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Debate António Costa – Catarina Martins: votos de amizade foram renovados, apesar de choque nas nacionalizações

Primeiro-ministro acusou Bloco de Esquerda de ter propostas “irrealistas”, como quem faz uma “lista de prendas de natal”. Líder do Bloco afirmou que contas do PS são “um pouco estranhas” e escondem cortes.
6 Setembro 2019, 21h57

O debate entre o primeiro-ministro e a líder do Bloco de Esquerda, esta sexta-feira na RTP, ficou marcado pela disponibilidade de ambos os dirigentes partidários para continuarem a dialogar depois das eleições legislativas de 6 de outubro, caso seja necessário assegurar acordos no Parlamento.

Catarina Martins, que num debate há quatro anos colocou a Costa um conjunto de condições para que os partidos dialogassem após as eleições de 2015, começou por ser questionada sobre quais as condições que apresenta para manter esse diálogo na próxima legislatura.

A líder do Bloco de Esquerda não deu uma resposta concreta, mas nas entrelinhas mostrou que estará disponível para entendimentos com o PS, até porque o partido está “orgulhoso” das conquistas alcançadas nesta legislatura, como o aumento do salário mínimo. Agora “há muito por fazer e o BE não falta a nenhuma solução que puxe pelas condições de emprego, dos salários pela estabilidade das condições de vida das pessoas”, afirmou.

A mesma questão foi colocada a António Costa, que enalteceu o “sucesso” do que foi feito nesta legislatura e mostrou abertura para entendimentos pós-eleitorais. “Não abri uma porta de diálogo com BE, PCP e Verdes para ser eu a fechá-la agora”, afirmou, vincando, porém, que o diálogo depois das eleições deve ser “alargado” não apenas ao Bloco mas também a outros partidos.

O tom cordato com que começou o debate foi progressivamente tornando-se mais tenso, quando se abordaram questões específicas dos programas eleitorais dos dois partidos. Costa deu o tiro de partida, ao afirmar que o partido de Catarina Martins tinha propostas “irrealistas”, como um acréscimo de 30 mil milhões de euros na despesa do Estado com investimentos públicos ou o reforço dos serviços públicos.

“Um programa de Governo não é uma lista de prendas de natal. Trinta mil milhões são 15% do PIB. É irrealizável”, disse, apontando também para as propostas de nacionalizações do Bloco. “O Bloco prevê no programa um total de 27 mil milhões de euros para nacionalizar a ANA, os CTT a REN, a EDP e a REN. Gastar 10 mil milhões a nacionalizar a Galp é a mesma despesa do Serviço Nacional de Saúde. Não vou gastar esse dinheiro dos portugueses a nacionalizar”, criticou.

Catarina Martins acusou Costa de estar a “caricaturar” uma “proposta razoável” que tem “consenso à esquerda”, lembrando que o próprio PS, há quatro anos, compreendeu a necessidade de reverter a privatização dos transportes coletivos e da TAP, sem ter necessidade de comprar todo o capital da empresa de transporte aéreo para ter o controlo.

“O PS é que não apresenta contas no Programa Eleitoral, remete-as para o Programa de Estabilidade. E as contas do Programa de Estabilidade são um pouco estranhas. Não há verbas para aumentar funcionários públicos e estão previstos cortes nas carreiras especiais da Função Pública, sem se explicar como”, acusou.

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