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Chairman do IIB Group: “O foco é aumentar a franquia africana. Manifestámos interesse no BCA”

Sohail Sultan, presidente do conselho de administração do iiB Group Holding, esteve em Lisboa no início deste mês, onde deu uma entrevista ao Jornal Económico a propósito dos planos da empresa do Bahrein para Portugal e na qual fala dos motivos que levaram à retirada da proposta de compra do Efisa e BPG em 2021.
18 Setembro 2023, 07h30

O que vos traz a Portugal desta vez?
Portugal interessa-nos muito. Desde 2012-2013, começámos a visitar o país com alguma regularidade. Em 2016, formámos o IIB Group, uma holding com sede no Bahrein para construir um grupo bancário. O nosso interesse em Portugal resultou da estratégia básica que pretendemos prosseguir, a de criar um banco focado nos mercados emergentes. Para nós, os mercados emergentes são a África Oriental, o corredor comercial Etiópia-Djibuti, a África Ocidental, principalmente os países africanos de língua portuguesa, o Médio Oriente, especificamente o GCG [Gulf Cooperation Council – Conselho de Cooperação do Golfo] e o sul da Ásia. Assim, com este objetivo, o que se tornou muito evidente foi que precisávamos de algum nível de conectividade internacional. No nosso plano houve sempre a intenção de tentar estabelecer uma presença bancária regulamentada num dos maiores mercados internacionais regulados e, dados os nossos contextos culturais e antecedentes comerciais, a Europa foi sempre o local de preferência. Dentro da Europa, considerámos que ser regulado pelo Banco Central Europeu [BCE] seria, em última análise, algo bom. Para tal, o acesso através de um dos mercados mais pequenos, com perspetiva internacional histórica, no que diz respeito a comércio e serviços bancários, seria mais fácil do que uma das maiores economias europeias. Acabámos por pensar em Portugal dadas as nossas experiências anteriores de negociação com congéneres comerciais em Portugal. E o interesse foi reforçado pelo facto de os nossos ativos bancários africanos estarem predominantemente focados em países de língua portuguesa.

O que aconteceu com o processo dos bancos que estavam a tentar adquirir, o Efisa e o BPG? Rebobinando na história, o que levou àquele desfecho?
Desde 2016 que estamos à procura de oportunidades de aquisição adequadas e, após um longo período de discussão e negociação, fizemos um acordo inicial para adquirir o Banco Efisa [à Parvalorem] e, pouco depois, o BPG [Banco Português de Gestão à Fundação Oriente] com o intuito de fundir efetivamente as duas instituições caso as aquisições fossem aprovadas. Infelizmente, como normalmente acontece nos negócios, o timing é muito importante e, até certo ponto, determina o teu nível de sorte. Quando chegámos aos acordos, por volta do verão de 2019, e iniciámos o processo regulatório, depois em março de 2020, o mundo mudou bastante e enfrentámos confinamentos por causa da Covid-19. Portanto, o que deveria ter sido um processo de aprovação regulamentar mais curto tornou-se num processo de muito demorado, tendo em contas as complicações que é endereçar questões regulatórias que o Banco de Portugal [BdP] e o BCE tinham colocado. Coisas simples, por exemplo: cópias das nossas licenças bancárias para os bancos regulados que detemos e operamos. No caso das Bahamas, a cópia original da licença bancária estava na posse do Banco Central das Bahamas e não conseguíamos obter uma cópia autenticada da licença porque o banco estava fechado e não abriu até ao final de 2020. Infelizmente, houve pequenos problemas logísticos. O que deveria ter sido um processo de 12-18 meses tornou-se num processo de um ano e meio ou dois anos.

Está a culpar a pandemia?
Foi um fator que criou mais complicações e obstáculos e tornou o processo muito mais complicado. Esse foi um aspeto, mas o segundo foi claramente o panorama comercial. Para nós, uma das relações mais importantes é aquela que mantemos com os reguladores. E, como esta foi a primeira vez que passámos por um processo de aprovação junto do BdP e do BCE, era importante que o fizéssemos passo a passo, de uma forma muito diligente. Parte desse processo exigiu, penso eu, que explicássemos qual era o nosso modelo de negócio ao BdP e ao BCE. O modelo que adotámos foi o que foi adotado após a crise financeira global. Ou seja, o que identificámos depois da crise financeira mundial foi que muitos bancos ocidentais olharam para o risco dos mercados emergentes como inaceitável e começaram a sair dessas áreas. E nós vimos uma oportunidade para uma instituição mais pequena e mais inovadora intervir e preencher o vazio que as maiores instituições bancárias europeias e ocidentais estavam a deixar. Por outro lado, em certa medida, é mais inconsistente com o quadro regulamentar da União Europeia e, especificamente, de Portugal. Explicámos igualmente qual era a estratégia de negócio proposta, nomeadamente se adquiríssemos um banco em Portugal que operasse como parte do grupo. Então, gerou-se uma discussão muito longa e extensa.

