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Ucrânia: Zelensky busca um lugar à mesa com Trump e Putin

Os ministros das Relações Exteriores da União Europeia reúnem-se esta segunda-feira para discutir os próximos passos numa matéria em relação à qual estão desde a primeira hora afastados.
11 Agosto 2025, 07h00

O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky obteve este domingo apoio da Europa e da NATO para angariar apoio diplomático antes da cimeira entre Rússia e Estados Unidos que deverá ocorrer esta semana: o líder ucraniano quer sentar-se na cimeira – o que parece ser sensato dado que a paz no seu país é o prato forte em cima da mesa. Kiev teme que Vladimir Putin e Donald Trump tentem ditar os termos para o fim da guerra que decorre há três anos e meio – num encontro que terá lugar no Alasca, território russo até 1867, que o vendeu aos Estados Unidos por 7,2 milhões de dólares. Trump, que durante semanas ameaçou impor novas sanções à Rússia por não conseguir interromper o conflito, anunciou na sexta-feira passada que realizaria a cimeira com Putin em 15 de agosto.

A Casa Branca, que se iludiu com a possibilidade de manter um canal de diálogo eficaz com a Rússia nos últimos meses, antes de perceber que esse canal pura e simplesmente não existia – diz que Trump está aberto à presença de Zelensky, mas que os preparativos são para uma reunião bilateral com Putin. Por seu lado, o líder do Kremlin descartou um encontro com Zelensky, repetindo que não há ainda condições para a sua presença à mesma mesa.

Trump disse que um possível acordo envolveria “alguma troca de territórios para o bem de ambos (os lados)”, uma declaração que aumentou o alarme ucraniano de que pode enfrentar pressão para entregar os territórios que os russos já controlam: parte do Donbass (quase 20% do país) e, evidentemente, a Crimeia – que nem sequer figura no ‘menu’.

Zelensky afirma que quaisquer decisões tomadas sem a Ucrânia estarão “mortas à partida” e serão impraticáveis. No sábado, os líderes do Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Polónia, Finlândia e a Comissão Europeia afirmaram que qualquer solução diplomática deve proteger os interesses de segurança da Ucrânia e da Europa – que é o mesmo que dizer que querem impor a retirada das tropas russas do leste da Ucrânia. “Os EUA têm o poder de forçar a Rússia a negociar seriamente”, disse a chefe de política externa da União, Kaja Kallas, este domingo. “Qualquer acordo entre os EUA e a Rússia deve incluir a Ucrânia e a UE, pois é uma questão de segurança para a Ucrânia e para toda a Europa.” Já ficou demonstrado antes que os Estados Unidos não têm a menor intensão de levar em consideração as vontades da União Europeia.

Os ministros das Relações Exteriores do bloco dos 27 reúnem-se esta segunda-feira para discutir os próximos passos numa matéria em relação à qual estão desde a primeira hora afastados. Mas a União sabe que Trump se desiludiu com Putin, o que permite a abertura de uma janela de oportunidade para que o bloco volte a ter algum ‘voto na matéria’.

O secretário-geral da NATO, o neerlandês Mark Rutte, disse à rede americana ABC News que a cimeira de sexta-feira “será para testar Putin, o quão sério ele está em pôr fim a esta guerra terrível”. E acrescentou: “será, é claro, sobre garantias de segurança, mas também sobre a necessidade absoluta de reconhecer que a Ucrânia decide o seu próprio futuro, que a Ucrânia tem que ser uma nação soberana, decidindo o seu próprio futuro geopolítico.”

Rutte, que já habituou os seus ouvintes a nada dizer que vá contra os ditames da Casa Branca, disse que um futuro acordo de paz não poderia incluir o reconhecimento legal do controlo russo sobre terras ucranianas, embora pudesse incluir o reconhecimento de facto. E comparou a situação ao que sucedeu após a Segunda Guerra Mundial, quando os Estados Unidos aceitaram que os estados bálticos da Letónia, Lituânia e Estónia seriam de facto controlados pela União Soviética, mas não reconheceram legalmente sua anexação.

Uma autoridade europeia citada por vários jornais afirmou que a Europa apresentou uma contraproposta à de Trump, mas recusou fornecer detalhes. Autoridades russas acusaram a Europa de tentar frustrar os esforços de Trump para pôr fim à guerra. “Os euro-imbecis estão a tentar impedir os esforços norte-americanos para ajudar a resolver o conflito ucraniano”, postou o ex-presidente russo Dmitry Medvedev nas redes sociais este domingo. Também a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, disse que o relacionamento entre a Ucrânia e a União Europeia se assemelha a “necrofilia”.

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