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Bruxelas e Roma batem de frente. Impasse orçamental faz subir as tensões europeias

Numa decisão inédita, a Comissão Europeia chumbou o OE italiano. A resposta do país foi peremptória: “Não nos rendemos”, disse o primeiro-ministro Luigi de Maio. O aumento das tensões afundou bolsas e fez disparar juros das dívidas.
Itália
24 Outubro 2018, 07h45

O Governo italiano e a Comissão Europeia chegaram a um impasse no que diz respeito ao Orçamento do Estado para 2019. Numa decisão inédita, Bruxelas rejeitou esta terça-feira a proposta e pediu uma versão retificada a Itália, que respondeu não só que não tem plano como que não se rende.

Os juros das dívidas subiram com o aumento das tensões, enquanto as bolsas afundaram. Com as eleições europeias de 2019 no horizonte, o risco de um ambiente hostil poderá acentuar a volatilidade.

O comissário europeu para os Assuntos Económicos Pierre Moscovici garantiu que “a Comissão Europeia não quer uma crise entre Bruxelas e Roma”, mas sim um “diálogo construtivo”. O futuro das relações entre Bruxelas e Roma é, no entanto, incerto e mesmo que o governo italiano ceda em fazer algumas alterações, poderá não ser suficiente para acalmar os ânimos.

O economista senior do ING Paolo Pizzoli explicou, numa nota, que a pressão no mercado de dívida italiano deverá levar o governo italiano a fazer algumas concessões na forma de “alterações limitadas ao texto atual”.

A expetativa é que as metas para os próximos anos se mantenham, mas que haja um compromisso de  rever o ajustamento estrutural entre 2020 e 2022. Ainda assim, “isso não provavelmente não seria suficiente para impedir a Comissão de reabrir um procedimento por défices excessivos contra Itália, mais provavelmente em 2019”, diz.

“Com as eleições europeias de 2019 a aproximarem-se, o risco é que o governo italiano mantenha uma atitude desafiadora em relação à Europa nos próximos meses, sem levar a relação ao extremo. Este é um ambiente que tenderá a manter elevada a volatilidade no mercado de obrigações do governo italiano”, antecipa ainda Pizzoli.

Bruxelas deu um prazo de três semanas a Itália para enviar uma nova proposta de OE2019. Desde do reforço de poderes sobre as propostas de orçamentos dos Estados membros foram reforçados, em 2013, nunca tal tinha acontecido. A disputa centra-se no aumento do défice para 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB), em 2019, proposto pelo Executivo liderado pelo partido de direita Liga e pelo anti-establishment Movimento 5 Estrelas.

A meta representa uma subida face à projeção de 1,8% este ano e fica acima das exigências da União Europeia (UE). Mas o vice-primeiro ministro, Luigi de Maio, garantiu, em entrevista à Bloomberg, que não há um plano B. “É o primeiro orçamento italiano concebido em Roma e não em Bruxelas!”, acrescentou no Twitter. “Não nos renderemos”.

yield da dívida italiana a 10 anos disparou 10,2 pontos base para 3,59%, contrariando a tendência de recuo no risco das obrigações dos países da zona euro. No caso das bolsas, o efeito foi contrário, o FTSE MIB italiano caiu apenas 0,70%, enquanto o pan-europeu Euro Stoxx 600 perdeu 1,49%, o francês CAC 40 perdeu 1,53%, o alemão DAX desvalorizou 2,17% e o português PSI 20 recuou 1,72% para mínimos de mais de um ano.

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