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A semana de Marcelo: Da recusa em cancelar eventos até à quarentena voluntária

Depois de confirmados os primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus (Covid-19), o Presidente da República garantiu estar a praticar algum “distanciamento social”, mas recusou-se a cancelar a agenda. Alertou para a importância de não se entrar em alarmismos, visitou pacientes infetados no hospital, mas acabou por entrar em quarentena aconselhado por médicos.
Cristina Bernardo
9 Março 2020, 10h15

Os primeiros casos de infeção pelo novo coronavírus (Covid-19) em Portugal foram confirmados na passada segunda-feira. No mesmo dia, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, veio alertar para a necessidade de não se “entrar em alarmismos”. O Chefe de Estado garantiu estar a praticar algum “distanciamento social”, mas recusou-se a cancelar a agenda, até entrar em quarentena voluntária.

A decisão de Marcelo Rebelo de Sousa de “permanecer em casa sob monitorização” foi anunciada este domingo, numa nota oficial enviada às redações pela Presidência da República. Isto porque, o Presidente da República recebeu, na passada terça-feira, dia 3, uma turma da Escola Básica 2,3 de Idães, em Felgueiras, um dos estabelecimentos de ensino encerrados no norte do país devido ao coronavírus e onde foi registado um caso de infeção por Covid-19.

Mas a agenda do Presidente da República nos dias que se seguiram ao contacto com os alunos da Escola Básica 2,3 de Idães foi extensa e com várias presenças junto de número elevado de portugueses.

Logo após a iniciativa “Artistas no Palácio de Belém”, que juntou várias escolas e os artistas plásticos José Pedro Croft e Carlos Nogueira, Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para o Grande Auditório da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, onde participou na cerimónia de entrega do Prémio BIAL Biomedicina 2019, onde agraciou o presidente da Fundação BIAL, Luís Portela, com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública.

Na quarta-feira, dia 4, após ter promulgado o diploma do Governo que estabelece a orgânica do Ponto Único de Contacto para a Cooperação Policial Internacional (PUC-CPI), o Chefe do Estado esteve, pela primeira vez, presente, no Auditório do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, em Lisboa, na sessão especial do Ciclo de conversas “Camões dá que falar”.

Na conferência, onde estiveram também presentes, entre outros, a secretária de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, Teresa Ribeiro, a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, Berta Nunes, e o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, Marcelo Rebelo de Sousa fez uma intervenção e assinou o Livro de Honra do Instituto da Cooperação e da Língua, onde saudou o presidente do instituto, Luís Faro Ramos.

Na quinta-feira, dia 5, Marcelo Rebelo de Sousa visitou o Hospital Curry Cabral, em Lisboa, e visitou os doentes infetados pelo Covid-19. Através de um intercomunicador, falou com três doentes infetados. Nesse dia, o boletim epidemiológico da Direção-Geral de Saúde (DGS) confirmava mais três casos positivos, elevando o número total para nove.

No mesmo dia, o Presidente da República participou na sessão de encerramento da conferência “Portugal? e agora?”, promovida pelo jornal ‘Público’ por ocasião do seu 30.º aniversário, no Museu da Eletricidade em Lisboa.

Na sexta-feira, dia 6, a agenda do Presidente da República não foi aberta à comunicação social, tendo apenas divulgado a promulgação de mais um diploma do Governo, desta vez sobre a classificação como zonas especiais de conservação dos sítios de importância comunitária do território nacional.

O sábado, dia 7, foi de homenagem à economista Manuela Silva. Na cerimónia de evocação da economista: “Um desafio para o futuro”, no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) em Lisboa, o Chefe de Estado agraciou, a título póstumo, a economista com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, entregado as insígnias à família da economista falecida em outubro de 2019 pelo seu papel na “luta contra a pobreza”.

Ainda no sábado, o Presidente da República visitou o Hospital de São João, no Porto, tendo sido recebido pelo presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de São João, Fernando Ferreira Araújo, e pelo diretor do Serviço de Doenças Infeciosas, António Sarmento. Aí, voltou a falar com doentes internados com Covid-19, através do vidro do quarto de isolamento, e recebeu um briefing sobre as formas de conter o surto viral.

Aos jornalistas, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou ter reduzido “parte da agenda” devido ao surto de Covid-19, mas expressou a intenção de manter as viagens previstas.

De caminho, esteve Teatro Nacional São João, no Porto, onde agraciou a instituição com o título de Membro Honorário da Ordem do Mérito e assistiu ao espetáculo “Turismo Infinito” de António M. Feijó. Antes do espetáculo, foi recebido pela ministra da Cultura, Graça Fonseca, e pelo presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira.

Nesse dia, este ainda na companhia do primeiro-ministro, António Costa, do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e da comissária europeia para a Coesão e Reformas, Elisa Ferreira, no Teatro Nacional São João. Fonte do gabinete do primeiro-ministro, diz que António Costa vai manter a sua agenda prevista, “salvo indicação em contrário” da DGS.

No domingo, dia 8, emitiu uma nota oficial, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, onde lembrou “o muito que foi feito nestes 45 anos de Democracia, mas também o muito que resta por fazer, para assegurar a igualdade de oportunidades e de tratamento para as mulheres no nosso país”.

Nesse mesmo dia, foi publicada a referida nota da Presidência que dava conta de que, “apesar de não apresentar qualquer sintoma virótico”, Marcelo Rebelo de Sousa decidiu, por recomendação da DGS, vai manter-se em quarentena voluntária, nas próximas duas semanas. Toda a atividade pública assim como as próprias deslocações do Chefe de Estado até ao Palácio de Belém ou ao estrangeiro estão canceladas.

“Atendendo ao que se sabe hoje e não se sabia na terça-feira passada, tendo ouvido as autoridades de saúde, o Presidente da República, apesar de não apresentar qualquer sintoma virótico, decidiu cancelar toda a sua atividade pública (…) assim como a própria ida a Belém, durante as próximas duas semanas. O mesmo fará com deslocações previstas ao estrangeiro”, lê-se na nota do Palácio de Belém.

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