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BCE sinaliza cortes de juros em junho como “plausíveis”

Com os juros em máximos absolutos há vários meses, o BCE finalmente sinaliza um corte em vista já em junho, em linha com o esperado pelos mercados. A maior confiança nas projeções macro do banco e a tendência de desinflação têm sido fulcrais para esta visão, que necessita ainda de ser confirmada pelos dados.
10 Maio 2024, 16h15

O Banco Central Europeu (BCE) considera “plausível” começar a cortar juros já na reunião de junho, isto caso não se verifiquem surpresas mais preocupantes do lado da inflação. Esta possibilidade é reforçada pela maior fiabilidade que as projeções macro do banco têm revelado nos últimos meses, isto depois de vários trimestres com desvios significativos em relação às expectativas.

As atas da reunião de abril, divulgadas esta sexta-feira, mostram que os membros do comité de política monetária europeia estão a preparar o início da normalização dos juros para breve, falando numa “confiança crescente” na evolução favorável dos preços, dadas as expectativas estáveis do mercado.

O documento divulgado esta sexta-feira fala mesmo num cenário “plausível” de redução de juros em junho, quando os responsáveis pela política monetária da moeda única se voltam a reunir em Frankfurt. A presidente do organismo, Christine Lagarde, vinha evitando comprometer-se com datas específicas para o início da redução dos juros, que se encontra em máximos absolutos há já cinco reuniões.

Os juros diretores na zona euro estão entre 4% e 4,5%, um recorde nos 22 anos de história da moeda única.

A reforçar esta perspetiva está a confiança acrescida nas projeções do banco. Os cenários macro previstos pelo BCE nos últimos trimestres têm apresentado frequentes desvios da realidade, alguns deles significativos, levantando questões sobre a adequação dos modelos utilizados pelo staff à economia pós-pandémica.

Como tal, as minutas falam numa “capacidade de previsão recuperada” após as leituras mais recentes da inflação, que ficaram em linha com a expectativa.

Para que se confirme o corte em junho, o processo de desinflação terá de prosseguir, consideram os representantes do BCE. Dois elementos-chave desta dinâmica serão, novamente, a questão salarial e a inflação do lado dos serviços.

Vários membros do comité votaram já a favor de uma redução dos juros na última reunião, revelam as atas, o que constituiu uma alteração em relação às anteriores decisões unânimes. Falando sempre em “discussões produtivas”, Lagarde vinha sublinhando a unanimidade das escolhas recentes do BCE, algo que desapareceu na reunião de abril.

Recorde-se que o governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, tem sido das vozes mais ativas na defesa de uma política mais conservadora e que leva em conta o peso da dívida nos países mais endividados, como Portugal. Esta visão parece estar a recolher mais adeptos, mantendo-se, por enquanto, minoritária.

Esta minoria defende que os riscos de manter uma postura restritiva do lado monetário estão a aproximar-se cada vez mais dos riscos de não atingir o objetivo de 2% para o indicador de preços, sublinhando a tendência claramente desinflacionista da economia europeia. Já esta sexta-feira, Frank Elderson, vice-presidente do comité de supervisão do BCE, reconheceu que um corte de juros em junho é provável, embora não se comprometendo com qualquer cenário após esta reunião.

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