A Bolsa de Lisboa registou, em outubro, a pior performance mensal desde junho de 2016, com uma desvalorização de 6,1% ou 4,2 mil milhões de euros de capitalização de mercado. Na altura, a razão foi o tombo foi o Brexit. Desta vez, os analistas apontam para um efeito contágio não só vindo da Europa – onde o Euro Stoxx 50 caiu 5,9% -, mas também dos EUA, onde as principais bolsas perderam 6,9%.
“Foi um mês negro para a generalidade das praças mundiais, com quedas acentuadas nos principais ativos de risco e uma fuga para ativos que (em teoria) oferecem maior proteção, como as obrigações soberanas ou o dólar”, explicou João Pisco, analista do Bankinter, em declarações ao Jornal Económico.
A earnings season está a deixar um “sabor agridoce”, segundo o analista. Por um lado, as empresas continuam a bater as expetativas, com crescimentos de resultados na ordem dos 25% nos Estados Unidos.
Por outro, algumas das gigantes tecnológicas, como a Amazon, a Alphabet ou, mais recentemente, a Apple, têm apresentado um guidance de resultados para os próximos exercícios mais conservador. As alterações estão a levar a uma onda de revisão em baixa de estimativas, que embora se mantenham elevadas, obrigam a uma correção dos múltiplos de avaliação.
“Em paralelo, acentuou-se o nervosismo dos investidores perante riscos que já estavam em aberto: indisciplina orçamental de Itália, impasse nas negociações do Brexit e a guerra comercial”, refere João Pisco.
Bolsa de Lisboa aproxima-se da referência europeia
A equipa do BiG Research sublinha que a maioria dos constituintes do PSI 20 (15 em 18) encerraram o mês no vermelho. “A Mota-Engil (-16,29%) e Corticeira Amorim (-15,65%) apresentaram as perdas de maior magnitude. A Navigator (+4,31%), Sonae Capital (+3,91%) e CTT (+0,41%) foram os únicos títulos que encerraram com ganhos”, explicou.
Em ambos os casos, os analistas concordam que a correção da praça nacional esteve relacionada com o efeito de contágio dos índices acionistas globais. No entanto, também houve notícias que determinaram as negociações. Foi o caso da Jerónimo Martins, que reportou resultados dececionantes já próximo do final do mês de outubro e que foram recebidos pelos investidores com uma queda de 5,7% na sessão posterior à apresentação das contas trimestrais.
Pela positiva, a Navigator beneficiou de sólidos fundamentais de negócio e dos constantes aumentos de preço da pasta de papel, aliados à decisão do Departamento do Comércio dos EUA em aplicar uma taxa anti-dumping de apenas 1,75%, em vez dos 37,34% anteriormente anunciados.
“O PSI 20 apresentou quedas mais elevadas face ao mercado europeu, mas menores em comparação com o mercado norte-americano. Os principais temas de negociação dos mercados em outubro foram volatilidade devido às guerras comerciais e desaceleração da China e a temporada de resultados”, sublinhou o BiG.
Da mesma forma, o Bankinter destaca que o PSI 20 foi o índice que mais se destacou na Europa nos primeiros meses do ano, sendo que o diferencial face ao EuroStoxx-50 chegou a alcançar os 10% em julho. “Uma euforia talvez excessiva dos investidores em relação às ações nacionais, que agora tem vindo a corrigir nos últimos meses: o PSI 20 já caiu cerca de 13% desde os máximos alcançados em maio”, acrescentou João Pisco.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com