Dado o cenário de novas eleições, os atores políticos já arregaçaram as mangas, entraram em modo campanha, e a cobertura mediática intensificou.
Os temas para as legislativas que se avizinham não são novos, já todos ouvimos os problemas das carreiras dos professores, as faltas de efetivos na saúde, a crise da habitação que persiste sem solução à vista, as pensões e o novo aeroporto de Lisboa.
Vamos novamente a votos, e da esquerda à direita a segurança nunca foi nem é tema, por infelicidade e para perda do sistema político português, não há nem no CHEGA, um actor político que se lembre das forças de segurança.
Não pretendo apelar à desordem nem ao caos, mas como disse Salgueiro Maia, há momentos para tudo, e por via da sorte, ou irresponsabilidade política, está na altura de afrontar o sistema político português.
As forças de segurança foram e continuam a ser a maior lacuna do discurso político em Portugal. Para as próprias forças de segurança o sentimento é que não são cidadãos de primeira, têm menos direitos, mais obrigações e são ainda esquecidos ou alvo de ofensas e insultos.
Sou suspeito neste tema, sou filho de 2 polícias e desde pequeno lido com muitos elementos das forças de segurança, seja por via de amizade dos meus pais ou da sua profissão, adquiri desde cedo um enorme respeito e admiração pelos homens e mulheres de farda e de crachá ao peito que dão o corpo às balas por todos nós. De qualquer forma, deixem-me fazer um pequeno retrato do que se está a passar e de qual será a consequência económica da falta de investimento, valorização e respeito pelas forças de segurança.
Primeiro, é cada vez mais notório o crescimento do sentimento de insegurança em Portugal, e não é um fenómeno circunscrito a Lisboa, portanto, não é nem será um fenómeno que recai em migrantes ou a grandes concentrações urbanas. A criminalidade violenta aumentou cerca de 2.3% no primeiro quadrimestre do ano, enquanto a criminalidade em grupo e juvenil aumentou, 8.8% e 32.5%, respetivamente. O número de detenções aumentou ainda 3.2%, sendo que os crimes de desobediência, tráfico de droga e crimes com recurso a armas brancas aumentaram de forma considerável. Tudo isto culmina num aumento geral do crime de 12% em relação ao período homólogo de 2022 (dados obtidos da notícia do dia 11/05/2023 da CNN).
A insegurança é hoje sentida até na pacata ilha da Madeira, mais concretamente no Funchal, onde à luz do dia são vários os “toxicodependentes” que vagueiam pela cidade, injetam-se à luz do dia sem o menor pudor ou cuidado, são também vários os turistas que são alvo de assaltos na sua passagem, e são cada vez mais recorrentes as rixas na noite e os esfaqueamentos. Por um lado, as notícias deixaram de se cingir a títulos de violência doméstica (que não desapareceu nem diminui) e dá lugar a diversos relatos de crimes, igualmente obscenos e que em nada refletem um dos países mais seguros do mundo.
Contudo, as más noticias não ficam por aqui, ainda recentemente na CNN (dia 6 de Novembro 2023) ficamos a saber que um relatório das secretas indica que cerca de 1000 elementos do PCC (Primeiro Comando da Capital – maior organização criminosa do brasil que controla a maioria do tráfico de cocaína da América do Sul com destino à Europa). Ficamos ainda a saber, que parte dos tiroteios e homicídios que acontecem em Lisboa são ajustes de contas do PCC no decorrer dos seus negócios.
A isto somamos a crescente desobediência civil em relação às autoridades, o crescente descontentamento social perante anos e anos de má e fraca política, e claro a total desvalorização das forças de segurança, que inevitavelmente culmina numa receita para a desgraça.
Numa perspectiva económica, a insegurança prejudica o sector do turismo que segundo projeções do WTTC poderá atingir os 16.8% do PIB português em 2023. Partindo daqui inferir o impacto negativo no turismo e demais sectores económicos portugueses não é um exercício complexo, a falta de segurança rapidamente faz-se sentir e afugenta turistas e investimento. A violência que cresce em Portugal terá então 3 efeitos imediatos no país, a redução da massa crítica que encontrará na falta de segurança mais um incentivo para votar com os pés, a alocação de mão-de-obra e de capital para o de combate ao crime ou em equipamentos para suporte a este (comprometendo a alocação ótima dos recursos em sectores e indústrias com maior valor acrescentado), e ainda a diminuição da produtividade.
O que para mim e para os elementos das polícias de segurança pública parece óbvio, é que este cenário dantesco, realidade em toda a América do Sul e lentamente em outros países europeus, podia facilmente ser evitada.
Por teimosia as forças políticas portuguesas preferem correr atrás do prejuízo, esquecendo e ostracizando do debate político todos os homens e mulheres que diariamente correm riscos para garantir a segurança e bem-estar dos portugueses. Para o bem de todos, precisamos nos aliar e apoiar os nossos anjos azuis até que sejam ouvidos.