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“Demiti-me duas vezes. Garrote das Finanças não permitia trabalhar com seriedade”, revela diretor nacional da PJ

No entender de Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária, o momento de legislar “é o primeiro momento de prevenção da corrupção. Tudo o resto está a montante. Transparência e ampla discussão pública são os primeiros patamares para prevenir a corrupção”. A conferência do JE e do CAAD decorre esta quarta-feira em Lisboa e debate a independência da Justiça.
O primeiro-ministro, António Costa (2E) e a ministra da Justiça, Francisca Van Dunen (E), preside à posse de Luís Neves (C) como diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ) em cerimónia no Ministério da Justiça, 18 de junho de 2018, em Lisboa. TIAGO PETINGA/LUSA
6 Novembro 2024, 10h24

Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária (PJ), revelou esta quarta-feira, numa conferência organizada pelo JE e Centro de Arbitragem Administrativa, que colocou o seu lugar à disposição em dois momentos, tendo em conta que “o garrote das Finanças não permitia trabalhar com seriedade.

“A questão orçamental pode afetar a imagem da Justiça. Existe o perigo de haver esta interferência que pode desvirtuar o que vai ser usado pelos tribunais e pelo Ministério Público”, destacou o diretor nacional da PJ numa intervenção à distância a partir de Glasgow.

Esta foi uma das reflexões mais importantes deixadas por este dirigente que gere os destinos da Polícia Judiciária há seis anos e meio. Os desafios de legislar, investigar e julgar, e a independência da Justiça, são alguns dos temas em debate esta quarta-feira na conferência que o Jornal Económico e o Centro de Arbitragem Administrativa (CAAD) vão dinamizar no Estúdio Time Out, em Lisboa.

“Em dois momentos coloquei o meu lugar à disposição porque não quis ser bode expiatório da falta de condições, está tudo nos meus discursos que proferi em 2018 e 2019. Garrote das Finanças não permitia que o trabalho fosse feito com efetividade e seriedade. Hoje as coisas estão diferentes, existe outro ânimo”, destacou.

No entender de Luís Neves, diretor nacional da Polícia Judiciária há seis anos e meio, o momento de legislar “é o primeiro momento de prevenção da corrupção. Tudo o resto está a montante. Transparência e ampla discussão pública são os primeiros patamares para prevenir a corrupção”.

“Sou polícia há quase trinta anos e posso dizer que nunca me senti pressionado em momento algum. A questão da confiança tem de ser nos dois sentidos, do Estado para o tutelado, mas também do tutelado para com o Estado”, destacou Luís Neves na conferência do JE e do CAAD.

Este responsável deu ênfase ao papel da investigação criminal qualificando-o como tendo um carácter de “fortalecimento e robustecimento no sentido de ter meios para cumprir a sua função”. Explicou Luís Neves que “temos novos quadros fantásticos, com grande preparação. Este robustecimento deve ter uma ação de respeito para com os cidadãos no que concerne ao segredo de justiça e presunção de inocência”.

Nesta conferência, Luís Neves deu grande importância à “autonomia técnico-tática da Polícia Judiciária”: “Tem que haver uma separação clara para que não coincida quem investiga e quem depois tem a responsabilidade de acusar”, sublinhou, realçando ainda que “o tempo da investigação criminal não é o tempo de que comunica a defesa de determinada narrativa”.

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