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Debate histórico Soares/Cunhal. O único sem precedentes?

Em novembro de 1975, o líder do PS e o do PCP enfrentaram-se no decorrer de um período conturbado para a democracia portuguesa. Hoje, Costa e Rio lutam pela maioria do Parlamento que foi dissolvido na sequência do primeiro chumbo de um OE desde 1974.
13 Janeiro 2022, 17h42

Enquanto aguardamos pelo frente a frente entre António Costa e Rui Rio logo à noite, recordamos o debate histórico fundador da democracia em Portugal. O que estava em causa na altura? E agora?

A 6 de novembro de 1975, teve lugar o debate entre Mário Soares, líder do PS, e Álvaro Cunhal, líder do PCP, que ficou conhecido pela expressão “Olhe que não, olhe que não!”.

A frase que ficou para a história da política portuguesa do século XX surgiu quando Soares afirmava querer “instaurar em Portugal uma sociedade socialista, mas em liberdade, respeitando os direitos do homem”, enquanto acusava o Partido Comunista “de dar provas” durante o PREC, de querer “transformar o país numa ditadura”. Perante isto, Cunhal coçou a orelha esquerda, sorriu e deu a mítica resposta.

Os dois políticos já tinham protagonizado, quatro meses antes, um outro frente a frente, em direto, para a televisão francesa Antenne2. Mas, enquanto no primeiro se apresentaram bastante amigáveis, no segundo, transpuseram para o pequeno ecrã a violência e os desacatos que se viviam na rua entre os dois partidos. De relembrar que, nessa noite, um petardo rebentou junto à sede do PS, na Rua da Emenda, o que até foi noticiado no fim do debate.

Aquele que foi o frente a frente mais longo da democracia, com quase quatro horas de duração, foi, então, marcado por ataques de parte a parte com os dois homens de esquerda a deixarem claras as visões antagónicas para o futuro de Portugal.

Segundo uma estimativa do JN da época, três milhões de portugueses assistiram ao frente a frente – que antecedeu ao 25 de novembro (que ajudou a afirmar a fação que defendia a via democrática e eleitoral, em oposição à via revolucionária) e moldou o país – pela televisão e pela rádio.

Hoje, o debate tem a duração prevista de 75 minutos e os protagonistas, de lados opostos do espectro político, são o secretário-geral do PS, António Costa, e o presidente do PSD, Rui Rio.

Também estas eleições são sem precedentes porque ocorrem na sequência do chumbo histórico da proposta de Orçamento do Estado para 2022, a 27 de outubro, com os votos contra do PSD, CDS-PP, Chega, Iniciativa Liberal, mas também do PCP, do PEV e do Bloco de Esquerda – marcando o fim da solução governativa conhecida por “Geringonça”.

Foi a primeira vez que tal aconteceu entre governos eleitos na democracia portuguesa, o que levou Marcelo Rebelo de Sousa a dissolver a Assembleia da República, obrigando à convocação de eleições legislativas antecipadas, encurtando em quase dois anos a legislatura de Costa.

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