Poder-se-á dizer que a saison editorial portuguesa arranca no mês de fevereiro, com o Correntes d’Escritas, festival literário que conquistou por mérito próprio um lugar de destaque na agenda cultural lusitana.
A 24ª edição promete manter a fasquia alta, como já habituou o público fiel, e entusiasmar os mais empedernidos, agora que regressa em pleno ao formato original e presencial. No programa figuram 37 sessões de lançamento, entre elas a muito aguardada apresentação do novo livro da autora espanhola Rosa Montero, “O perigo de estar no meu perfeito juízo”. Expetativa é a expressão que se pode associar ao lançamento do novo livro de contos de Juan Gabriel Vásquez, o escritor colombiano de maior reconhecimento internacional da atualidade, que traz à Póvoa do Varzim “Canções para o incêndio”.
O Correntes d’Escritas convocou uma centena de convidados oriundos de 15 países de expressão ibero-americana para uma maratona de eventos que terão como palco o Cine-Teatro Garrett. A maior parte são “reincidentes”, mas também há estreias. Caso do brasileiro Geovani Martins que apresenta no festival o seu primeiro romance, “Via Ápia”, depois de estrear-se no conto com “O sol na cabeça”, publicado em 2019.
As homenagens serão outro dos pontos fortes do Correntes deste ano. A começar por Ana Luísa Amaral e Nélida Piñon, recentemente falecidas. Cada uma das onze mesas do evento recebeu um verso extraído dos livros de Ana Luísa, num tributo à sua obra poética, enquanto a escritora brasileira estará no epicentro da conversa que reúne o jornalista José Carlos Vasconcelos e o escritor António Torres, no último dia do festival.
Luis Sepúlveda, homenageado na edição anterior, também estará em destaque, ou não fosse uma presença habitual, e muito acarinhada, neste certame, no qual fez a sua derradeira aparição pública, há três anos. A morte atraiçoou-o menos de dois anos depois, em Oviedo, Espanha, às mãos da covid. O lançamento de dois títulos inéditos pela Porto Editora – “Mundo Sepúlveda” e “O caçador descuidado: Poesia reunida (1967/2016) estarão no centro desta evocação.
No segundo dia, pela manhã, serão divulgados os vencedores dos prémios literários atribuídos anualmente pelo Correntes d’Escrita, antecedendo a conferência inaugural “Ciência e cultura”, marcada para as 15h00 no anfiteatro municipal, e que será proferida pelo médico Manuel Sobrinho Simões.
Na quinta-feira, 16 de fevereiro, prosseguem as conferências. Logo às 10h00, “E eu preciso das minhas solidões”, dá o tiro de partida, com Ana Paula Tavares, Cristina Morales, Inês Pedrosa, Paulo Moreiras, Santiago Gamboa e Manuel Alberto Valente. No sábado, Teolinda Gersão é a convidada da entrevista em “Conversas Correntes”, conduzida pelo jornalista Luís Caetano.
Mas nem só de conversas se faz o festival nortenho. Também a Arte desagua na Póvoa do Varzim, nas suas diversas disciplinas. Como o cinema, com a exibição de “Campo de sangue”, do realizador João Mário Grilo, baseado no livro homónimo de Dulce M. Cardoso. Exposições, nomeadamente, “Vida e obra”, que integra as comemorações de Agustina Bessa-Luís. Ou ainda cursos vários, como “Dicionário de artistas”, que decorre na sexta-feira e sábado pela batuta de Gonçalo M. Tavares, que propõe “o que se pode pensar e escrever” tendo como ponto de partida a “obra de alguns artistas contemporâneos”.
A sessão de encerramento está prevista para as 17h30 de domingo, durante a qual serão entregues os Prémios Literários Casino da Póvoa; Correntes d’Escritas/Papelaria Locus; Luis Sepúlveda e Fundação Dr. Luís Rainha/Correntes d’Escritas, no Cine-Teatro Garrett.
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