A DBRS fez esta terça-feira uma análise a 38 bancos europeus, em termos de evolução do custo do risco de crédito, que é o rácio entre as dotações para imparidades registadas no período para risco de crédito e o saldo do crédito a clientes bruto. Isto é, as novas imparidades constituídas ao longo dos trimestres para o stock da carteira de crédito. Portanto, dá um retrato de quanto é que a carteira de crédito está a custar na conta de resultados das instituições.
Na análise apenas estão incluídos dois bancos portugueses – o Millennium BCP e a CGD.
O que diz a agência de rating sobre a evolução do custos do risco no que toca aos bancos portugueses?
Em primeiro lugar, diz que, apesar de a banca europeia ter reportado um custo do risco mais baixo no terceiro trimestre, face ao trimestre anterior, Portugal contrariou a tendência de redução do custo do risco no terceiro trimestre que se vê na amostra da DBRS.
Na comparação dos países, põe Portugal como o pior dos 12 países analisados no que toca à evolução do custo do risco de crédito e o único que viu esse custo do risco agravar substancialmente face aos trimestres anteriores.
Os bancos no Reino Unido, Espanha e Portugal continuaram a ter o custo do risco, em média, mais alto nos nove meses de 2020 entre os bancos da amostra (38). Já os bancos nos países nórdicos e na Alemanha tiveram o custo do risco mais baixo, parcialmente refletindo um cenário menos abrupto de contração económica em 2020. Esta pesquisa não inclui bancos na Irlanda, pois os dados não estão disponíveis para o terceiro trimestre, diz a DBRS.
A DBRS estima o custo do risco anualizado para os 38 bancos e o BCP surge em quinto lugar, como o banco europeu da amostra com um custo do risco de crédito mais elevado, o que significa que a mesma carteira de crédito está a gerar mais imparidades. À frente do BCP estão o espanhol BBVA, que lidera com um custo do risco anualizado de 1,85%. Segue-se o britânico Barclays, com 1,68%, depois o espanhol Santander, com 1,40%, o Natwest do Reino Unido é o quarto com 1,18% e em quinto o BCP, com 1,17%. Recorde-se que nas contas do terceiro trimestre o banco liderado por Miguel Maya reportou um custo do risco nos nove meses de 0,89%.
Abaixo do BCP, no ranking da DBRS, surge o ABN Amro com 1,10% de custo do risco.
A Caixa Geral de Depósitos surge em 22º lugar na lista de 38 bancos com o custo do risco mais elevado, comparando bem com os seus pares. A DBRS estima um custo do risco anualizado para o banco liderado por Paulo Macedo de 0,76%. Em setembro a Caixa reportou um custo do risco de 0,29%, e foi o mais baixo dos seis bancos nacionais que apresentaram contas do terceiro trimestre.
O banco com o custo do risco mais baixo, da amostra da DBRS, é o banco alemão especializado em financiamento imobiliário e ao setor público, o Pfandbreifbank com 0,28%, antecedido pelo francês Credit Agricole (0,29%).
Mas a CGD surge também com uma nota negativa na análise da DBRS, já que é o banco que mais agravou o custo do risco do segundo para o terceiro trimestre. Seguida do italiano Banco BPM; do Bankia; do Santander; e do português BCP que surge aqui também em quinto lugar. Antes do BBVA e do Intesa.
Segundo o relatório da DBRS, os bancos europeus relataram níveis significativamente mais baixos de provisões no terceiro trimestre e o custo do risco (CoR) caiu na maioria dos bancos a partir dos níveis muito elevados do primeiro semestre.
“A qualidade dos ativos dos bancos europeus também não sofreu uma deterioração significativa no terceiro trimestre, o que, em nossa opinião, continua a refletir as diferentes moratórias e outras medidas de apoio implementadas por bancos, reguladores e governos para mitigar o impacto económico adverso da pandemia”, diz a agência canadiana. No entanto, adiantam “há uma série de razões que nos levam a acreditar que o baixo nível de custo do risco de crédito e o crédito em incumprimento (NPLs) observado no terceiro trimestre não é sustentável no médio prazo”, afirma a DBRS.
“Com a maioria dos países da Europa a entrar em períodos de semi-lockdown no quarto trimestre, esperamos que os bancos registem provisões adicionais no quarto trimestre, de modo a incorporar um impacto económico mais negativo do que o inicialmente previsto nos seus modelos económicos” e que servem de base à constituição de imparidades.
