Primeiro foi uma hipótese meramente académica, depois uma narrativa da retórica de guerra, mais tarde um cenário decorrente de exercícios militares e finalmente é uma ameaça real: a evolução da guerra na Ucrânia para o conflito nuclear está na agenda de todos os países e no medo agora consciente de muitos europeus. Dois motivos impuseram essa mudança: o facto de a Rússia ter dito que recorreria às armas nucleares se considerasse que o seu território estaria ameaçado (a Constituição diz isso mesmo); e a alteração do posicionamento de alguns países aliados da Ucrânia, que avançaram com a hipótese de as suas armas e os seus soldados poderem atacar a Rússia. Seria a Rússia em guerra com a NATO? Não: será a Rússia em guerra com Estados-membros da NATO – o que, em termos da utilização de armas nucleares (mesmo que apenas táticas) e das vidas que com elas se perderem, é a mesma coisa.
“Toda esta escalada tem a ver com a forma como o Ocidente vai digerir a vitória da Rússia, cada vez mais evidente. E como não há um plano para fazer face a isso, alguns países vão criando cenários. Todos os dias”, diz o analista e militar Carlos Branco em declarações ao JE. No meio do atoleiro em que a Europa se vai transformando, o Major-General encontra o ponto de ‘desanuviamento’: “os Estados Unidos não querem entrar em guerra com a Rússia, até porque sabem que as guerras longe de casa são muito difíceis de ganhar. Estão aí os exemplos do Vietname e da Coreia para provar isso mesmo”.
Mas a ‘inocência’ dos Estados Unidos fina-se aqui: “o plano era criar uma situação insustentável à Rússia – nomeadamente na economia – que levasse a uma possível mudança do regime. Ora, não é nada disso que está a passar-se”, e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky já terá reparado que o seu país foi ‘usado’ para uma finalidade que não estaria na agenda de Kiev. “Daí os desentendimentos cada vez mais visíveis entre a Ucrânia e os Estados Unidos”.
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