O valor médio da avaliação das casas subiu pelo quinto mês consecutivo ao fixar-se nos 1.525 euros\m2 em julho, o que significou um aumento de sete euros face ao mês anterior, tendo subido para os 7,6% em comparação com o período homólogo do ano anterior, acordo com os dados do Inquérito à Avaliação Bancária na Habitação divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Esta tendência vai condicionar o perfil do cliente comprador que pode ir ao mercado e fazer ofertas por esses imóveis e levar ao aumento do tempo médio de venda das casas, segundo responsáveis do sector.
“É uma sequência daquilo que é a tipologia e as estrutura dos imóveis em venda neste momento. Os imóveis que estão a ficar disponíveis são de um valor superior e isso condiciona não só os imóveis que vão ser avaliados, como vai ter tendência para subir até ao final do ano, que são os imóveis que estão no mercado e também o perfil do cliente comprador que pode ir ao mercado e fazer ofertas por esses imóveis”, explica em declarações ao Jornal Económico (JE), Ricardo Sousa, CEO da Century21 Portugal.
Um sinal dos tempos que acaba por agudizar-se com os sucessivos aumentos das taxas de juro. “A consequência direta e inevitável é conforme a taxa de juro sobe o rendimento também disponível diminui, logo o valor do imóvel que se pode comprar também diminui”, afirma o CEO.
Como tal, pelo facto de não existirem casas no mercado, o responsável assume que é “inevitável” que o número de transações vai continuar a baixar em comparação com o ano de 2022. “É expectável que o tempo médio de venda dos imóveis aumente, sobretudo de quem vai pedir um crédito habitação. Pode haver um efeito de espera pela revisão de eliminar ou diminuir o stress da taxa de esforço. Num mercado com tanta falta de oferta este baixar de 3% para 1% vai permitir que o leque de opções possa aumentar”, sublinha Ricardo Sousa.
Quem por sua vez desvaloriza este aumento consecutivo do valor das avaliações das casas é o economista António Nogueira Leite. Ouvido pelo JE o docente entende que este indicar não reflete de forma exata a situação do mercado a cada momento. “Estamos a falar de avaliações que são feitas de acordo com determinados critérios e que podem não estar em linha com a evolução das transações verificadas”, realça.
No entanto, o economista defende que tal cenário revela que as pessoas que têm a responsabilidade de avaliar garantias reais sob a forma de património imobiliário estão convencidas de que até hoje, a grande escassez da oferta em relação à procura de diferentes segmentos que existe no mercado não justifica ainda uma descida do valor das casas.
“O mercado continua com sinais de sentido diverso. Há muito ruído, o que leva a que os investidores estejam muito mais cautelosos, o que por sua vez funciona ao contrário daquilo que se quereria, que era mais investimento para reduzir o excesso de procura que nós temos no mercado”, afirma António Nogueira Leite.
O economista aponta também para o facto de as iniciativas do Estado e das câmaras “como sempre e como continuará a acontecer” demorarem demasiado tempo a efetivar-se. “A componente pública do aumento da oferta de que tanto se fala há muitos anos continua basicamente em níveis insignificantes”, assume.
Para António Nogueira Leite o mercado tem por um lado o aumento dos juros que deveria levar a uma redução do preço do imobiliário, mas por outro lado, existem efeitos específicos no caso português em que temos um enorme excesso de procura que se mantém e sinais que são contrários aquilo que seria o desejo original. “Como tal, não prevejo grandes alterações como aquelas que gostaríamos nos próximos tempos”, salienta.
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