Além disso, adianta a DBRS, “espera-se que a deterioração dos bancos europeus na qualidade dos ativos seja mais visível a partir do quarto trimestre, conforme os períodos de moratória começam a acabar e as novas moratórias não beneficiam mais do tratamento regulatório preferencial atual, que estava em vigor até ao final de setembro de 2020”, ressalva a agência.
A DBRS espera que o malparado do crédito a empresas acelere à medida que os países europeus continuam a sofrer as consequências económicas da crise Covid-19, incluindo o impacto das PME e empresas que lidam com receitas reduzidas por um período de tempo mais longo do que o inicialmente previsto.
A agência de rating reporta também que, no geral dos bancos, o custo do risco diminuiu no terceiro trimestre, mas que isso é improvável que seja mantido.
O custo do risco (CoR) médio para a amostra de bancos foi de 52 bps (equivale a 0,52%) no terceiro trimestre, significativamente inferior a 92 pontos base (bps) no primeiro semestre de 2020 (calculado pela DBRS Morningstar como provisões anualizadas para perdas com empréstimos como proporção do total de crédito líquido a custo amortizado).
Se a evolução trimestral foi no sentido da redução do custo do risco, para os nove meses de 2020, o CoR médio para a amostra de bancos europeus foi de 79 pontos base (0,79%), o dobro dos 39 bps reportados em 2019.
Mas Portugal contrariou a tendência de redução do custo do risco no terceiro trimestre que se vê na amostra da DBRS, “ao reportar um aumento do custo do risco no terceiro trimestre em comparação com a média no primeiro semestre, embora isso tenha sido em grande parte impulsionado por um banco (dos dois que incluímos na amostra de bancos (BCP)”, explica a DBRS.
Enquanto isso, nos outros países de origem da amostra de 38 bancos o CoR médio caiu sequencialmente no terceiro trimestre e foi muito mais baixo do que o CoR médio mostrado nas contas de junho.
“O menor custo do risco de crédito no terceiro trimestre pode ser explicado pelo fato de que os bancos já terem atualizado os seus modelos de risco de crédito no primeiro semestre e não ter havido necessidade de fazer provisões adicionais significativas no terceiro trimestre, pois os países saíram do bloqueio e as economias reabriram durante o verão. Além disso, os níveis de provisionamento do terceiro trimestre também refletem o impacto marginal da pandemia na qualidade dos ativos dos bancos europeus, uma vez que os níveis de incumprimento continuam a ser mitigados por diferentes medidas de apoio tomadas para atenuar o impacto da contração dos PIB nos balanços dos bancos”, diz a DBRS.
A DBRS avisa no entanto que, com mais restrições económicas no quarto trimestre, “esperamos que os bancos europeus relatem níveis de custo do risco mais elevados do que o terceiro trimestre nos próximos trimestres”
Este comentário enfoca o custo do risco (CoR) e os NPLs (non-performing loans) relatados por uma amostra de 38 bancos na Europa, incluindo bancos na França, Alemanha, Itália, Holanda, Espanha, Suécia, Noruega, Portugal, Dinamarca, Finlândia e Estados Unidos Reino (Reino Unido).
O que diz ainda a DBRS? Diz que os bancos reportaram níveis artificialmente mais baixos de NPLs no terceiro trimestre, mas com probabilidade de aumentar.
No final dos nove meses de 2020, os NPLs agregados eram 1% inferiores aos registados no final do primeiro semestre de 2020, e 7% abaixo do reportado no final de 2019. A redução dos NPLs foi mais visível em Portugal na comparação trimestre a trimestre, enquanto os bancos na Noruega, Alemanha e França reportaram, em média, um ligeiro aumento dos NPLs no final do terceiro trimestre sequencialmente.
“A maioria dos bancos da nossa amostra relatou níveis sequencialmente mais baixos de NPLs, seis bancos tiveram NPLs estáveis e seis bancos relataram aumentos de NPLs que variaram de 10% a 2%, o que vemos no geral como um pequeno aumento. Notamos que, embora a redução dos NPLs tenha sido mais pronunciada em média para a nossa amostra de bancos em Portugal e Itália e Espanha, em menor medida, estes países continuam a manter níveis elevados de NPLs e têm os rácios de NPL mais elevados entre os Bancos Europeus”, diz a DBRS.
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