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Parlamento Europeu: Francisco Guerreiro segue pisadas de Lucas Pires, Rui Tavares e Marinho e Pinto

Divergências políticas e pessoais com as lideranças nacionais levaram vários eurodeputados a romperem com os partidos que os elegeram sem por isso renunciarem ao mandato em Estrasburgo, como acontece agora com o único eleito pelo PAN em 2019.
Lucas Pires
16 Junho 2020, 11h35

A saída de Francisco Guerreiro do PAN – Pessoas, Animais, Natureza sem deixar de ser eurodeputado tem precedentes que se estendem ao longo das décadas entre os eleitos pelos portugueses para o Parlamento Europeu. Divergências políticas ou pessoais com as direções nacionais dos partidos foram invocadas por Lucas Pires, Rui Tavares e António Marinho e Pinto para deixarem de representar as forças políticas a que estavam ligados e manterem o mandato.

Nenhuma saída foi tão estrondosa quanto a de Lucas Pires, que em novembro de 1991 deixou de ser militante do CDS, partido de que chegara a ser presidente na década anterior, por discordar da orientação eurocética da liderança de Manuel Monteiro. “A decisão que tomo é, em primeiro lugar, um ato de autenticidade por quebra na minha consciência da identificação com um partido que julgo estar já entre o ser ‘nenhum’ ou a ser ‘outro'”, justificou o eurodeputado, que foi seguido pelos também eleitos centristas Luís Beiroco e Carvalho Cardoso, deixando o CDS sem representação no Parlamento Europeu.

O CDS acabaria por ser expulso do Partido Popular Europeu (PPE), no qual Lucas Pires era figura de destaque, e só voltou ao Parlamento Europeu após as eleições de 1994, quando Manuel Monteiro (substituído por Rui Vieira), Rosado Fernandes e Girão Pereira passaram a integrar a bancada da Aliança Europa das Nações, que agrupava partidos de direita não federalista. Por seu lado, Lucas Pires integrou as listas do PSD enquanto independente, passando a militante quando os sociais-democratas aderiram ao PPE, e era vice-presidente do Parlamento Europeu em 1998, quando morreu, com apenas 53 anos, vítima de ataque cardíaco.

Menos ideológicos mas igualmente irreversíveis foram os motivos que levaram Rui Tavares a romper com o Bloco de Esquerda em 2011. Eleito na qualidade de independente para o Parlamento Europeu como terceiro da lista encabeçada por Miguel Portas e que também integrava Marisa Matias, o fundador do Livre manteve-se como eurodeputado – e trocou o Grupo de Esquerda Unitária pelos ecologistas – depois de ser acusado pelo então coordenador bloquista Francisco Louçã de “apagar” Fernando Rosas da história desse partido para apontar Daniel Oliveira como um dos seus fundadores.

Rui Tavares negou ter “levado ao engano” um jornalista, como lhe fora apontado por Francisco Louçã nas redes sociais, alegando ser “impossível manter confiança pessoal e política no coordenador nacional do Bloco de Esquerda e, em consequência, continuar a fazer parte da delegação no Parlamento Europeu do partido por ele liderado”.

Por fim, o ex-bastonário da Ordem dos Advogados António Marinho e Pinto, que fora a grande sensação das eleições europeias de 2014, fazendo-se eleger (e a José Inácio Faria) nas listas do Movimento Partido da Terra (MPT), com 234 mil votos e 7,13% do total, não demorou a deixar o partido. Cinco meses bastaram para anunciar a intenção de criar o Partido Democrático Republicano (PDR), do qual se tornou presidente, permanecendo até ao final da legislatura em Estrasburgo, apesar das tentativas infrutíferas do MPT para que o mandato lhe fosse retirado.

Outra saída por motivos políticos não implicou a manutenção no Parlamento Europeu. Eleito pela CDU para o Parlamento Europeu em 1987 e 1989, o já falecido Barros Moura saiu do PCP para fundar a Plataforma de Esquerda e renunciou ao mandato em 18 de dezembro de 1991. Regressaria a Estrasburgo em 1994, integrado nas listas do PS.

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