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A maior lacuna do discurso político português

Os temas para as legislativas que se avizinham não são novos, já todos ouvimos os problemas das carreiras dos professores, as faltas de efetivos na saúde, a crise da habitação que persiste sem solução à vista, as pensões e o novo aeroporto de Lisboa.
16 Janeiro 2024, 11h12

Dado o cenário de novas eleições, os atores políticos já arregaçaram as mangas, entraram em modo campanha, e a cobertura mediática intensificou.

Os temas para as legislativas que se avizinham não são novos, já todos ouvimos os problemas das carreiras dos professores, as faltas de efetivos na saúde, a crise da habitação que persiste sem solução à vista, as pensões e o novo aeroporto de Lisboa.
Vamos novamente a votos, e da esquerda à direita a segurança nunca foi nem é tema, por infelicidade e para perda do sistema político português, não há nem no CHEGA, um actor político que se lembre das forças de segurança.
Não pretendo apelar à desordem nem ao caos, mas como disse Salgueiro Maia, há momentos para tudo, e por via da sorte, ou irresponsabilidade política, está na altura de afrontar o sistema político português.
As forças de segurança foram e continuam a ser a maior lacuna do discurso político em Portugal. Para as próprias forças de segurança o sentimento é que não são cidadãos de primeira, têm menos direitos, mais obrigações e são ainda esquecidos ou alvo de ofensas e insultos.
Sou suspeito neste tema, sou filho de 2 polícias e desde pequeno lido com muitos elementos das forças de segurança, seja por via de amizade dos meus pais ou da sua profissão, adquiri desde cedo um enorme respeito e admiração pelos homens e mulheres de farda e de crachá ao peito que dão o corpo às balas por todos nós. De qualquer forma, deixem-me fazer um pequeno retrato do que se está a passar e de qual será a consequência económica da falta de investimento, valorização e respeito pelas forças de segurança.
Primeiro, é cada vez mais notório o crescimento do sentimento de insegurança em Portugal, e não é um fenómeno circunscrito a Lisboa, portanto, não é nem será um fenómeno que recai em migrantes ou a grandes concentrações urbanas. A criminalidade violenta aumentou cerca de 2.3% no primeiro quadrimestre do ano, enquanto a criminalidade em grupo e juvenil aumentou, 8.8% e 32.5%, respetivamente. O número de detenções aumentou ainda 3.2%, sendo que os crimes de desobediência, tráfico de droga e crimes com recurso a armas brancas aumentaram de forma considerável. Tudo isto culmina num aumento geral do crime de 12% em relação ao período homólogo de 2022 (dados obtidos da notícia do dia 11/05/2023 da CNN).
A insegurança é hoje sentida até na pacata ilha da Madeira, mais concretamente no Funchal, onde à luz do dia são vários os “toxicodependentes” que vagueiam pela cidade, injetam-se à luz do dia sem o menor pudor ou cuidado, são também vários os turistas que são alvo de assaltos na sua passagem, e são cada vez mais recorrentes as rixas na noite e os esfaqueamentos. Por um lado, as notícias deixaram de se cingir a títulos de violência doméstica (que não desapareceu nem diminui) e dá lugar a diversos relatos de crimes, igualmente obscenos e que em nada refletem um dos países mais seguros do mundo.
Contudo, as más noticias não ficam por aqui, ainda recentemente na CNN (dia 6 de Novembro 2023) ficamos a saber que um relatório das secretas indica que cerca de 1000 elementos do PCC (Primeiro Comando da Capital – maior organização criminosa do brasil que controla a maioria do tráfico de cocaína da América do Sul com destino à Europa). Ficamos ainda a saber, que parte dos tiroteios e homicídios que acontecem em Lisboa são ajustes de contas do PCC no decorrer dos seus negócios.
A isto somamos a crescente desobediência civil em relação às autoridades, o crescente descontentamento social perante anos e anos de má e fraca política, e claro a total desvalorização das forças de segurança, que inevitavelmente culmina numa receita para a desgraça.
Numa perspectiva económica, a insegurança prejudica o sector do turismo que segundo projeções do WTTC poderá atingir os 16.8% do PIB português em 2023. Partindo daqui inferir o impacto negativo no turismo e demais sectores económicos portugueses não é um exercício complexo, a falta de segurança rapidamente faz-se sentir e afugenta turistas e investimento. A violência que cresce em Portugal terá então 3 efeitos imediatos no país, a redução da massa crítica que encontrará na falta de segurança mais um incentivo para votar com os pés, a alocação de mão-de-obra e de capital para o de combate ao crime ou em equipamentos para suporte a este (comprometendo a alocação ótima dos recursos em sectores e indústrias com maior valor acrescentado), e ainda a diminuição da produtividade.
O que para mim e para os elementos das polícias de segurança pública parece óbvio, é que este cenário dantesco, realidade em toda a América do Sul e lentamente em outros países europeus, podia facilmente ser evitada.
Por teimosia as forças políticas portuguesas preferem correr atrás do prejuízo, esquecendo e ostracizando do debate político todos os homens e mulheres que diariamente correm riscos para garantir a segurança e bem-estar dos portugueses. Para o bem de todos, precisamos nos aliar e apoiar os nossos anjos azuis até que sejam ouvidos.
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