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“Ataque climático” contra Montenegro e aborto agitam quarto dia de campanha

Analistas consideram que incidente com ativista na BTL beneficia Luís Montenegro, enquanto palavras de Paulo Núncio sobre referendo ao aborto foram um “erro”
29 Fevereiro 2024, 07h30

O ataque com tinta verde de um ativista pelas alterações climáticas contra Luís Montenegro à entrada da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), na FIL, em Lisboa, e as palavras do dirigente do CDS Paulo Núncio sobre a repetição de um referendo ao aborto agitaram o 4º dia oficial da campanha eleitoral para as eleições de 10 de março. E se para os analistas em Ciência Política contactados pelo JE o primeiro caso é “um incidente” usual em campanhas ou um momento “que beneficia” Luís Montenegro, porque desperta “empatia e compaixão” do eleitorado, o segundo foi “um erro” que trouxe um “mau momento” para o dia da AD.

O “erro” de Núncio acabou por ser um pouco abafado pela tinta verde a escorrer da cabeça e das costas do líder da AD quando este se preparava para visitar a BTL, numa ação de campanha que acabou por ser interrompida. Montenegro foi levado para o carro, para sair do local, enquanto a PSP detinha o ativista. A imagem de Montenegro a falar aos jornalistas manchado de tinta verde na cara, cabelo, costas e na camisa branca correu o país e marcou definitivamente o dia, com todos os partidos, da esquerda à direita, a virem condenar o ataque.

O próprio Presidente da República acabaria por falar, considerando que este tipo de protestos com tinta dos ativistas estavam a “perder eficácia”. António Costa, ainda primeiro-ministro, viu-se obrigado a vir a terreiro garantir que já falou com a PSP para que os candidatos às eleições de 10 de março tenham segurança pessoal.

“Devia ter cavalgado a onda”

Para a politóloga Paula do Espírito Santo, o ataque a Luís Montenegro com a tinta verde “beneficia” a campanha da AD porque faz as pessoas sentirem “empatia” pelo sucedido. Mas a analista política considera, em declarações ao JE, que a estrutura de comunicação da AD “não soube aproveitar” o momento ao retirar de imediato o candidato do local. Ou seja, a analista considera que Luís Montenegro devia ter entrado na BTL e continuado a sua ação de campanha, falando com as pessoas, mesmo com a cara pintada de verde, porque mostrava “coragem”, marcaria todo o dia da campanha e “abafava” a campanha de todos os seus adversários. “Podia até dizer que esta era a sua marca para o governo, que se o tentassem deitar abaixo, seguiria”, entende a professora de Ciência Política do ISCSP, para quem se Montenegro tivesse continuado a ação teria despertado no eleitorado mais “empatia” e “sensação de injustiça” a seu favor.

Luís Montenegro optou por não prosseguir a ação de campanha, disse que preferia ter “conversado” com o ativista do clima, que estava na campanha para apresentar as suas propostas e que não lhe interessava saber se o movimento ativista tinha ou não a intervenção de partidos. Abandonou o local manchado de tinta, aparentemente tranquilo. A sua imagem com a cara pintada de verde correu o país e galgou fronteiras. O que acaba, segundos os dois politólogos ouvidos pelo JE, por beneficiar a AD porque puxa a atenção para a sua campanha e gera “empatia”.

“Apenas um incidente”

Já o politólogo José Adelino Maltez desvalorizou o momento, apontando que foi apenas “um incidente”, que ocorrem em muitas campanhas. Ao JE, o analista político diz que gostava de ver uma “campanha mais humanizada” e menos “profissionalizada”, em que os candidatos “estão muito fechados na propaganda” e se mostram pouco como seres humanos e a sua personalidade.

O JE procurou saber junto de fonte da caravana da AD a razão pela qual o líder decidiu interromper a ação depois de ser atacado com a tinta. Fonte do gabinete de comunicação disse que Montenegro ainda “tentou seguir com a ação, chegando a falar com pessoas, mas tornou-se impossível”.

Ao JE, Nuno Melo, líder da AD e que seguia naquele momento mesmo ao lado de Luís Montenegro, explicou o porquê: “Tornou-se incómodo, a tinta escorria-lhe pelas costas abaixo e pelo colarinho, era uma questão de conforto”.

Numa conferência, Paulo Núncio, número dois do CDS para as legislativas, disse que para alterar a legislação do aborto seria necessário um novo referendo, uma declaração que incendiou também o 4º dia da campanha. E que obrigou a duas respostas: Nuno Melo disse que o tema do aborto não estava na agenda da coligação da AD e Luís Montenegro rematou que a questão do aborto é um assunto resolvida há 17 anos. Desta forma, o líder da AD acabou por matar um assunto que já estava a ser cavalgado pela oposição, que acusava a AD de querer limitar e recuar nos direitos das mulheres e voltar ao passado. “Foi um erro”, considerou Paula do Espirito Santo numa análise às palavras de Paulo Núncio.

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