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Zeitgeist

Por outras palavras, trata-se de um quadro que se carateriza pela dinâmica científica e cultural, construindo uma boa reputação do país, contando com a colaboração de funcionários públicos diligentes e acesso facilitado a recursos, designadamente financeiros e recursos humanos qualificados, entre outros fatores.
4 Setembro 2018, 07h15

O século XVI é considerado a era dourada de Portugal. A partir do mar, os portugueses empreenderam a exploração do mundo, inovando em diversas áreas do conhecimento, designadamente no âmbito dos negócios e das finanças. Neste sentido, o nosso capitalismo de Estado, do início da Europa Moderna, é consensualmente considerado por diversos autores, como um dos feitos mais extraordinários da época, contribuindo de forma decisiva para a afirmação, em definitivo, de Portugal como uma entidade política independente.

Um efeito visível desse fenómeno de desenvolvimento e crescimento económico, foi a ascensão da capital, Lisboa, no panorama internacional. Com efeito, no século XVI Lisboa era a quinta maior cidade da Europa, e desde o século XVI até o século XIX, esteve sempre no top dez das cidades do mundo. Uma obra notável para um pequeno país, com uma população tão reduzida como Portugal.

Portugal demonstrou reunir, na época, condições intelectuais e culturais extraordinárias, beneficiando todos, especialmente os empreendedores que estavam no lugar certo no momento indicado. A este fenómeno os alemães chamam de zeitgeist. Por outras palavras, trata-se de um quadro que se carateriza pela dinâmica científica e cultural, construindo uma boa reputação do país, contando com a colaboração de funcionários públicos diligentes e acesso facilitado a recursos, designadamente financeiros e recursos humanos qualificados, entre outros fatores.

É um cenário deste tipo que qualquer empreendedor procura para expandir as suas ideias e negócios. Com certeza pelo facto de não reunirmos, atualmente, essas condições, os nossos próprios grupos económicos, procuram outros países, como por exemplo a Holanda, para se instalarem e desenvolverem.

Voltando ao século XVI, para termos consciência da nossa grandiosidade, um dos maiores bancos da Europa e, por conseguinte, do Mundo, era português. A instituição pertencia à família Mendes e foi liderado por uma mulher, Dona Grácia Mendes, também conhecida pelo nome de Beatrice de Luna. A partir de Portugal e com filial em Antuérpia, a “Senhora” financiava entidades e autoridades nacionais e estrangeiras, como por exemplo o Imperador Carlos V e a Rainha Maria.

Volvidos 500 anos, o maior banco de Portugal é estrangeiro. Acresce que a queda dos nossos bancos, alguns de tradição familiar, significam a perda total de influência portuguesa na banca nacional, para não falar no mundo. Desta forma, “A Senhora”, em particular, e o empreendedorismo, em geral, simbolizavam um Portugal inovador, rico e poderoso, que ao longo dos séculos se perdeu.

Assim, falta a Portugal criar as condições adequadas para um novo zeitgeist. A estratégia poderá passar por dar condições aos nossos quadros científicos, não apenas os que trabalham em Portugal, mas também os que estão dispersos pelo mundo, de forma a que possam realizar o seu potencial. Para o efeito, será necessário criar as condições de atração e retenção de talentos, que os outros países, nossos concorrentes, oferecem num mundo global e aberto.

Ainda em termos estratégicos, um tanto curiosamente, o mar poderá ser novamente o nosso futuro. Atualmente, não como meio para atingir um fim, que nos levou ao Brasil e à Índia, entre outros lugares, mas como destino final. É neste âmbito que devemos entender as nossas ilhas, Açores e Madeira, cujo valor estratégico aumenta substancialmente para o nosso país.

Por falar em destino, recordemos novamente a poesia da jovem que escreve sob o nome de Maria Ninguém (https://www.mariaeneminem.com/):

Destino:

Enquanto o Sol se põe e a lua nasce, o mundo para.

E podemos todos desejar que tudo mude ou continue igual.

Porque o que se transforma,

Depende do que fica intacto,

E o que fica, guarda o que vai embora?

Se o destino está escrito e é inquebrável,

Porque muda tudo a todo o momento?

Porque é o destino.

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