Um estudo assinado por três cientistas cientistas portugueses – Diogo Veríssimo e Ricardo Rocha da Universidade de Oxford, e Maria Dias, do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa – publicado, recentemente, na revista científica “Conservation Letters” alerta para a urgência de se incluírem e utilizarem novos idiomas nos tratados internacionais que visam a proteção de espécies ameaçadas no mundo.
A ausência mais notória é a língua portuguesa, a par da malaia, por serem ambas faladas em regiões do mundo com elevada biodiversidade das quais dependem muitos dos objetivos estabelecidos para travar a extinção de espécies nas próximas décadas.
A investigação analisou a distribuição de milhares de espécies incluídas na lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e cruzou estes dados com as línguas oficiais e mais faladas nos diferentes países onde ocorrem.
“Os resultados revelam que, muito embora o espanhol e o inglês continuem a ser línguas centrais para a conservação à escala global, cobrindo áreas onde ocorre cerca de 25% da biodiversidade do planeta, o francês, o português e o malaio surgem logo a seguir com cerca de 10%”.
Enquanto os três primeiros idiomas gozam já de estatuto oficial nos tratados internacionais, o português e o malaio não são contemplados, apesar de superarem a importância de outras línguas oficiais, como o russo, o árabe ou o chinês nesta matéria.
Para Maria Dias, “a língua portuguesa sobressai no panorama da biodiversidade internacional, não só por se falar em países muito ricos do ponto de vista natural, mas também porque engloba regiões geográficas muito distintas – do Brasil a Timor-Leste, de Portugal a Moçambique”. “O leque de espécies que vivem por isso em regiões onde se fala português é enorme”, conclui a investigadora do CE3C.
Para ultrapassar este desafio, os autores defendem um sistema de quatro níveis de prioridade linguística, que integre: (1) línguas francas globais (como inglês e francês), (2) as línguas oficiais da ONU, (3) línguas prioritárias para a biodiversidade (como português e malaio) e (4) línguas locais e indígenas, vitais para a ação comunitária.
Atentos ao advento da inteligência artificial, os autores sublinham ainda que pode ser arriscado confiar apenas em traduções automáticas, sobretudo em documentos técnicos e legais povoados por termos e conceitos muito próprios que podem dar azo a interpretações erradas. O estudo recomenda que sejam aplicadas soluções híbridas, que combinem ferramentas digitais com revisão especializada, e também iniciativas colaborativas de tradução realizadas localmente capazes de facilitar a compreensão e apropriação dos conteúdos.
“A biodiversidade não fala apenas inglês, francês ou espanhol. Fala também, por exemplo, português e malaio”, destaca Diogo Veríssimo. Para o investigador da Universidade de Oxford, “Dar espaço a esses “idiomas da vida” nos fóruns internacionais onde são desenhadas as políticas de proteção da biodiversidade é mais do que uma questão de equidade – é uma condição essencial para mobilizar comunidades e países que estão na linha da frente da conservação”.
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