Os candidatos ao concurso especial de acesso ao Mestrado Integrado em Medicina da Universidade do Porto (U.Porto) confessam-se lesados pela U. Porto, referindo que mudaram de cidade, abandonaram empregos de anos, investiram em imóveis e desistiram de mestrados.
“Nós, candidatos afetados, tomámos decisões de boa-fé com base na confiança no processo: mudámos de cidade, abandonámos empregos de anos, desistimos de mestrados, investimos em imóveis e reorganizámos vidas pessoais, acreditando nas vagas que nos foram atribuídas”, lê-se numa nota de esclarecimento dos candidatos enviada hoje à Lusa.
O reitor da U.Porto, António de Sousa Pereira, denunciou ter recebido pressões de várias pessoas para deixar entrar na Faculdade de Medicina 30 candidatos que não tinham obtido a classificação mínima na prova – 14 valores – exigida no curso especial de acesso, avançou hoje o semanário Expresso.
A Federação Académica do Porto (FAP) exigiu hoje um “inquérito interno” para apurar o porquê do diretor da Faculdade de Medicina da U. Porto informar 30 candidatos da entrada em Medicina sem autorização do reitor da Universidade do Porto.
Em declarações à Lusa, a FAP avançou que vai reunir esta noite com urgência com todas as associações de estudantes da Universidade do Porto para reagir ao “agravamento” da relação entre a U.Porto e o Ministério da Educação.
“Face à gravidade da situação que veio a público e envolve a Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, a Reitoria da Universidade do Porto e o Ministério da Educação, a Federação Académica do Porto convocou as Associações de Estudantes da Universidade do Porto para uma reunião de urgência, esta noite, para analisar e reagir, ao sucedido e consequente agravamento da relação entre a Universidade do Porto e o Ministério da Educação.
O presidente da FAP, Francisco Fernandes, acrescentou que a posição de todos os estudantes envolvidos será conhecida no sábado de manhã, e que não vai avançar qualquer informação sobre pedidos de demissão.
Na nota dos candidatos ao concurso especial de acesso ao Mestrado Integrado em Medicina há casos de “impacto académico, profissional e emocional profundo”.
Uma das candidatas, de Vila Real, 37 anos, após 10 anos a trabalhar como farmacêutica, vendeu a casa e deixou o trabalho para se mudar para o Porto.
“Hoje encontra-se sem casa e sem matrícula no curso de Medicina. A sua entidade patronal disponibilizou-se a aceitá-la de volta, mas ela perdeu o percurso e posição conquistados ao longo de 10 anos. Além disso, permanece pendurada a situação da casa, com o marido também envolvido na mudança”, lê-se no documento enviado à Lusa.
Outro candidato, de 24 anos, mestre em Medicina Veterinária que foi colocado também na Faculdade de Medicina da U. Lisboa, mas decidiu não se matricular naquela instituição lisboeta, optando pela U. Porto, acreditando que o processo na Faculdade de Medicina da U.Porto “era válido e legal”.
Uma candidata de 24 anos, técnica superior de diagnóstico e terapêutica, matriculada no Mestrado em Bioquímica em Saúde, tinha tema de tese, orientador e projetos iniciados, mas desistiu do mestrado.
“O impacto emocional e psicológico foi profundo, face à interrupção de um percurso académico sólido”, disse.
Outra candidata, de 24 anos, técnica superior de diagnóstico e terapêutica, passou à fase de entrevistas do concurso especial de outra Universidade, mas foi excluída por ter sido colocada na Lista Provisória da FMUP.
“Já se tinha despedido do trabalho, iniciado arrendamento no Porto e hoje paga uma casa sem saber se será aproveitada, com a colega de arrendamento também em situação incerta”
Outra candidata, de 25 anos, mestre em Ciências Farmacêuticas, que tinha sido colocada na Universidade da Beira Interior, na Covilhã, também decidiu não se matricular, confiando que a sua vaga na FMUP estava assegurada.
Outra candidata de 27 anos, médica veterinária, trabalhou em part-time o ano inteiro de forma a conciliar com o estudo para exames nacionais e provas de acesso ao concurso especial, desistiu de candidaturas alternativas nas quais foi aceite e perdeu a oportunidade de melhorar notas nos exames nacionais.
Em entrevista à Lusa, o presidente FAP diz-se “envergonhado” pelo sentimento de frustração que foi provocado a 30 candidatos à licenciatura de Medicina da U.Porto, tida como a melhor de Portugal, e pediu um “inquérito interno” para que se apurem as responsabilidades de informar com um e-mail oficial os alunos da entrada no curso de Medicina sem “respaldo legal”.
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