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Morreu Mário Soares, antigo Presidente da República

Um gigante da política portuguesa, o fundador do PS foi primeiro-ministro três vezes e cumpriu dois mandatos como Presidente da República. Estava internado desde 13 de dezembro.
7 Janeiro 2017, 15h59

Morreu, hoje às 15h28, o antigo Presidente da República, ex-primeiro-ministro e fundador do Partido Socialista (PS), Mário Soares, anunciou hoje fonte oficial do Hospital da Cruz Vermelha, onde o político de 92 anos, por muito muitos considerado um dos pais fundadores da democracia portuguesa, estava internado há quase um mês.

Numa curta conferência de imprensa, sem espaço para perguntas, o diretor clínico do Hospital da Cruz Vermelha de Lisboa, Manuel Pedro Magalhães, confirmou que Mário Soares morreu este sábado, às 15h28.

“O Hospital da Cruz Vermelha agrade a confiança depositada na sua equipa clinica para o tratamento do Dr. Mário Soares e afirma que o nome do Dr. Mário Soares, grande lutador por ideiais vários que nos permitem hoje viver no ambiente de democracia que conhecemos, ficará para sempre ligado à história deste hospital que tanto ajudou a manter e a quem confiou parte do seu tratamento do seu tempo de vida”, disse Manuel Pedro Magalhães.

Na conferência de imprensa, estiveram os dois filhos do ex-Presidente da República, Isabel e João Soares.

O fundador do PS permanecia nos cuidados intensivos, em coma profundo e em estado crítico. A situação clínica de Soares tinha piorado subitamente a 24 de dezembro, dois dias após ter sido transferido dos Cuidados Intensivos para uma unidade de internamento em regime reservado depois de sinais de melhoria do estado de saúde.

A deterioração do estado de saúde de Mário Soares tinha levado o actual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a interromper a sua agenda nesse dia para visitar o ex-líder socialista. Mais tarde, num evento no Barreiro, Marcelo frisou que os portugueses “estão todos muito gratos por aquilo que Mário Soares tem dado ao país”, colocando Soares entre as figuras que “marcaram e marcam a democracia portuguesa”.

Mário Soares tinha sido internado a 13 de dezembro, seis dias após completar 92 anos, para ser observado. As notícias nas horas seguintes informavam que Soares tinha perdido consciência, estava em estado crítico e com prognóstico reservado, antes de apresentar melhorias consideráveis a 15 de dezembro e recuperar consciência.

Resistente ativo

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, em 1951, e em Direito, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em 1957, Soares foi desde os tempos estudantis um ativo resistente à ditadura, com uma longa presença na organização da oposição democrática ao salazarismo.

Por essa actividade foi preso 12 vezes pela PIDE, e, em 1970, forçado ao exílio em França. Em 1973, no Congresso realizado em BadMünstereifel, na Alemanha, a Acção Socialista Portuguesa, que fundara em 1964, transformou-se em Partido Socialista, do qual Mário Soares foi eleito Secretário-Geral e sucessivamente reeleito no cargo ao longo de quase treze anos.

Em 25 de Abril de 1974, Soares ainda estava no exílio em França, e regressou a Portugal no dia 28, tendo chegado a Lisboa no depois chamado “combóio da liberdade”. Como Secretário-Geral do PS participou em todas as campanhas eleitorais, tendo sido deputado por Lisboa em todas as legislaturas, até 1986. Com a vitória dos socialistas nas primeiras eleições legislativas realizadas em 1976, foi nomeado Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional (1976-77), tendo também presidido ao II (1978).

Em 25 de Abril de 1974, Soares ainda estava no exílio em França, e regressou a Portugal no dia 28, tendo chegado a Lisboa no depois chamado “combóio da liberdade”. Como Secretário-Geral do PS participou em todas as campanhas eleitorais, tendo sido deputado por Lisboa em

todas as legislaturas, até 1986. Com a vitória dos socialistas nas primeiras eleições legislativas realizadas em 1976, foi nomeado Primeiro-Ministro do I Governo Constitucional (1976-77), tendo também presidido ao II (1978).

Primeiro civil eleito para Belém

Após a dissolução da Assembleia da República em 1983, e eleições legislativas que voltaram a dar a vitória ao PS, foi nomeado Primeiro-Ministro do IX Governo Constitucional, com base numa coligação partidária PS/PSD até 1985. Esse ano, candidatou-se às eleições presidenciais de janeiro de 1986 e, com o apoio de independentes e do PS na primeira volta e de toda a esquerda na segunda, foi eleito a 16 de Fevereiro, tornado-se no primeiro Presidente civil eleito directamente pelo povo, na história portuguesa.

Em 13 de Janeiro de 1991 foi reeleito à primeira volta, com um resultado esmagador de 70,40% dos votos expressos, tendo terminado o segundo mandato em 9 de março de 1996. Em 1999, três anos depois de terminar o segundo mandato como Presidente da República, é cabeça de lista do PS nas eleições europeias, e candidato, depois de eleito, a presidente do Parlamento Europeu, eleição que perde para Nicole Fontaine.

Dez anos mais tarde, Soares concorreu de novo nas eleições presidenciais, apoiado pelo PS, mas ficou em terceiro lugar, atrás de Aníbal Cavaco Silva e de Manuel Alegre.

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