As segundas maiores taxas de aumento das receitas turísticas à escala global ocorrem hoje em África: só a Ásia-Pacífico vem crescendo a maior ritmo. Não por acaso, a Agência de Desenvolvimento da União Africana começou a promover o continente como o “destino do século XXI”.
De acordo com estatísticas divulgadas pelo Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, nas iniciais inglesas), em 2018 o número de turistas em África cresceu 5,6%, percentagem muito superior à média no conjunto do globo, situada em 3,2% no mesmo período. Traduzido em números absolutos, isto significa que mais de 67 milhões de turistas visitaram um continente que durante décadas manteve os forasteiros à distância. Basta lembrar que em 1990 os países africanos, no seu conjunto, só receberam 6,7 milhões de visitantes.
Para esta mudança muito tem contribuído o cenário global, durante demasiado tempo associado a guerra, fome e epidemias de todo o género. O turismo funciona como um poderoso agente de paz e progresso, proporcionando a criação de milhões de empregos. E é também um excelente barómetro para avaliar tendências globais: quando aumenta, é sinal inequívoco que os conflitos bélicos estão em regressão. Não por acaso, a Etiópia é a nação do mundo em que o turismo mais cresceu em 2018: um aumento de 48,6%. Precisamente o país do primeiro-ministro Abiy Ahmed Ali, galardoado em 2019 com o Prémio Nobel da Paz.
Esta contínua abertura deve-se também aos progressos que vêm sendo registados em matéria de vistos. Segundo o mais recente Índice de Abertura divulgado em simultâneo pela União Africana e pelo Banco Africano de Desenvolvimento, “os países africanos estão a tornar-se cada vez mais abertos a visitantes de todo o continente, já que a maioria dos países e regiões faz progressos constantes em todos os indicadores de abertura de vistos”. De tal maneira que em 2019 os africanos passaram a ter acesso liberalizado a 51% do continente. Isto apesar de haver apenas dois países – Benim e Seicheles – que permitem o acesso sem vistos a visitantes de qualquer parcela de África.
Segurança e conforto
A mudança está em curso. E levou já os responsáveis turísticos africanos a reunirem-se em cimeira, no ano passado, na cidade sul-africana de Stellenbosch, selando compromissos em matéria de segurança, conforto e apoio permanente ao viajante.
Se o poder político acompanhar esta dinâmica empresarial, as expectativas são de crescimento imparável: 85 milhões de visitantes já no ano que vem e 134 milhões em 2030.
Noutros tempos, pareceria uma miragem. Hoje não é assim. Apesar das catástrofes e devastações a que o continente tem vindo a ser sujeito, ainda é a região do mundo que conserva uma maior diversidade de oferta natural, insuperável a vários títulos. Atrai gente muito diversa em busca de praias imaculadas, selva luxuriante, savanas povoadas de espécies selvagens ou grandes lagos em cujas margens habitam os maiores primatas do globo. Sem esquecer o património histórico ou cultural que atrai milhões a paragens egípcias ou etíopes. Com uma capacidade de sedução sem paralelo noutras paragens.
Na África subsariana, o turismo está em expansão acentuada em países como Gâmbia, Botsuana, Ruanda, Quénia e África do Sul. Marrocos e Senegal mantêm a capacidade de atrair visitantes pela sua oferta incomparável. E Madagáscar tem-se tornado um destino de eleição, sobretudo para turistas asiáticos, que nas novíssimas ofertas hoteleiras da grande ilha conseguem encontrar exotismo e luxo.
Panorama lusófono
Este é um desafio acrescido também para a África lusófona. Moçambique possui algumas das mais deslumbrantes praias do continente – segredo que tem vindo a ser desvendado cada vez com maior insistência nas publicações da especialidade. Angola, superada a guerra, tem imensas potencialidades à espera de investimento em infraestruturas que permitam potenciá-las. São Tomé e Príncipe aposta há anos no turismo. E Cabo Verde vem-se distinguindo também no segmento balnear, aproveitando a sua localização geográfica na rota de três continentes.
