As vendedoras informais cabo-verdianas começaram a ficar em casa, como prevê a declaração de estado de emergência, mas ainda não sabem como aceder ao subsídio de 90 euros para as famílias afetadas pelas medidas restritivas.
Há 22 anos a vender nos diferentes mercados da Praia, Ondina Semedo, mais conhecido por ‘Mana’, montou banca há quatro anos no mercado da Terra Branca, onde vende frutas, legumes e verduras frescas. Com as medidas restritivas do estado de emergência, que limitam movimentos da via pública e concentração de pessoas, para prevenir a propagação da pandemia da covid-19, disse que tomou “de consciência” a “previdência” de ficar em casa, junto com a família e vizinhos.
“Tive que pensar na vida e na saúde em primeiro lugar”, sublinhou à Lusa esta vendedora, que disse que teve conhecimento do subsídio do Governo através da televisão, mas não sabe quando e como lhe será atribuído. “Não sei se será em casa ou no mercado onde trabalho”, afirmou esta vendedora informal, referindo também que ainda não recebeu qualquer contacto da Câmara Municipal da Praia.
O mercado da Terra Branca, tal como nos bairros da cidade da Praia, estão a funcionar, mas com apenas metade das vendedoras, em regime de diário de rotatividade.
Itelvina Cabral, de 53 anos, natural do concelho da Ribeira Grande de Santiago (Cidade Velha), vende peixe há 33 anos. Neste momento exerce no mercado do Sucupira, na cidade da Praia, e também faz entrega ao domicílio. Todos os dias, sai da Cidade Velha às 06:30 em direção à capital do país, para vender peixe, serviço que partilha com a filha, uma de cinco. Com as medidas restritivas adotadas, o mercado do Sucupira encerrou desde sexta-feira para venda de roupas e alimentos até 17 de abril, deixando Itelvina Cabral em casa.
Esta vendedora disse também à Lusa que só ficou a saber do subsídio do Governo através da televisão e por algumas colegas e vizinhos e que até agora não teve contacto de nenhuma autoridade, nem da Cidade Velha, nem da cidade da Praia. Considerou que deveria pelo menos ter alguma informação do Serviço Público de Abastecimento Município Praia (SEPAMP), organismo responsável pelos mercados municipais. Mesmo ainda sem ter informação oficial dos contornos do subsídio, esta vendedora de peixe considerou tratar-se de uma “boa ajuda” para muitas famílias.
“Pelo menos dá para comprar comida. No meu caso, tomo conta de um filho de uma irmã, de seis anos e doente mental, pelo que o subsídio será uma boa ajuda”, salientou Itelvina, lamentando ainda um prejuízo de 25 mil escudos (226 euros) de peixe por ter deixado de vender temporariamente no maior mercado a céu aberto de Cabo Verde.
O Governo cabo-verdiano tomou medidas de proteção social das famílias e do rendimento dos que operam no setor informal da economia e que ficam afetados pelas medidas restritivas de combate ao novo coronavírus. Assim, uma das medidas foi implementar um Regime de Rendimento Solidário para trabalhadores do Regime Especial da Mico e Pequenas Empresas (REMPE) e por conta própria do setor informal, incluindo vendedores do comércio informal e dos mercados municipais.
Fica garantido a esses trabalhadores um valor de 10 mil escudos (90 euros) para um período de um mês, num conjunto de medidas que serão implementadas pelo Governo e as Câmaras Municipais, em parceria com as organizações não governamentais e com os parceiros internacionais e em concertação com as recomendações do Conselho Nacional da Proteção Civil.
O executivo prevê beneficiar 30 mil trabalhadores, representando um investimento de 300 milhões de escudos (272 mil euros), para um período de um mês.
Cabo Verde regista seis casos da Covid-19, nas ilhas da Boa Vista e de Santiago (Praia), e um óbito. Em cada uma das ilhas há um caso de transmissão local da doença.
O país entrou esta terça-feira no terceiro dia do estado de emergência, declarado no sábado pelo Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca. No continente africano, já morreram 152 pessoas e registaram-se 4.871 casos da Covid-19 em 46 países.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de 750 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 36 mil. Depois de surgir na China, em dezembro de 2019, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
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