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A “mão de Deus” voltou. Agora levou Diego Armando Maradona

“Lo marqué un poco con la cabeza y un poco con la mano de Dios” (“marquei um pouco com a cabeça e um pouco com a mão de Deus”), argumentou Diego após os míticos quartos de final frente a Inglaterra no México 86. Nascia o mito e a lenda do futebol mundial. Esta quarta-feira, a mão de Deus voltou e desta vez, levou Diego Armando Maradona.
25 Novembro 2020, 17h45

A 22 de junho de 1986, os quartos de final do Campeonato do Mundo de futebol do México deram palco aqueles que muitos consideram os quatro minutos mais inesquecíveis da história da modalidade. No Estádio Azteca, na Cidade do México, decorria o minuto 55 quando o génio de Diego Armando Maradona se soltou para a eternidade: percorreu 60 metros, deixou cinco ingleses para trás e marcou aquele que foi considerado em 2002 como o golo do século numa votação da FIFA. Quatro minutos antes, o astro argentino, que carregou essa seleção argentina às costas rumo à conquista do Mundial, deixou o mundo espantado com um golo marcado com a mão que o árbitro não viu e que deixou furioso o selecionador inglês, Bobby Robson. No final da partida, confrontado com a irregularidade do lance, Maradona deu a resposta mítica: “Lo marqué un poco con la cabeza y un poco con la mano de Dios” (“marquei um pouco com a cabeça e um pouco com a mão de Deus”). Nascia o mito e a lenda do futebol mundial. Esta quarta-feira, a mão de Deus voltou e desta vez, levou Diego Armando Maradona. Esse Mundial, em 1986, foi descrito como um autêntico ‘one man show’ com o 10 a carregar uma Seleção às costas rumo ao título mundial.

Diego Armando Maradona nasceu em Buenos Aires a 30 de outubro de 1960 e foi criado em Villa Fiorito, uma cidade da província da capital argentina. Foi o primeiro de quatro irmãos, numa infância marcada pelas dificuldades inerentes a muitas das famílias que cresceram naquele bairro. Ao contrário do que acontece nos dias de hoje, com os jovens futebolistas a começarem cedo na modalidade, Diego abraçou tarde o futebol: aos nove anos começou a sua carreira quando o clube local, Los Cebollitas (a equipa de juniores dos Argentino Juniors), lhe deu uma oportunidade. Aos 12 anos, o talento evidente de Diego podia ser apreciado nos jogos da equipa jovem mas também nos intervalos das partidas do Argentinos Juniors. Quando lhe perguntaram com quem tinha aprendido tantos truques com a bola, o miúdo Diego “culpava” Rivelino e George Best como inspirações.

Estreou-se aos 15 entre os grandes (marcou 115 golos em 167 jogos) e o talento era tão evidente que aos 16 já estava na seleção nacional argentina, ao lado dos grandes craques. Diego Armando Maradona foi o jogador mais jovem da história a vestir a camisola da seleção do seu país. Em 1979, emprestou o seu talento aos sub-21 para vencer o seu primeiro mundial e em 1981, mudou-se para o Boca Juniors, conquistando o seu primeiro título nacional, apesar do forte assédio do River Plate que prometeu fazer de Diego o jogador mais bem pago do clube. A vontade de Maradona prevaleceu sempre: sempre sonhou jogar com a camisola do Boca e ter o Estádio Alberto José Armando, mais conhecido como “La Bombonera”.

Após o Mundial de 1982, Diego Armando Maradona mudou-se para a Europa para vestir a camisola do FC Barcelona, com as expectativas em alta. No entanto, esses dois anos foram de alguma desilusão para quem esperava que o astro argentino pudesse arrasar nos ‘culés’. De tal forma, que o 10 argentino teve que rumar a Itália e fazer história ao serviço do Nápoles. A 5 de julho de 1984, 75 mil adeptos do Nápoles encheram o mítico Stadio San Paolo e o jornalista britânico, David Goldblatt, escreveu: “Os adeptos estavam convencidos de que o salvador do Nápoles tinha chegado”. Em Nápoles foi recebido como um Deus mas no fim, acabou no Inferno. Até então, o futebol italiano era dominado pelas equipas do norte e do centro e nenhuma equipa do sul de Itália tinha conquistado um campeonato. Entre 1984 e 1991, tudo mudou com o mágico argentino (dois campeonatos, uma taça UEFA, uma taça de Itália e uma supertaça de Itália) e em 1992, após um teste de doping positivo, Maradona deixou o Nápoles pela porta pequena e com muitas histórias de uma intensa e polémica ligação à Camorra, a máfia napolitana, que lhe deu a oportunidade de brilhar em Itália (em Nápoles conta-se a história de como a máfia patrocinou a vinda de Diego para o clube). Ficou amigo de um dos clãs mais importantes da cidade e aí, intensificou o vício por cocaína que o arrastava desde Barcelona.

Regressou a Espanha para jogar pelo Sevilla e finalmente, retornou ao seu país para fechar a carreira pelo Newells Old Boys e o regresso ao Boca Juniors.

Fora do campo, Maradona ficou conhecido pela forma como se aproximou com os ideais de esquerda e, ao contrário das respostas politicamente corretas proferidas por grande parte dos futebolistas, o argentino não tinha problemas em defender as suas convicções em público. Tornou-se amigo de Fidel Castro e próximo do ideal cubano, uma amizade que imortalizou ao tatuar Fidel e Che Guevara. Maradona era também apoiante do antigo presidente venezuelano Hugo Chávez e foi muitas vezes convidado de honra deste governante.

Diego Armando Maradona, considerado um dos melhores futebolistas da história, morreu esta quarta-feira na sua residência, na Argentina, aos 60 anos, anunciou o seu agente e amigo Matías Morla. Segundo a imprensa argentina, Maradona, que treinava os argentinos do Gimnasia y Esgrima, sofreu uma paragem cardíaca na sua vivenda na província de Buenos Aires.

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