Havia abertura por parte dos reguladores durante essas negociações?
Absolutamente. Os reguladores têm de desempenhar várias funções. Uma delas é claramente a de tentar gerir e conter o risco porque, no final das contas, estamos a lidar com fundos públicos, através dos depósitos que acumulamos. A segunda é que têm de tentar encorajar e promover negócios através do sector financeiro. Ora, os mercados onde operamos não são historicamente mercados familiares ao BdP. Entretanto, os contratos de compra e venda do Efisa e do BPG tinham expirado e as discussões ainda estavam em curso. O que se achou com o BdP foi que, provavelmente, seria melhor parar o processo por agora e continuar a conversar e efetivamente olhar para as coisas de uma nova forma.

O que é que o fracasso destas transações significou para a holding que criaram em 2020?
Acho que abrandou as nossas ambições ao nível do crescimento inorgânico. O foco tem sido, desde então, continuar a fazer crescer o negócio e o grupo de forma orgânica. Continuamos abertos a oportunidades de aquisição de outros bancos, nomeadamente em Portugal, mas penso que vamos tentar fazer isso a um ritmo mais comedido e com a confiança dos reguladores à medida que avançamos.

Qual é a estratégia?
Nós temos uma estratégia dupla. Queremos continuar a fazer crescer o grupo organicamente e também inorganicamente através de aquisições. O crescimento orgânico está a ocorrer no âmbito do nosso desenvolvimento e crescimento contínuos nos mercados que cobrimos do ponto de vista bancário (África Ocidental, África Oriental, Caraíbas e Médio Oriente). Inorganicamente, o foco agora é continuar a crescer a nossa franquia africana. E, especificamente, manifestámos interesse em adquirir o Banco Comercial do Atlântico [BCA, em Cabo Verde], que se encontra em processo de venda pela CGD.
Acreditamos que existem enormes oportunidades para construir uma instituição financeira regional focada em facilitar e financiar o comércio regional. Quanto a Cabo Verde e às nossas operações na África Ocidental, a ênfase no futuro será cada vez mais tentar posicionar-nos para capturar, apoiar e gerir muitos desses fluxos transacionais financeiros regionais.

Está otimista para que essa venda [59%] fique concluída ainda este ano ou no início do próximo?
A Caixa Geral de Depósitos é do Estado, pelo que tende a ser uma instituição relativamente influenciada pela política. Há um processo e eles segui-lo-ão. Não creio que o timing seja o mais importante para eles. Continuamos esperançosos de que o processo fique concluído, mas a nossa previsão é que só aconteça no primeiro trimestre do próximo ano, se não no primeiro semestre de 2024, até haver uma conclusão.

E do BNI Europa, estão a par desse processo ou interessados?
Estamos sempre abertos a discussões e continuamos a conversar com diversas partes no que diz respeito a oportunidades no mercado português. Estamos cientes da situação do BNI Europa, bem como de uma série de outras instituições. Continuaremos a ter discussões, nomeadamente com o Banco de Portugal, para garantir que tudo o que fizermos terá, em última análise, o seu apoio. Penso que Portugal tem um sector financeiro muito mais robusto [desde a crise financeira] e houve também um impulso no sentido da consolidação. Embora possam existir cerca de 35-40 licenças bancárias emitidas em Portugal, com bancos a operar, provavelmente 80 a 85% dos ativos bancários estão concentrados nas mãos uns seis bancos. É uma tendência que vemos de forma mais ampla nos mercados financeiros regulados e deverá continuar.

Em relação ao vosso grupo, como é que foi o último ano em termos de resultados financeiros?
O sector bancário continua a atravessar um momento desafiante, mas, enquanto grupo pequeno, continuamos a crescer e razoavelmente bem, sobretudo dadas as complexidades dos mercados onde operamos. Não divulgamos os nossos números publicamente, mas partilhamo-los com os stakeholders, nomeadamente com os reguladores.

Mas houve crescimento?
Houve. No final do ano, fechámos o nosso balanço com pouco mais de meio milhar de milhão de dólares e este ano esperamos melhorar esse valor. A qualidade do crédito continuou a melhorar. Reforço que os mercados onde operamos tendem a ser mercados relativamente complexos, portanto sempre há desafios. Geralmente, somos muito cuidadosos quanto às exposições de crédito que assumimos, mas por vezes existem fatores macro que impactam o nosso negócio. Por exemplo, na África Oriental, só recentemente chegou ao fim a Guerra Civil Etíope, que se prolongou por um período de 18 meses… Os negócios no Leste não foram muito afetados, porque grande parte deles estavam centrados no corredor comercial Djibuti-Etiópia.

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