridos.

Num comunicado emitido pouco depois da aquisição, a Yilport queixava-se da fraca atenção dada pela Tertir ao investimento em tecnologia portuária. Quatro anos volvidos, o terminal de Leixões já é um dos mais eficientes do Grupo Yilport “e o mais eficiente na sua escala na Península Ibérica, além de Algeciras e Valência”, refere uma fonte do grupo turco.

A mesma fonte explicou ao Jornal Económico que o objetivo do grupo turco é avançar depressa no reforço do investimento em Portugal, dotando os terminais de contentores de Leixões das infraestruturas necessárias ao disparo da sua atividade a muito curto prazo.

Além das obras no terminal sul, que têm como objetivo aumentar a capacidade instalada dos atuais 450 mil TEU para 670 mil TEU em 2021, o Grupo Yilport quer dinamizar muito o terminal norte. Com apenas 5,4 hectares e 360 metros de cais, que permitem movimentar atualmente 150 mil TEU, o terminal norte do porto nortenho contribui com 24% do movimento de contentores em Leixões, o que é cerca de um terço do movimento de contentores realizado no terminal sul, e que constitui o principal impulsionador desta atividade portuária em Leixões.

“Se a negociação das alterações necessárias a realizar no terminal norte de Leixões estiverem concluídas até ao final de 2019, as obras conseguem ser feitas de forma a ter o novo terminal norte operacional em 2021, na mesma altura em que estiver concluída a expansão do novo terminal sul”, refere uma fonte do grupo Yilport.

Para já, em março de 2021, os turcos querem ter concluído o investimento de 43,4 milhões de euros previsto para expandir o terminal sul – atualmente com 13,1 hectares e 540 metros de cais -, aumentando a sua capacidade instalada de 450 mil TEU para 670 mil TEU. O terminal sul terá três novos blocos portuários supervisionados remotamente, terá uma nova entrada de terminal, contará com duas novas ferrovias, novos parques e uma nova unidade destinada à administração, com escritórios, datacenter, salas de arquivo, cozinha, sala de jantar e casas de banho.

2.551 embarcações movimentaram contentores em Leixões

“O estudo de impacte ambiental concluiu que os efeitos que esta obra possa ter são benéficos, nomeadamente ao nível da melhoria das condições técnicas operacionais e ambientais nos procedimentos e gestão”, refere uma fonte do grupo turco, explicando que o aumento da capacidade instalada será de “mais 210 mil TEU” face à capacidade atual. No final de 2018, os terminais de Leixões registaram “um movimento total de contentores de 660.832 TEU”, o que corresponde a 19,2 milhões de toneladas e à operação de 2.551 embarcações, diz a mesma fonte.

No entanto, o grande condicionalismo ao crescimento da atividade portuária de Leixões está no terminal norte, porque, diz a fonte do grupo turco, “está a chegar ao fim da sua vida útil”.

Mas, se as negociações para concretizarem um novo grande investimento no terminal norte forem concluídas com sucesso ainda este ano – que é o objetivo do grupo Yilport -, serão iniciadas as respetivas obras no curto prazo, repartidas por duas fases.

Na primeira fase, será feito o avanço do cais, mudando a marina privada para a área protegida na foz do Porto, o que elevará a sua capacidade instala dos atuais 150 mil TEU para 400 mil TEU.

A segunda fase inclui a construção de um novo cais, que vai expandir a capacidade instalada até um milhão de TEU. Os turcos referem que “qualquer projeto para o desenvolvimento do porto deve levar em conta o futuro do terminal norte, sem condicionar a sua expansão”, considerando que “uma solução global para o terminal norte será fundamental para a economia regional e nacional”.

Ao nível estratégico, para o grupo Yilport a expansão dos terminais de Leixões “permitirá que todas as embarcações que fazem escalas em outros portos, como por exemplo em Vigo, regressem ao local onde a carga é fabricada e produzida e forneçam uma resposta para a crescente procura do mercado”, adianta a mesma fonte.

Os terminais de contentores de Leixões terão agora uma oportunidade para acelerarem o crescimento em dois anos, a um ritmo que nunca viram anteriormente, pois em 17 anos apenas cresceram  365,4 mil TEU em capacidade instalada – passaram de 295,3 mil TEU em 2001 para 660,8 mil TEU em 2018.

Leixões continua a ser a maior infraestrutura portuária no norte de Portugal, mas tem vindo a distanciar-se da capacidade instalada em Sines, cujo crescimento leva a atrair a esmagadora maioria da movimentação de contentores nos portos portugueses.

Para moderar este desequilíbrio entre norte e sul, os investidores turcos pretendem concretizar nos próximos dois anos um reforço significativo na capacidade instalada de Leixões, o que potenciará o seu peso no PIB português, bem como no emprego que assegura no setor portuário e no comércio externo nacional.

Atualmente, Leixões é responsável por 17% do PIB da região norte, e  por 6% do PIB português, bem como por 18% do emprego na região norte e por 7% do emprego português.

Artigo publicado na edição nº 1975 de 8 de fevereiro do Jornal Económico

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