A política monetária tornou-se refém do passado, diminuindo a margem de decisão, defende Stefan Hofrichter ao Jornal Económico. O economista-chefe da Allianz Global Investors (Allianz GI) explica que se os bancos centrais enfrentam dois cenários antagónicos que limitam o processo de decisão.
“Se optarem por políticas mais rígidas arriscam grandes deslocamentos nos mercados financeiros. Se continuarem [a seguir uma política] flexível, correm o risco de alimentar mais os riscos da estabilidade financeira”, realça. “Estão condenados se o fizerem [hike], e condenados se não o fizerem”.
Stefan Hofrichter salienta que “não só para o Banco Central Europeu (BCE), mas também para a Reserva Federal norte-americana, a política monetária está condicionada pelas próprias decisões no passado”, que classifica como “assimétrica”.
Questionado sobre a margem da sucessora de Mario Draghi à frente do BCE a partir de novembro, Christine Lagarde, o economista-chefe da Allianz GI considera que “o Conselho de Governadores do BCE é um conselho, não um “one-woman show”.
“Por isso, sozinha não poderia desenvolver uma mudança radical de política monetária, mesmo que o quisesse – o que é improvável de qualquer maneira”, acrescenta. “Os principais instrumentos [que dispõe] são estimular discussões internas, investigação e organizar efetivamente o processo de decisão”.
Atual rumo da política monetária “limita” as opções em caso de recessão
O economista-chefe da Allianz GI revela preocupação com “as consequências negativas não intencionais a longo prazo” da atual política monetária.
“Não só limita as opções no caso de uma nova recessão. Claramente também limita o risco de alimentar um novo ativo e bolha de crédito e aumenta os riscos da estabilidade financeira”, refere.
Para Stefan Hofrichter a política monetária nos últimos 30 anos tem sido, em conjunto com a “desregulação do mercado financeiro”, propício para o aparecimento de crises financeiras, incluindo a de 2007/2009. “No caso de uma nova crise financeira, teríamos que esperar que os bancos centrais aplicassem todos os tipos de ferramentas convencionais e não convencionais”, sinaliza.
O economista salienta, no entanto, não esperar uma repetição da última crise financeira, considerando que “a dinâmica conjunta dos preços da habitação e do crescimento do crédito do setor privado, está significativamente em melhor forma do que em meados dos anos 2000”.
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