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Veniam: uma startup balançada entre o Porto e Nova Iorque

Ligar os automóveis entre si, o que os coloca como radares de dados e informação à solta pela cidade, foi o primeiro desafio da empresa liderada por João Barros. Agora, o limite é a utopia. Ou a bolsa de Nova Iorque.
20 Dezembro 2018, 11h15

Tornou-se conhecida dos portuenses e mais tarde do resto do país por ter arranjado uma engenhosa forma de colocar wifi no interior dos autocarros da STCP – transformando-os numa espécie de extensão das salas de estar particulares da cidade – mas já antes disso tinham dado mostras de serem uma tecnológica com grande potencial. A Veniam aposta forte na mobilidade e na conexão entre automóveis e para o seu CEO e fundador, João Barros, a visão de uma cidade percorrida apenas por carros autónomos – subtraídos à influência negativa dos erros de condução que se verificam a todo o momento em todo o lado – ainda é uma utopia. Mas uma utopia que é possível e que está ali ao virar da próxima nuvem – o sítio para onde a empresa envia terabites de dados que são posteriormente partilhados.

Em princípio era para ser tudo diferente: João Barros estava acantonado numa confortável carreira docente de professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, até ter descoberto que a sua vocação era outra coisa.”A Veniam é uma spin off da universidade de Aveiro, do Porto e do Instituto de Telecomunicações”, que em 2011 descobriu que “tínhamos uma tecnologia muito disruptiva, que permitia montar redes em veículos, ligando-os uns aos outros, com acesso à internet”, o que permitia agregar enormes quantidades de dados sobre a própria cidade, em tempo real. João Barros e Susana Sargento, da Universidade de Aveiro estavam onde queriam.

A apresentação do projeto no prestigiado MIT parece ter mudado tudo. Não no projeto – que estava já bem balanceado – mas nas portas que se abriram, a partir daí. E abriram-se muitas: a tecnologia – software inteligente de rede – encantou principalmente os grupos construtores de automóveis o que fez com que, quase naturalmente, cinco anos depois, a Venian tivesse ellan  suficiente para levantar 30 milhões de dólares de capital de risco, a maior vinda de Silicon Valley, na Califórnia. No quadro acionista, é quase só gente famosa: True Ventures, Verizon, Cisco, Orange, Yamaha e Liberty Global.

Aos 42 anos, João Barros, que nasceu em Coimbra e tem uma empresa que está instalada no Porto – onde trabalham 53 colaboradores, cerca de 80% do total – em Detroit, Munique e Tóquio, considera que “os portugueses são demasiado modestos”, uma vez que “temos muito boa reputação no setor automóvel”, entre outros, só nos esquecendo de que também é preciso ‘saber vender’ o know how nacional.

Mas de vendas, João Barros considera que sabemos pouco. Foi esse, aliás um dos problemas que detetou na empresa. Será por certo por isso que a Veniam tem executivos de vendas de origem alemã, norte-americana e japonesa. Passa-se o contrário com as engenharias: “em certos nicos, somos os melhores”, afirma, o que o leva a afirmar que a academia nacional ainda tem algum caminho a fazer até tornar-se uma entidade com todas as ‘skills’ que importam no mundo global e brutalmente competitivo onde, quer queira quer não, está inserida.

“A universidade devia aumentar em muito o número de estudantes universitários nas engenharias”, até porque João Barros está convencido que “Portugal é um país de startups” que se vai afirmando nas mais diversas áreas. Como a Farfetch, por exemplo – que, desde que entrou na bolsa de Nova Iorque, tem servido como uma espécie de estrela-guia que ilumina a utopia das outras startups nacionais. “a Farfech é muito motivadora para o ecossistema da inovação nacional”, assume o fundador da Veniam.

Impunha-se por isso a pergunta: para quando a Veniam na bolsa? Longe de ser um caminho que amedronta, é possivelmente o caminho que a empresa acabará por seguir. E não é por causa de qualquer dificuldade em levantar dinheiro para novos investimentos: o elenco acionista permite um regime de investimentos que não é um problema. A bolsa – a de Nova Iorque, como é evidente – é por isso um projeto que não está no radar imediato, mas é uma hipótese que, pelas palavras de João Barros, está equacionado como um movimento que, a seu tempo, fará todo o sentido.

Mas isso é lá mais para a frente, no futuro: uma altura em que, espera o engenheiro de eletrónica e computadores, o Estado se preocupe em gastar mais dinheiro nas universidades e no apoio à investigação, e os automóveis que circularem na cidade do Porto forem uma zona de lazer, que os passageiros usam para trabalhar, ler ou simplesmente não fazer nenhum.

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