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Crises

Assiste-se a uma flagrante disparidade de salários em Portugal, com gestores de topo a auferir milhares (milhões…) de euros (e muitos deles em funções públicas) e uma grande maioria de assalariados, cujos salários, de forma crescente, os impedem de cobrir os custos das suas necessidades básicas mensais.
12 Dezembro 2023, 08h14

Andava o país de si já abalado com a crise na habitação, crise na educação pública, crise na saúde e eis que nos “prendam” com mais uma crise, desta feita uma crise política.

Os efeitos para os portugueses, resultantes desta confluência de crises, são devastadores, para mais quando o ganho médio em Portugal está na cauda dos demais países europeus, com um país possivelmente a caminhar para a recessão, acumulando mais uma crise: a crise económica. E a crise social. E tudo, agravado pelo descrédito do atual governo PS.

Os preços da habitação (apelativos para alguns estrangeiros, que queiram mudar para cá) são proibitivos a uma população que tem o 6º salário médio bruto anual mais baixo da OCDE [24.557 euros em Portugal contra 59.981 euros nos EUA, ou  34.508 euros em Espanha (dados retirados de um estudo de Eugénio Rosa)]. Mesmo com as subidas sucessivas do Salário Mínimo Nacional (SMN) em Portugal, prevendo-se que atinja em breve os 810 euros, salários esses que não se fizeram sempre acompanhar dos salários médios, não se prevê quaisquer melhorias no poder de compra dos portugueses.

Segundo a PORDATA, levamos, portugueses, para casa um salário médio mensal de mil e poucos euros (até porque a inflação não permitiu um aumento maior do mesmo para que pudesse chegar pelo menos aos 1.400 ou 1.500 euros) – e note-se o seguinte dado como um indicador de pobreza no nosso país: o salário médio das mulheres em 2021 era cerca de menos 223 euros do que o dos homens! – enquanto os espanhóis, aqui ao lado, levam mensalmente cerca de 2.000 euros, ou mais, para casa. Como resultado, assiste-se a um aumento enorme da pobreza e ao empobrecimento da classe média, mas ao enriquecimento de uma minoria…

Assiste-se a uma flagrante disparidade de salários em Portugal, com gestores de topo a auferir milhares (milhões…) de euros (e muitos deles em funções públicas) e uma grande maioria de assalariados, cujos salários, de forma crescente, os impedem de cobrir os custos das suas necessidades básicas mensais. Facto, é que a vida está cada vez mais cara entre nós, portugueses. Não conseguimos alugar uma casa (os preços das casas batem recordes nunca vistos); a inflação na alimentação é assustadora (é ver a exponenciação recente de preços em bens como o azeite, entre outros…). A energia voltou a ficar mais cara, com o preço dos combustíveis próximo dos máximos e, enquanto isto tudo, os nossos salários não sobem, ou quando sobem não correspondem à inflação. Em suma, temos salários baixos para gastos tão elevados! E como se não bastasse, assiste-se à passividade quer governamental quer do Banco de Portugal que parece ignorar a missão que lhe assiste.

E quando, num país, a educação e a saúde estão em crise, o combate à desigualdade e à pobreza é ainda mais difícil. Vivenciamos, tristemente, uma conjuntura socioeconómica e política incapaz de dar respostas aos desafios de custo e de condições de vida que o país atravessa – assente numa economia de baixos salários e em atividades de baixa produtividade, sem investimento, sem inovação.

Enquanto isto, claro, os lucros avultados da banca (que inclui a CGD, o banco público, cujos juros cobrados por um crédito dispararam, mesmo que o crédito tenha diminuído) crescem obscenamente à custa do sacrifício e das crescentes dificuldades das famílias (muitas, em risco de perderem a sua habitação face à imoralidade dos juros da habitação)  e das pequenas e médias empresas. Tudo isto, com a bênção e complacência de Mário Centeno, a quem até se apontou para que fosse o novo primeiro-ministro de Portugal…

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