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Turquia e a crise dos embaixadores: duas versões para a mesma realidade

As queixas contra a prisão do empresário Osman Kavala e a consequente decisão de expulsão de 10 embaixadores criaram uma crise que está sanada. Mas as versões, com base num mesmo texto, não podiam ser mais opostas. No final, ganharam todos.
  • Recep Tayyip Erdogan
26 Outubro 2021, 17h30

O presidente turco, Recep Erdogan, disse esta segunda-feira que os embaixadores dos países ocidentais que foram chamados para serem expulsos por causa das suas declarações a propósito do empresário turco preso Osman Kavala deram um passo atrás e aceitaram ser mais cuidadosos nas suas tomadas de posição.

Recorde-se que Erdogan disse no passado fim de semana que ordenou que os embaixadores de dez países, incluindo os Estados Unidos, Alemanha e França, fossem declarados persona non grata por pedirem a libertação de Osman Kavala, um empresário turco preso por suposto envolvimento nos protestos e consequentes motins no Parque Gezi, em 2013, tidos como uma espécie de preparação para a tentativa, falhada, de golpe de estado de 2016.

Esta é a versão turca, explanada nos jornais nacionais daquele país. Mas a versão ocidental é ligeiramente diferente. Para os jornais ocidentais, e depois de iniciativas diplomáticas tão complicadas quanto complexas, as duas partes conseguiram acordar uma situação de compromisso em que a redação de um termo aceite por todos permite uma saída airosa para o presidente turco – que até ao último instante estava disposto a avançar mesmo com a expulsão, o que seria inédito e imensamente embaraçoso para a Turquia. As consequências desta ação do presidente, se tivesse chegado a vias de facto, seria suficiente para criar uma crise explosiva em torno da Turquia.

Mesmo assim, alguns estragos já são irremediáveis: as relações entre a Turquia e os seus parceiros ocidentais – entre os quais se contam os seus principais parceiros comerciais – estão num dos piores momentos de que os analistas têm memória.

Voltando à versão turca, Erdogan teria “recebido positivamente” as declarações das embaixadas dos Estados Unidos, Canadá, Finlândia, Suécia, Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia, Holanda, Alemanha e França de que cumprem o Artigo 41 da Convenção de Viena sobre Diplomatas Relações, que descreve os deveres dos diplomatas de respeitar as leis do estado anfitrião e não interferir nos assuntos internos.

Ora, segundo estes países, os seus diplomatas respeitaram o referido artigo mesmo quando se insurgiram contra a prisão, há mais de quatro anos, de Osman Kavala. Ou seja, cada uma das partes retira da frase aquilo que lhe apetece – o que é no fundo uma das essências da diplomacia.

“Acreditamos que esses embaixadores, que cumpriram o seu compromisso com o Artigo 41 da Convenção de Viena serão agora mais cuidadosos nas suas declarações”, disse Erdogan em declarações transmitidas pela televisão após uma reunião do seu gabinete.

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