A estabilidade é fundamental para atrair turistas. Este continua a ser o maior problema na Guiné-Bissau, onde apesar das convulsões políticas e militares há já empresários estrangeiros a adquirir largas parcelas de terreno em algumas das 88 ilhas que constituem o deslumbrante arquipélago dos Bijagós – várias delas em estado virgem, completamente esquecidas. Replicar aqui o padrão são-tomense ou cabo-verdiano é a meta, com resorts sustentáveis que satisfaçam os mais elevados padrões ambientais. A localização geográfica do país, situado a quatro horas da Europa por via aérea, é outra vantagem potencial.
São Tomé e Príncipe oferece estabilidade política e propicia bom acolhimento aos visitantes. Mas carece de investimento em infraestruturas que permita aumentar o afluxo turístico, como a substituição do terminal de passageiros do aeroporto ou a ampliação do porto de Santo António, no Príncipe, havendo igualmente que superar carências no abastecimento de água e energia. O país recebe por ano cerca de 30 mil turistas – um terço dos quais oriundos de Portugal – que ali procuram as suas florestas verdejantes e as suas deslumbrantes praias. Em 2018, registou um aumento de 7% de visitantes, em comparação com o ano anterior. A progressiva isenção de vistos de entrada para alguns países e o aumento dos voos fretados contribuiu para este acréscimo. Mas há potencialidades para receber mais.
Cabo Verde vem registando também cada vez mais procura. Só os primeiros nove meses deste ano, os estabelecimentos hoteleiros do arquipélago receberam quase 600 mil hóspedes, dando origem a 3,7 milhões de dormidas. Um crescimento homólogo de 7,5% no número de visitantes, face a idêntico período de 2017. A ilha do Sal recebe quase metade (48,4%) do número de entradas, seguindo-se a Boa Vista (29,8%) e Santiago (11,6%). Portugal é o segundo mercado turístico, depois do Reino Unido. Prevê-se que em 2021 o país venha a receber 1,1 milhões de turistas. Mas, para superar novas etapas, necessita de transportes mais baratos, melhorar infraestruturas e diversificar oferta.
Angola e Moçambique têm feito esforços consideráveis para atrair turistas, reduzindo a exigência de vistos. Embora os preços muito elevados e a falta de quadros qualificados sejam obstáculos a contornar com urgência para atrair estrangeiros.
Ângela Bragança, ministra angolana da Hotelaria e Turismo, afirmou em recente visita a Portugal que uma das metas declaradas de Luanda é o desenvolvimento da área que tutela, como veículo de captação de “receitas para o PIB e criação de emprego”. Com apostas declaradas no Ecoturismo no Parque Nacional do Iona, no sul do país, ou na prática de desportos náuticos em Cabo Ledo, a 120 quilómetros da capital. Passando pela ilha do Mussolo, frente a Luanda, ou pela Restinga, em Benguela: há neste momento cadeias internacionais a estudar investimentos nestas zonas.
Em Moçambique, o turismo está em fase de expansão sobretudo em Maputo e nas paradisíacas praias situadas num raio de algumas dezenas de quilómetros da capital. Praticamente todos os grandes grupos hoteleiros de portugueses têm investimentos na Pérola do Índico, que beneficia da proximidade da África do Sul. A recuperação do Parque da Gorongosa, no centro do país, tem contribuído para a recuperação do prestígio de Moçambique como destino turístico de elevado potencial junto de viajantes que cultivam os valores ecológicos. Noutro contexto, unidades hoteleiras de referência, como o histórico e quase centenário Polana, recentemente recuperado por um grupo liderado pelo Fundo Aga Khan para o Desenvolvimento Económico, valorizam o país nas publicações internacionais da especialidade.
Ao contrário de Angola, hoje um país pacificado, Moçambique continua a enfrentar sérios problemas de insegurança. Sobretudo no extremo norte, na província de Cabo Delgado, onde têm ocorrido atentados de um movimento insurgente de matriz islâmica. E há registo regular de surtos de banditismo violentos, designadamente em Manica e Sofala, levando as próprias autoridades a recomendar precaução na circulação rodoviária destas províncias.
Taguspark
Ed. Tecnologia IV
Av. Prof. Dr. Cavaco Silva, 71
2740-257 Porto Salvo
online@medianove.com